Orgulho

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Ouvi-o fechar a porta devagar e com uma calma irritante. Tentei fazer com que fosse embora, mas ele permaneceu à frente da minha porta, então passei esbarrando nele e ele entrou.

Eu odiava que parte de mim queria ter aquela conversa e ouvir que proposta ele tinha a fazer em nome da gravadora. Porém era só o que eu tinha curiosidade em ouvir. Se ousasse dizer o nome dele, eu estaria pronta para expulsá-lo dali a pontapés.

— Samantha, eu...

— É bom que seja rápido, preciso estudar e não vou desperdiçar meu tempo ouvindo mais mentiras de vocês, Adams. Quer dizer, Larsen Smith. É isso, não é?

Eu tinha completa noção de como estava ameaçadora, minhas mãos repousavam na cintura, meus ombros estavam quase doloridos de tanto que eu forçava a postura ereta e, claro, meus olhos estavam mais do que focados em encarar o olhar cinzento do presidente da gravadora que queria me contratar.

O pai do meu namorado.

Droga, ex-namorado?

— Serei breve se me ajudar. Ouvi que pode ter um temperamento e tanto. — ele sorriu de canto.

Revirei os olhos e me joguei sentada na ponta da cama de Wendy, a mais afastada.

— É, eu posso sim. — cruzei os braços e continuei encarando.

Ele respirou fundo e relaxou os ombros, acho que não esperava que eu fosse tão diferente da garota que ficou deslumbrada com as obras de arte de sua coleção. Isso foi antes de eu saber de tudo.

— Samantha, não cheguei a conversar com você sobre o NY Talent, mas deveríamos ter tido uma reunião no dia da sua vitória. Eu não estava na cidade naquele dia, como você bem sabe, mas eu não preciso de muito tempo para ter a certeza de que trabalhar com você será a melhor coisa que acontecerá a nós da LS Records. E sei também que será muito bom para você trabalhar conosco.

— E por que eu deveria aceitar qualquer coisa vindo de vocês, que mentiram para mim, quando tenho outras duas gravadoras tentando contato?

Seu rosto perdeu a cor quando falei isso, ele até afrouxou o nó da gravata e respirou fundo. É claro que aquilo era mentira, eu não tinha recebido ligação alguma de outras gravadoras, mas não posso negar que foi divertido brincar com a cara dele daquele jeito.

— Já nos conhecemos, essa é uma grande vantagem. Você não será enganada como a maioria dos magnatas da indústria fazem com novos artistas.

— Não serei enganada porque já nos conhecemos, mas se eu fosse uma desconhecida qualquer vocês, com certeza, tentariam me passar a perna, não é?

Ele afrouxou o nó da gravata mais uma vez. Eu queria fazê-lo se sentir ainda pior. Mas também queria que aquilo fosse fácil. Passei várias noites pensando no dia em que teria a conversa com o representante da gravadora e lá estava eu, sob o mesmo teto bagunçado que o próprio presidente da gravadora.

E que só estava ali porque já me conhecia. Eu odiava aquele tratamento especial. Mas odiava odiar tudo isso, eu só queria cantar e ser feliz cantando.

— Não, não tentaríamos, eu juro. Sempre organizamos um evento para a oficialização da união entre o artista e a gravadora, nos últimos anos acontece um pequeno show ao final do leilão anual que organizo e é lá que todo mundo te vê pela primeira vez como artista em potencial. Posso te dar o contato dos outros vencedores do NY Talent e eles te dirão se os enganamos ou não.

Fiquei calada.

Cantar era um sonho, eu estava até planejando estudar música, então por que me negava a aceitar aquela chance? Por que a mágoa que eu sentia de Steve tentava me impedir de seguir o meu caminho de ser feliz?

O AcordoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora