Nascimento e quase morte de um sonho

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Voltei para a sala de aula com o Sr. King me olhando feio e imaginei que ele não me deixaria entrar, mas de nada adiantou, pois assim que me sentei ele anunciou o intervalo.

Dez minutos de intervalo e depois a bateria de duas horas seguidas sobre constituição. Empolgante.

Irritada por voltar para a sala e já ter que sair, esperei até que a maioria dos alunos saíssem para então segui-los. Fui em direção a área externa do prédio, onde geralmente os alunos ficam conversando e esperando o tempo passar, e quase desisti de sair e voltei para a sala, mas o psicopata de minutos atrás estava lá parado me encarando.

Não me intimidei e fiquei olhando de volta. Vi uma de suas sobrancelhas escuras arquear e um sorriso torto brotou em seu rosto. Fiquei parada e ele andou lentamente até mim.

— Oi de novo. — ele disse ainda com o sorriso de maluco na cara.

Bufei e arqueei as sobrancelhas tentando fazer minha melhor cara de mal humorada.

— Oi de novo por quê? Você nem falou oi, já chegou se intrometendo na minha conversa.

— Como você é delicada. Será que ainda vou me surpreender?

— De que buraco negro você surgiu? Caiu de paraquedas na minha vida para me infernizar? — esbravejei e percebi que o prédio e a área externa estavam vazios, os alunos provavelmente estavam comendo e fazendo o que faziam nos intervalos. E o que eu deveria fazer.

— Eu caí de paraquedas na sua vida para te salvar e você ainda vai me agradecer. Vai me ouvir ou vai falar sem parar como uma matraca? — vi seus olhos castanhos e pequenos por trás dos óculos cerrarem de propósito.

Pela cara dele e pelas roupas básicas, mas com jeito de caras, devia ser um filhinho de papai tentando me fazer perder meu precioso tempo.

— E quem foi que disse que eu quero falar com você? — respirei fundo e fiquei parada esperando o momento em que ele sumiria da minha frente, mas ele apenas trocou o peso do corpo para a outra perna e me encarou.

— Mas eu quero falar com você e sei que será muito interessante para você me ouvir. — ele olhou em volta como se procurasse alguém e voltou-se para mim. Nesses poucos segundos pensei se valeria a pena falar com esse louco. — E então, vai me ouvir?

Pensei por poucos segundos e me lembrei de quando ele mencionou o dinheiro. Mas eu não poderia contar com isso, eu nem o conheci. Por que ele queria tratar de um assunto que envolvia dez mil dólares?

Eram dez mil dólares!

— Se eu aceitar conversar, você jura que depois some da minha vida? — falei desconfiada do que poderia acontecer.

O maluco inesperadamente abriu um sorriso enorme exibindo seus dentes brancos e perfeitamente alinhados e então respondeu:

— Sim, eu juro. Mas tenho certeza de que vamos conversar outras vezes, você vai aceitar. — ele sorriu de novo e eu percebi um tom claro em seus olhos diante da luz, avelã talvez.

— Olha aqui, eu tenho que voltar para a aula. Por enquanto chega de maluquice. — falei afastando-me e seu sorriso foi desaparecendo aos poucos.

— Certo, mas quando a gente pode se falar? — ele parecia ansioso demais, aquilo só ficava pior.

— Quando eu sair da aula, daqui duas horas. — eu menti, ficaria escondida vendo se ele me esperaria por meia hora a mais, mas tentaria fugir desse encontro maluco de qualquer jeito.

— Tudo bem. Você pode ir até o Washington?

Era o parque perto dali, e até que não era má ideia, era um lugar movimentado, e se ele fosse um serial killer que me cortaria em pedaços e colocaria meus restos mortais numa mala e depois me fazer virar notícia mundial, não me chamaria para uma conversa num parque cheio de gente.

O AcordoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora