O tempo é precioso

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Meu coração batia rápido e pesado. As rápidas palavras de Jack ainda ecoavam em minha cabeça: "Nosso pai está no hospital e os médicos não estão nada otimistas. Venha o mais rápido que puder. Acho que essa é a última chance." E antes de desligar completou: "Seu último desejo é te ouvir cantar, Sam."

Não podia ser. Meu pai estava morrendo e eu estava a quilômetros dele. Que droga, como eu ia chegar até lá? Como chegaria a tempo?

Minhas lágrimas rolavam por meu rosto e molhavam a camiseta de Steve. Ele me abraçou de novo enquanto eu tentava falar e convencê-lo a ir embora de uma vez, mas ele não ia.

- Sempre temos que acreditar no melhor, Samantha. - ele afastou meu cabelo que grudava no rosto.

- Não, ele está doente há mais de um ano. - mais lágrimas e soluços.

Minha cabeça doía e eu tinha que pensar rápido. Pegar documentos e algum dinheiro e embarcar no primeiro voo para Mullins. Respirei fundo e, mesmo sem conseguir parar de chorar, andei até o guarda-roupa para procurar por uma bolsa que pudesse jogar as coisas de mais necessidade dentro dela.

- O que vai fazer agora? - perguntou Steve.

- Eu preciso ir até lá.

Ele permaneceu quieto e sentado na cama me assistindo desesperada pegando tudo de importante que eu conseguia lembrar. Eu precisava chegar a minha cidade o mais rápido possível, não podia me atrasar ou não veria meu pai. Eu simplesmente não conseguia pensar na possibilidade de chegar tarde demais.

Isso não podia acontecer.

Joguei meus documentos, carteira, um casaco e o celular dentro da primeira mochila que encontrei e coloquei nas costas, tudo em poucos minutos. Virei-me para Steve e ele estava do mesmo jeito, mas ficou de pé e dirigiu-se até a porta com rapidez.

Não havia nada a ser dito, eu só precisava sair de Nova York o mais rápido possível. Eu só queria chegar a Mullins e ver meu pai.

Respirei fundo mais uma vez, agora com as lágrimas mais ou menos controladas e saí depois de Steve. Fui andando rapidamente até avistar um ponto de táxi. Até então não havia percebido que ele continuava andando atrás de mim.

- Steve, é sério, pode ir embora. Eu vou ficar bem, se é nisso que está pensando. - eu tinha medo de olhar para ele e chorar de novo. Seus olhos mostravam preocupação comigo.

- Eu vou com você. - ele deu de ombros.

- O quê? Não. Não mesmo. Vá embora logo, esse não é o momento de me contestar, Steve, por favor.

- Não quero contestar. Eu vou com você. Não vou te deixar sozinha, Samantha. Não adianta tentar me fazer mudar de ideia.

Quando eu estava prestes a falar de novo, ele se virou sinalizando para o táxi e o carro parou à nossa frente. Ele abriu a porta e ficou me esperando entrar. Não tinha tempo para pensar em discutir com Steve, mas eu teria que falar com ele de novo para me deixar sozinha.

E foi ele quem falou para o taxista que iríamos para o aeroporto, o modo automático com que ele agia me fazia pensar que estava realmente decidido a ir comigo até minha cidade. No entanto, eu não conseguia achar forças para pensar nisso e tentar mandá-lo ir embora de novo. Meu pensamento estava apenas em meu pai e em chegar a tempo. As palavras de Jack também não saíam da minha cabeça e saber que o último desejo dele era me ouvir cantar faziam meus olhos encherem de lágrimas de novo e minha garganta fechar com um nó. Eu não queria desabar ali, sentada no banco de trás do táxi ao lado de Steve. Era muito difícil segurar minhas emoções naquele momento.

O AcordoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora