Steven, o fã

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Eu fervia de raiva. Como pude ser tão idiota? Como pude demorar tanto para contar toda a verdade? Agora ela me odiava e eu não tinha o que fazer, pois se tinha uma coisa que Samantha era, isso, com certeza, era cabeça-dura. Até tentei ir ao seu alojamento, mas meu pai teve a ideia primeiro. Ele inclusive me impediu de ir, disse que tudo se resolveria, mas que agora precisava agilizar as coisas e que teria uma conversa sincera com Samantha sobre a gravadora e o contrato.

Apesar da raiva, eu estava louco para que ele voltasse. Queria ver sua cara de derrota. Parte de mim odiava tudo aquilo, mas eu jamais poderia desejar que Samantha não fosse estupidamente talentosa como era só para dar razão ao meu egoísmo e não tê-la como pauta na discussão sobre o novo rosto da LS Records.

Eu estava sentado nos últimos degraus da escada quando ele chegou, visivelmente esgotado. Meu pai me viu e ficou olhando para mim balançando a cabeça negativamente. Eu já esperava.

- E então? - perguntei.

- Ela me chamou de empresário sanguessuga.

Eu teria gargalhado se não estivesse tão furioso comigo mesmo. Falar aquilo era a cara dela, sempre destemida e sincera.

- Sou obrigado a concordar.

- Não vamos por esse caminho de novo, filho. A indústria nos sustenta desde sempre, não há como se rebelar contra ela. - algo em sua voz me dava certeza de que não estava falando sério.

- Eu sei, mas o meu pai é a indústria e a minha namorada é o alvo. Bem, nem sei se ela se considera mais minha namorada.

Meu pai se sentou ao meu lado, um degrau abaixo, e apoiou a mão sobre meu joelho.

- Eu sinto muito, filho. Tentei mencionar seu nome na conversa, mas ela foi irredutível. Falou algo sobre um artigo e então me expulsou.

Franzi o cenho. Artigo?

- Deixei meu cartão com ela. - ele prosseguiu. - E agora vou torcer para que você tenha se enganado e ela não seja tão cabeça-dura como disse.

Vi meu pai se levantar e subir as escadas, porém me virei antes que ele desaparecesse e disse:

- Eu vou consertar tudo, pai. - ele se virou para mim e abriu um sorriso amarelo.

- Boa sorte, filho.

Eu sabia o quanto precisava sair e falar com ela. Aquilo começava a me sufocar e ainda nem fazia vinte e quatro horas do acontecido. Liguei para ela três vezes seguidas, mas nem chegou a chamar. Eu sabia que não precisava me preocupar, que era só ela me ignorando como deveria fazer. Porém eu não aguentava mais ficar andando de um lado para o outro, pensando um milhão de coisas por minuto, em qual seria a melhor maneira de fazê-la falar comigo e em como aquilo tudo me fazia mal.

Saí correndo de casa. Ouvi Carmen dizer alguma coisa quando abri a porta, mas eu era incapaz de entender suas palavras, só conseguia pensar em sair dali e falar com Samantha. Mesmo que ela não quisesse falar comigo, eu tentaria minha melhor chance de fazê-la escutar.

Antes que pudesse me lembrar da última vez que pilotei uma moto, me dei conta que estava sobre uma de novo. Cheguei ao campus em menos de trinta minutos. Meu coração estava acelerado desde que saí de casa, eu estava ansioso e inquieto. Estacionei próximo ao lugar onde os estudantes estacionavam suas bicicletas. Claro que alguém chegaria em breve e me obrigaria a tirar a moto dali, mas eu não tinha tempo para pensar nisso. A urgência que eu sentia em falar tudo à Samantha me consumia como fogo, era insuportável.

Comecei a andar em direção ao pequeno complexo de prédios que formavam o alojamento feminino, contudo, mal cheguei perto do primeiro prédio e parei. Eu simplesmente travei. E a cena que me fez parar foi Brad com um dos braços apertado na cintura de Samantha enquanto com a outra mão acariciava seu cabelo. Ela tinha o rosto afundado em peito, onde eu não conseguia vê-la, e ele parecia consolá-la.

O AcordoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora