three

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Eu tive uma época em minha vida em que nada parecia ser o suficiente. E quando eu digo nada é exatamente nada.

Tudo parecia muito pequeno e eu muito grande, como se eu não me encaixasse ou coubesse na minha própria vida.

Os lugares da qual eu amava ir, meus amigos, minhas músicas, minha família, meus gostos e costumes, minhas roupas, meu modo de pensar e agir, minha vida, eu. Nada parecia o suficente para me fazer feliz.

Eu não era suficente para mim mesma. Era como se tudo que eu amava e costumava ser se tornasse pouco. E então eu vivia com raiva de mim mesma por não ser o que eu queria ser. Eu me odiava por ser apenas metade de mim mesma quando eu mais queria ser um todo, ser eu mesma feliz e completa.

E então houve um dia do qual eu decidi não ser apenas metade, eu resolvi ser um todo, um todo de mim mesma e isso resultaria em medidas radicais, medidas de que se eu me importasse com que os outros pensavam eu não conseguiria tomar, essas pessoas eram principalmente minha família e amigos.

Os encontros que antes me faziam feliz e não faziam mais foram cortados, aquilo tudo parecia ser apenas um teatro para fingir que estava tudo bem, mas nada estava.

É claro que eu tive que lidar com os comentários e indiretas como "Se tornou uma pessoa egoísta", "mudou mesmo hein", "Está cuspindo no prato que comeu", " Falsa sem caráter" "Agora que está 'crescendo' não dá atenção para nós" "Está exatamente como a antiga e verdadeira família dela" . Mas tudo isso não me atingiu tanto, só me provou o quanto tudo ali estava ruído.

Assim me refiz por inteira, peguei pedaço por pedaço meu que todas as pessoas tóxicas ao meu redor tiraram de mim mesma e me 'colei' eu me tornei minha própria salvação.

Me mudei desde as atitudes a aparência, cortei o cabelo, mudei a tonalidade, tenho um estilo diferente do antigo e sou mais feliz. Agora eu sou o suficente para mim mesma e é isso que importa eu ser o suficiente, eu ser um todo.

E alguns me perguntam se eu não acho egoísta ter feito o que fiz, já que eram pessoas que eu amo e me amavam. Poderia até ser, mas antes de amar a todos eles eu deveria me amar, eu deveria olhar no espelho e ver que o que ele refletia era a verdade, uma pessoa feliz e cheia de si, sem precisar de amores picados ou atenções mendigadas seja por amigos, família ou até um terceiro, eu deveria ser a verdade. Ser o que sou e não o que os outros queriam que eu fosse.

Mas será que todos são assim? Você é assim?

- Eu dormi aqui? - Let pergunta enquanto eu tentava abrir os olhos.

- É o que parece.- Murmuro e me levanto.- Minha cabeça está estourando.

- Vodca ajuda.- Ela disse sorrindo.

- Daqui a algumas horas, sim. Finalmente vou dar a aula de primeiros socorros.

- Já era a hora.- Levantou e me seguiu para onde eu estava indo.- Stark? - Me chamou.

- Sim?

- Quando você soube?

- Soube o que?

- Que queria ser cirurgiã.

Vendo o rumo da história eu não queria falar, não queria que eu me tornasse o foco da conversa. Até mesmo porque não sou uma pessoa de história interessante ou até mesmo feliz, eu sou um para raio de desgraças.

- Eu não sei exatamente. Vamos tomar café? - Tentei acabar com a conversa olhando para os lados.

- Você sabe que eu sou psicóloga, certo? E que como psicóloga eu sei que quando uma pessoa não quer falar sobre algo ou esconde algo ela muda de assunto não olhando nos olhos dos outros e desviando o olhar?

tsunamiWhere stories live. Discover now