O certinho

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- Seus olhos são tão azuis. É impressionante. - Steve estava com a cabeça deitada em meu colo e não parava de falar.

- É, eles são azuis, eu sei.

Fazia cerca de dez minutos que estávamos dentro do táxi e ele não havia ficado um minuto sequer em silêncio. O taxista bufava de vez em quando, mas eu o ignorava.

- Para onde estamos indo?

- Para sua casa. - dessa vez fui eu quem bufou de impaciência.

Steve pareceu não ouvir, e na verdade, ele estava mais concentrado em enrolar uma pequena mecha do meu cabelo nos dedos. Era ridículo, ele estava jogado no banco de trás do carro, com a cabeça em meu colo e brincando com o meu cabelo enquanto falava coisas que não tinham sentido algum.

- Quando vai parar com isso? - olhei-o o mais séria que pude e então apontei seu dedo enrolando meu cabelo.

- Te incomoda? - Steve começou a gargalhar da careta que fiz tentando me mostrar o mais brava possível para que ele parasse antes que meu cabelo se enchesse de nós. - Claro que não, você está rindo.

- Estou rindo de você, porque é um idiota quando bêbado. - ele continuou rindo e eu o forcei a se levantar.

- Você é tão grossa, Samantha. - ele parou de rir, mas voltou a enrolar meu cabelo.

- Serei simpática quando disser o endereço ao taxista.

- Simpática? Você? - sua gargalhada infantil quase me fez rir junto.

- Ele está dirigindo faz dez minutos. Por que não diz logo o endereço?

- Como você é chata. - ele jogou a mecha desgrenhada do meu cabelo em meu rosto e se apoiou no banco da frente, finalmente dizendo o endereço ao taxista e então voltou-se para mim. - Satisfeita?

- Não.

- Não? Mas o que mais a princesa deseja?

A cara de deboche e a gargalhada logo em seguida já eram uma espécie de marca registrada dele àquela altura.

- Só estarei satisfeita quando você estiver em casa e eu estiver longe de você.

- Estou magoado. - vi-o se fingir de triste e logo rir mais uma vez. E pegajoso como nunca, abraçou meus ombros e beijou meu rosto e tentou beijar de novo quando fiz careta e tentei me afastar. Ele tinha vomitado nos meus sapatos há menos de uma hora, aquilo era nojento.

Quando os casarões apareceram, minutos depois, percebi que havíamos chegado a Long Island, finalmente. Antes que Steve adormecesse em meu ombro, dei-lhe um cutucão que o despertou de uma vez e ele logo identificou a casa.

- Ali! Aquela casa cor de areia, enorme e cheia de janelas. - ele apontou e apoiou o cotovelo em uma das minhas pernas, o que certamente doeu. - Desculpe, princesa.

O sorrisinho que fazia seus olhos se fecharem estava ali de novo quase me arrancando uma risada. Apesar de tudo, eu ainda queria saber o motivo pelo qual ele havia bebido até chegar àquele estado. Mais um pouco de paciência e talvez eu descobrisse.

O taxista cobrou a viagem e eu vi Steve tirar várias notas amassadas da carteira, mas peguei tudo e conferi o valor, que era mais que o dobro do que lhe foi cobrado. Saí do carro primeiro e achei que ele faria o mesmo em seguida, mas tive que puxá-lo para fora e quase caímos na calçada quando não consegui segurar seu peso. Aquilo era tão inesperado e absurdo que finalmente me fez rir da situação toda.

O AcordoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora