Poslúdio

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Aquela entrevista sequer parecia com um trabalho para Jack Silverstone, era como uma conversa entre amigos. O jeito com que Samantha dividia sua vida com ele de um jeito tão naturalmente informal era especial, nenhum outra celebridade havia chegado a esse ponto.

Ela estava de pernas cruzadas no grande sofá cinza, enquanto ele estava na outra ponta, sentado confortavelmente na sua pose de todos os outros episódios. Jack havia ficado popular com os anos, seu talk-show "Uma noite com Jack Silverstone" passou a ter episódios especiais onde celebridades contavam histórias que normalmente não contavam em outros programas. Ele tinha uma abordagem diferente com as pessoas e sentia que havia acertado em cheio ao fechar a entrevista com Samantha.

Agora mãe de um menino de dois anos de idade, ela estava prestes a voltar aos palcos divulgando seu novo álbum, além de cantar seus antigos hits. Jack estava impressionado com a sinceridade nos olhos azuis da mulher, que, para ele, possuía uma aura incrivelmente jovem mesmo depois de tudo o que havia passado. O sucesso instantâneo, os álbuns em sequência, turnês mundiais, campanhas publicitárias, aparições em programas de tevê, até seu colapso emocional e o divórcio que abalou a indústria musical.

A verdade era que todo mundo um dia temeu que o pior acontecesse à Samantha.

Jack queria começar a preparar o terreno para fazer perguntas sobre essa época, mas ela estava ocupada contando sobre seus tempos de faculdade e de quando conheceu Steven. Tudo isso com um enorme sorriso no rosto o tempo todo.

- É fantástico pensar que vocês todos se conheceram na faculdade. Você, Steven e Brad Johansson. Na verdade é um pouco inacreditável, Nova York é pequena. - Jack riu com Samantha e ela assentiu.

- Hoje é engraçado pensar que essa cidade é pequena, mas eu morria de medo dela.

- Morria de medo? Como?

- Pensar em cantar no NY Talent, por exemplo, foi meu maior medo por um bom tempo. - Samantha vestia uma calça jeans skinny, uma camiseta larga de paetê prateado e o cabelo preso num rabo de cavalo no topo da cabeça. Glamour simples.

- E deixe-me adivinhar: Steven Larsen te ajudou nisso.

Ela soltou um risinho tímido.

- Sim. Steve me encorajava o tempo todo, sempre foi assim.

- Você já mencionou em algumas entrevistas e até em algumas das suas canções o quanto ele é importante na sua vida, principalmente na sua carreira. Como foi estar separada dele e distante dos palcos?

A expressão no rosto de Samantha mudou, o sorriso desapareceu e o olhar se perdeu um pouco. Ela apoiou o braço no encosto do sofá, sentando-se completamente de frente para o entrevistador, que ansiava por sua resposta. Ninguém se pronunciou sobre a volta dos dois, nem sobre o filho que tiveram dois anos antes, então ser o primeiro a ter a resposta e divulgá-la para o resto do mundo era precioso demais.

- Acho que o pior momento da minha vida. Fiquei longe dos palcos e do estúdio por um bom tempo, mas consegui usar minha dor e escrever. E então quando me senti preparada, entrei num estúdio e gravei tudo o que sentia. - sua voz ficou mais grave do que rouca conforme detalhava o assunto. Falar publicamente sobre aquilo era difícil, mas ela se sentia preparada para dividir com as pessoas sobre aquele doloroso pedaço da sua vida. - E então eu tinha um álbum, mas não sentia qualquer segurança para lançar, muito menos para cantar qualquer uma daquelas canções ao vivo, para um plateia. Imagina só, eu num palco, cantando uma música que fazia meu coração doer de um jeito tão profundo? Era impossível.

- E como conseguiu passar por cima de tudo isso? Você não só lançou o álbum como bateu recordes antigos que havia conseguido quando ainda estava com a LS Records. E vamos lembrar daquela apresentação lindíssima no AMA's. Qualquer um que estava comigo naquela noite pode confirmar que você me deixou com lágrimas nos olhos. - Jack riu e arrancou um pequeno sorriso de Samantha.

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