Prelúdio

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Ser uma pessoa pública era complicado, era possível sentir o direito de ter sua privacidade respeitada e não ter que dar qualquer tipo de explicação para ninguém, porém, ao mesmo tempo, Samantha se sentia estranha se não explicasse por que tomava certas decisões em sua vida pessoal.

Ela estava de férias há dois meses, porém as coisas começaram a acontecer muito tempo antes. Sua última turnê, a mais lucrativa de todas, começou pela Europa, passando pela Ásia, pela Oceania, seguindo pela América Latina e então finalizando na parte norte do maior dos continentes. Quando fez seu show em Nova York, um show duplo, com todos os ingressos para o espetáculo no Madison Square Garden esgotados, ela foi presenteada com o convite que se tornou, talvez, o maior marco da sua carreira.

Depois do show, já em seu camarim, descansando por poucos minutos antes de ir embora para sua casa, Jack entrou como um louco, esbaforido. Ele tinha a notícia na ponta da língua e precisou de um tapa da irmã para finalmente falar. Samantha havia sido convidada a cantar num tributo a Janis Joplin no Grammy Awards, no que seria o 75º aniversário da cantora.

Ela travou imediatamente pensando em todas as chances de errar e ser crucificada pelo público em geral e no mesmo segundo pensou em como sentia falta da súbita confiança que crescia nela apenas com um olhar de Steven, seu agora ex-marido.

- Meu Deus, Samantha, você é uma estrela. - Jack tinha lágrimas nos olhos quando a abraçou apertado, lhe dando parabéns pela oportunidade.

- Isso está realmente acontecendo?

Ele fez que sim com a cabeça e os dois continuaram abraçados por vários minutos, chorando juntos como quando eram crianças. Porém choravam com as broncas que levavam da mãe. Sylvia, por sua vez, estava em Los Angeles, em casa, esperando pela filha. Ela simplesmente surtou ao saber do convite que Samantha recebera e foi a mais empolgada dos Walker.

A apresentação aconteceria em oito semanas, o que dava a Samantha tempo para decidir os preparativos e ensaiar. Ela cantaria um dos maiores clássicos da carreira de Janis, Cry Baby, coincidentemente ou não, sua música preferida dela.

Depois daquela turnê, intitulada The River, uma variação do álbum With The River, Samantha queria férias por tempo indeterminado. Dinheiro já não era mais uma questão e agora ela até estrelava a lista de cantoras mais lucrativas dos últimos cinco anos, consecutivamente. Mesmo em seu pior momento, quando rescindiu o contrato com sua antiga gravadora, vendeu o bastante para entrar na lista. A questão para as férias era sua vida pessoal e sua saúde mental. Todo o desgaste com a turnê, a produção, as viagens e as multidões podiam ser demais e ela havia aprendido a lição. E agora, fechar a temporada de apresentações com um tributo a uma de suas cantoras preferidas, além de uma de suas maiores inspirações, era o melhor presente que poderia receber na vida.




O estúdio estava apinhado de gente até alguém se levantar e falar alto que a jovem cantora precisava de espaço e então pediu que saíssem, restando apenas a garota, o produtor executivo do álbum e Martin Cavanaugh, produtor e compositor que colaborava naquela faixa.

A garota tinha apenas vinte e três anos e estava sentada num banco de couro de frente para o microfone, ainda tentando perder a timidez e gravar a canção inteira. Seu nervosismo lembrava alguém no início da carreira. Alguém que hoje era simplesmente gigantesca e uma inspiração para a pequena tímida garota, chamada Ashley.

- Estamos só eu e Martin aqui, está tudo bem. Você consegue fazer. Já te ouvimos antes, está tudo bem, Ash. - sorrindo, Steven deixou cair a mão sobre o ombro da garota, que ajeitava o cabelo e tentava apenas respirar fundo e não ficar nervosa a ponto de pensar que perderia o contrato assinado com a LS Records.

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