Lar doce lar

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Steven


O retorno foi silencioso, Natalie estava entretida com qualquer coisa em seu celular e eu tentava pensar em algo decente para dizer enquanto olhava sem interesse pela janela do táxi. Eu tinha sérias dificuldades em aceitar que o encontro havia sido um fiasco, um tédio total. Como a garota mais linda que eu havia conhecido podia ser tão entediante?

Não, havia algo de errado e devia ser comigo.

Depois de pagar a corrida, notei que Natalie hesitava entre sair em direção ao prédio de sua fraternidade ou me esperar. Acelerei o passo e me aproximei.

- Foi divertido, não foi? - perguntei temendo a resposta.

- É claro que foi. Mas preciso dizer que não esperava que fosse.

O som de seus sapatos de salto ecoava pelos arredores vazios dos prédios de alunos. O vento que vinha a leste do campus trazia seu perfume doce e me enchia dele. Seus cabelos dourados voavam como num movimento ensaiado e eu quis entrelaçar meus dedos por eles, mas Natalie disse algo que me tirou de meus devaneios.

- Achei que seria como todos os outros e me encheria de elogios e logo tentaria me levar para a cama. - ela sorriu e me olhou, e de repente me fez rir de nervoso.

Aquela não era exatamente minha intenção, mas eu não podia dizer que estava completamente errada.

- Isso é bom? - perguntei quando paramos diante dos pequenos degraus que davam na porta da GPU.

Natalie ajeitou o cabelo e sorriu mais uma vez, quase me fazendo esquecer do tédio que foi o encontro. Talvez eu pudesse mudar isso no último minuto. Eu só precisava de algo que a fizesse responder com um sinal para que eu pudesse avançar, e quem sabe eu teria mais um beijo para guardar comigo como o da noite de Halloween.

- Sim, é bom. - Natalie me fitou por alguns segundos e eu congelei. De repente, todos os conselhos extremamente úteis que Samantha me deu sumiram da minha memória e foram direto para uma espécie de limbo escondido em meu cérebro. O que eu podia fazer para que ela me desse um sinal qualquer?

- Então...

- Boa noite, Steven.

E então ela me beijou na bochecha e subiu os degraus e, antes de fechar a porta lentamente, me olhou mais uma vez enquanto sorria possivelmente da minha cara de idiota.

Depois de alguns segundos me odiando por ser tão imbecil, resolvi que era hora de ir embora. Fiquei o caminho inteiro pensando em tudo que havia acontecido, desde encontrá-la extremamente empolgado e depois afundar no poço do tédio e então ter uma fagulha de esperança que foi massacrada por minha enorme capacidade de ser lerdo.

Eu só queria poder pular para a parte em que planejava algo para um possível próximo encontro, mas agora só conseguia me culpar por ter deixado a noite terminar de uma forma tão tediosa quanto o encontro de hoje.

Não encontrei ninguém ao chegar em casa, como sempre. Subi as escadas que sempre me pareciam intermináveis e pensei que seria interessante ter um apartamento e não ser obrigado a subir todos esses degraus todos os dias. Eu cruzava o corredor, indo em direção ao meu quarto, quando ouvi a voz do meu pai de dentro do escritório que eu havia acabado de passar em frente.

Voltei de costas em poucos passos e parei na porta.

- Chamou? - eu preferia ter me enganado.

- Sim, entre e feche a porta. - ele estava sentado atrás da mesa, como sempre. Parecia um chefe chamando o empregado para sua última conversa, a demissão do pobre coitado.

O AcordoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora