Brad, o jogador

4.7K 331 83
                                    


Perdi o sono depois que Steve saiu. Tentei ficar na cama e dormir mais um pouco, mas não consegui. Wendy havia dormido fora e eu podia apostar que estava com Josh. Eu precisava ler um texto enorme para a próxima aula, mas fiquei pensando em como seria o encontro de Steve com Natalie na biblioteca.

Contudo, depois pensei se seria mesmo uma boa ideia ele encontrá-la na biblioteca, já que lá o silêncio era a regra principal e ele teria que conversar com ela. Será que ele entenderia que era para ser rápido? Apenas para plantar a raiva e a dúvida na cabeça dela de "quem é esse cara que não me deu a devida atenção?"

Eram quase nove e meia da manhã e eu estava sem sono algum. Pensei em ler o texto de mais de cem páginas ou ir até a biblioteca vigiar Steve e a Rainha das Águas Doces conversando pela segunda vez, mas só a primeira sob meus olhares julgadores.

Eu leria o texto depois, afinal a aula em que discutiríamos esse assunto seria apenas na quarta-feira e eu estava cada vez mais curiosa para ver a cena na biblioteca. Levantei da cama, fui até o guarda-roupa e, apesar da preguiça insana de procurar por peças e me trocar, olhei para a cama bagunçada de Wendy e vi um casaco preto de linho que me servia. Vesti-o, peguei meu único par de óculos escuros que estava sobre o criado- mudo, para me disfarçar de Natalie o máximo que podia, e calcei meus chinelos de sempre.

Saí em direção à biblioteca e coloquei os óculos, meus aliados num dia de sol forte demais pela manhã. Cheguei e fui direto ao primeiro andar, onde os alunos de Direito geralmente ficavam, e me acomodei no cantinho de uma mesa, isolada, e peguei um exemplar da revista da faculdade que sempre ficava sobre a mesa.

Olhei ao redor e notei uma cabeça loira sentada sozinha, a três mesas da minha, e um garoto à sua frente , Steve.

O lerdo resolveu ficar rápido e já estava sentado com ela! Será que minhas dicas finalmente surtiram efeito?

Fiquei observando os dois apenas na linguagem corporal, porque era humanamente impossível ouvir o que eles falavam, mas pareciam ir bem. Steve segurava um livro e olhava ora para o objeto e ora para ela. E até que a periguete parecia manter a conversa dessa vez. Eu tentava imaginar a conversa entre eles e se ele diria alguma idiotice quando outra cabeça loira apareceu e sentou na cadeira a frente da minha. Brad.

Acho que todo mundo resolveu ir à biblioteca naquele domingo de manhã. Alunos exemplares, minha nossa.

Brad e sua camiseta branca surrada me impediam de observar Steve e Natalie, mas eu não seria obrigada a olhar para ele. Fingi ler a revista com toda a atenção, mas ele falou comigo:

- Oi, Sam. Será que a gente pode conversar?

Ignorei-o e continuei olhando a revista.

- Sam, por favor. Eu quero te pedir desculpa. - ouvi sua voz rouca de novo e dessa vez eu olhei, mas sem levantar o rosto.

- Já pediu. Agora pode sair.

- Não, eu não pedi. Você pode me ouvir, pelo menos?

Respirei fundo soltando o ar pela boca, junto com o resto da minha paciência. A última pessoa que eu queria encontrar no mundo era Brad. Joguei a revista sobre a mesa e apoiei os cotovelos voltando toda minha atenção para ele de propósito. Ele encolheu um pouco os ombros, mas devia ser charminho barato.

- Estou ouvindo. - puxei os óculos para cima da cabeça.

Brad respirou fundo e começou a falar:

- Olha, eu agi como um idiota na festa, um babaca dos piores. E eu queria muito te pedir desculpas pessoalmente. É sério. - seus olhos azuis pareciam os de um cãozinho em frente a um forno cheio de frangos suculentos assando.

O AcordoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora