Tchau, Mullins

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Depois de acordar, fiquei deitada encarando o teto por alguns segundos antes de lembrar que Steve estava deitado no chão até agora. Virei-me até olhar para o lado da cama, mas ele não estava mais lá. Enquanto criava coragem para levantar e encarar mais um dia, ouvi batidas na porta e Jack entrando em seguida.

— Bom dia. — ele veio devagar e se sentou na beira da cama.

— Bom dia. Está indo ou vindo? — apontei seu uniforme.

Ainda não entendia como podia trabalhar agora. 

— Vindo. Deram-me dois dias em casa mesmo que eu insistisse em ir. — ele suspirou cansado e passou a mão pelo cabelo curto e bagunçado, diferente do comportado e impecável com gel que usava sempre, o que o fazia parecer um homem antigo. — Dormiu bem?

— É, acho que sim. — espreguicei-me e sentei na cama. Meu cabelo caiu nas costas, mas eu podia sentir os nós e o ninho de passarinho que devia parecer, ainda mais quando Jack sorriu ao notá-lo. — Você viu Steve?

— Seu amigo? Não. A mãe o viu bem cedo e disse que ele voltou para Nova York. Ele não te avisou?

— Não. Será que aconteceu alguma coisa? — esfreguei os olhos e fiz menção de sair da cama e Jack ficou de pé.

— Bom, estamos sozinhos e eu estava pensando em preparar o café, mas quis vir aqui ver se estava acordada.

Jack estava diferente, mas eu ainda não sabia o porquê.

— Desço em alguns minutos. Espere por mim. — vi-o assentir e sair do quarto.

Achei meu celular sobre minha velha mesa de cabeceira e o peguei. Ainda eram apenas nove da manhã, mas não me importei com o horário, logo busquei o nome de Steve na agenda e liguei. Foi direto para a caixa de mensagens e, preocupada com algo que pudesse ter acontecido, deixei uma:

— Steve, é a Samantha. Acabei de acordar e meu irmão disse que você foi embora. Aconteceu alguma coisa séria? Se sim... — droga. Respirei fundo me lembrando da nossa conversa na noite anterior. — Oh... acho que já sei que não aconteceu nada, hoje é seu encontro com a Natalie. E eu me esqueci. Sou uma péssima guru, não? Bom, esqueça essa mensagem, ok? E pra mensagem não ser completamente inútil, minha dica para hoje é que você seja você. Seja inteiramente Steven Adams, sem tirar nem pôr, e depois me conte. E não me ligue de volta, confie na minha dica. — respirei fundo de novo e aquela mensagem estava ficando gigantesca. — Obrigada por tudo e boa sorte. Faça todo o estresse que passei com você valer a pena.

Desliguei o celular, me espreguicei mais uma vez e fiquei de pé. Pensei em tomar um banho daqueles que lavam a alma, mas o conforto do pijama não deixou. Vi uma touca velha jogada na poltrona perto da janela e coloquei na cabeça, e em seguida desci para a cozinha. Jack me esperava encostado na pia com os braços cruzados.

— E então, o que vamos comer? — perguntei assim que me sentei na cadeira e apoiei os braços na mesa de madeira antiga.

— Você bem que podia fazer aquelas panquecas incríveis que só você consegue. Sobreviver a meses sem elas foi bem difícil. — ele sorriu.

Eu sinceramente não tinha ânimo para panquecas, mas algo naquele momento a sós com meu irmão, que também passou por poucas e boas, me fez sentir uma fagulha de força e esperança e eu fiquei de pé mais uma vez e indiquei a cadeira para que ele trocasse de lugar comigo. Nem tinha certeza se ainda lembrava a receita, mas tentaria.

— E a mãe? Onde ela foi? — perguntei enquanto procurava pela farinha de trigo no armário sobre a pia.

— Não sei, eu a vi quando já estava saindo. Não me disse aonde ia, só falou sobre o seu amigo. Aliás, ele é mesmo seu amigo?

O AcordoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora