Dez: Quebrada

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— Ora, Sarah, não é tão difícil, tente mais uma vez — insistiu dona Socorro ao me ver desistindo novamente do crochê.

— Sou péssima fazendo isso, dona Sô. Eu costurava as meias do meu pai, mas ele nunca gostava do resultado — justifiquei já irritada enquanto segurava aquele novelo de lã colorido em mãos.

— Calma, Sarah. Você consegue — Luana tentou me animar.

— Por favor, Lu, vamos trocar de lugar agora? Eu olho os bebês e você e o crochê é todinho seu — brinquei e observei de longe Mabel se esforçando para engatinhar e acompanhar o pequeno Arthur correndo de um lado para o outro.

Graças a Deus, cinco dias foram suficientes para Mabel dar claros sinais de melhoras e também para eu me recuperar daquele encontro turbulento com o idiota do Victor. Eu segui minha vida e até comecei a me empenhar em fazer as atividades em grupo com as meninas, mesmo aquelas as quais eu não gostava, como exercícios ao ar livre e crochê.

— Não vou tolerar desistentes — dona Socorro chamou minha atenção fingindo ser uma professora bem brava e autoritária — Vamos, Sarinha, termine o ponto.

— Mas, por quê? Eu me dou muito melhor pintando panos de prato. Veja lá! — Apontei para o varal onde minha última obra de arte secava e admirei aquele exímio trabalho com os pequenos dedos de minha ovelhinha marcados de brinde.

— Olha só, você aprende a bordar e quando acontecer um bazar na igreja, eles nos deixam vender tudo e o dinheiro fica pra você — Fabi, uma das moças, relembrou. — Consegui decorar meu quarto com as vendas desses cactos de crochê no último evento desses. — Exibiu o quanto era boa naquele passatempo e despertou em mim uma certa vontade de aprender, ou de ganhar meu próprio lucro.

— Tudo bem, me convenceram. — Levantei as mãos sinalizando minha rendição. — Não tenho a intenção de vender nada agora, mas posso tecer umas roupas bem fofinhas pra Mabelzinha. Mostre mais uma vez como faz, dona Sô!

Passo a passo, a senhora me ensinou e embora eu não tenha conseguido de primeira, foi uma vitória, com direito a comemoração quando depois de algumas tentativas eu dei um ponto corretamente.

— Qual o motivo de toda essa euforia aqui? — Amanda perguntou entrando no pátio onde estávamos sentadas.

— Sarah conseguiu dar seu primeiro ponto— Luana contou batendo palmas.

— Parabéns, Sarah — elogiou o Estêvão, o marido de Amanda. Ele trabalhava duro em uma construtora e por isso, só podia visitar o instituto de vez em quando.

— Não foi nada demais. Essas bobas estão exagerando e ... Eu consegui mais um! — gritei alto o bastante para Mabel largar seus brinquedos, olhar para trás e rir  de mim, fazendo todos ao meu redor caírem na gargalhada.

Ficamos conversando durante algum tempo, enquanto eu dividia minha atenção entre aprender o bendito tricô e rir das gracinhas da minha filha e as peraltices do pequeno Arthur. Em determinado tempo, ouvimos o sino da cozinha soando, indicando o início do horário de almoço pondo fim aqueles divertidos momentos.

— Meninas, vamos todas para o almoço. Hoje à tarde teremos uma palestra com a doutora Márcia — avisou Amanda. — Ela vai falar sobre prevenção de algumas doenças femininas. Quero todas vocês lá, tá bom?

— Sim, Amanda — as meninas responderam em uníssono e pareceram animadas. Eu, no entanto estava um pouco perdida, pois desde a minha chegada participei de cultos, devocionais, aulas disso e daquilo, mas uma palestra era novidade.

— Tudo bem, se eu me atrasar um pouco? Hoje é meu dia de limpar a cozinha — perguntei para Amanda quando já estávamos seguindo para a sala de refeições.

Ensina-me amarWhere stories live. Discover now