O privilegiado

4.1K 293 132
                                    



O caminho até minha casa seria longo demais para um dia sem moto, e eu nem queria voltar. Andei por alguns minutos no frio e cheguei ao alojamento em poucos minutos, o lugar que eu supostamente dividia com Josh, mas que mal frequentava. A luz do corredor estava fraca e o lugar tinha um aspecto desleixado, não demorei sequer um minuto para passar pela porta.

Encontrei Josh sobre a cama, sentado de olhos fechados, meditando. Se Samantha tinha uma colega de quarto maluca, eu também tinha um. E olha só, eles eram quase um casal.

- Josh?

- E aí, cara? - ele abriu os olhos e me recebeu com um sorriso de surpresa.

- Atrapalho? - joguei as roupas que ainda estava segurando ao pé da cama impecavelmente arrumada e me joguei nela em seguida.

- Não. Wendy atrapalha meus pensamentos.

- Eu estava com ela há alguns minutos, no dormitório. - Josh virou o rosto para me olhar e um dread caiu sobre um de seus olhos. - Eu estava com a Samantha e ela chegou chorando. Era por sua causa.

Conversar sobre um assunto alheio me fazia esquecer um pouco do atrito com meu pai. O peso daquela discussão era tão pesado que me dava a sensação de ser eterno. E só fazia algumas horas.

- Por minha causa? - ele soou desesperado e um tanto cômico, seu jeito devagar de falar deixava algumas coisas engraçadas.

- É. Mas não acho que devo te contar sobre isso, talvez as coisas se resolvam em breve.

- Ah, Steven, como assim? Por favor, me conte essa história direito.

- Quem sabe amanhã. - tirei os tênis com os pés e os chacoalhei até caírem no chão. Joguei o travesseiro ao lado da cama, também no chão, e deitei com as mãos atrás da cabeça. Eu queria estar morrendo de sono.

- Será que ela ainda está lá? Vou falar com ela. - Josh falou e o vi levantar com pressa.

- Josh, relaxe, em breve tudo vai se resolver. Confie em mim. Pelo menos para você as coisas vão se resolver. - respirei fundo.

- Que papo é esse? - ele voltou a ficar sentado e alguns segundos depois jogou-se para trás e deitou.

- Papo pesado demais para essa hora. Vou ficar por aqui hoje.

- Certo. Eu não vou conseguir dormir, então acho que vou revisar meu trabalho. Aliás, você já fez o seu?

Argh, o trabalho que comecei a escrever sobre a história de vida da Samantha.

- Só comecei, mas vejo isso depois. Boa sorte com o seu. - fechei os olhos na tentativa de conseguir dormir, mas podia apostar que ficaria ali de olhos fechados, com os pensamentos desenfreados até o dia raiar enquanto esperava o momento de querer voltar para casa.

...

...

Não consegui dormir praticamente nada, mas não me lembro de ver Josh sair então provavelmente dormi o mínimo possível. Acordei querendo desesperadamente saber qual seria meu próximo passo depois de voltar para casa. Meu pai estaria lá? Ele tentaria conversar comigo? Eu tentaria me desculpar por tudo o que falei? Droga. Pelo menos eu e Samantha estávamos bem de novo, me sentiria muito pior se além da briga com meu pai eu ainda estivesse brigado com ela.

O sol da manhã quase me cegava e eu mal pude checar as horas no celular, mas notei uma nova mensagem e era Samantha perguntando se eu estava melhor. Talvez eu devesse responder pessoalmente. Voltei ao dormitório e roubei um par de óculos escuros de Josh e saí no mesmo minuto que ela me atendeu:

O AcordoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora