twenty four

815 70 30
                                    

As vezes o ser humano além do "não" precisa ir atrás da humilhação.

E era isso que eu estava fazendo indo até o prédio onde Chris trabalha. Até agora eu estava agindo no calor do momento porque quando a razão caísse sobre mim eu sabia que iria me odiar por isso. Não me julgava 100% pelo o que estava fazendo, eu iria para lá nem que seja pra xingar ele por ter sumido e não ter ido atrás de mim para saber se eu estava viva, um belo babaca. Claro que tinha me arrumado para isso, não queria chegar lá acabada e dar razão pro pensamento dele de que eu morri. Quero chegar apresentável, xingar ele e ir embora.

No fundo da minha mente eu já pensava em como eu teria que explicar isso pro meu psicólogo.

As sessões estavam indo muito bem e eu estava tendo um grande progresso, por mais que fosse uma das coisas mais difíceis da qual eu passei. A primeira sessão em que eu tive que lidar com a morte da Let foi a pior de todas.

Chequei mais uma vez o endereço do prédio onde Coraline tinha me dito que ele estava trabalhando, era da família dele e muito reconhecido por sinal. Chris era o típico cara que é rico, não se importa com isso e vai fazer o que ama, no caso ser guia turismo e um babaca. Não sabia o que dizer quando tivesse que entrar no hall do prédio, esse era meu grande contra tempo. Em um prédio daquele não entrava se não tivesse identificação.

Confiei nos meus próprios instintos e caminhei pra dentro do prédio, e lá dentro estava cheio de pessoas. Talvez para uma visita?

Aproveitei e me enturmei entre elas, ouvindo eles dizerem que vieram para fazer uma reportagem sobre a evolução das transportadoras de uns anos para cá, e essa empresa era um dos destaques. O que quer que Chris esteja fazendo aqui está fazendo efeito. Atrás das pessoas eu não falava nada mas fingia para os de fora que estava com eles para não levantar suspeitas.

- Vocês são do grupo da reportagem?- Gelei ao ouvir a pergunta e me virei para tentar responder e percebi que não tinha sido feita para mim e sim para um homem que estava a frente do grupo de pessoas.

- Sim, nós somos.- O homem que parecia ser o responsável respondeu.

- Vocês começarão pelo 16° andar para entrevistar os funcionários e verem as dependências da empresa e por último vão ao último andar entrevistar o Sr. Evans.

Sr. Evans.

Ele se tornou o que mais temia. O responsável pela empresa do pai, deve estar odiando isso. Ou não, já que essa empresa parece estar indo tão bem. O que me interessava era que ele estava no último andar, era lá que eu pararia.

Como uma impostora andei com o pessoal da entrevista até o elevador com o olhar mais cínico de que estava ali a trabalho. Como eram muitas pessoas ficamos em bom número dentro do elevador até que chegou o 16° andar. Todos eles desceram e eu tive que ficar sozinha, alguns me olharam com suspeita quando perceberam que eu fiquei no elevador mas não disseram nada. Ainda bem.

Aproveitei para me olhar no espelho do elevador e dar mais uma arrumada em mim mesma. Não que minha autoestima estivesse boa, mas não chegaria lá mal arrumada. Se fosse para insultá-lo que seja bem arrumada. Finalmente tinha conseguido meus direitos de volta, meu cartão de crédito, minha conta bancária e meu carro de volta. Menos o meu cargo no Conselho no hospital, que foi vendido, para Latifa. E isso não tinha volta segundo o meu advogado, mas havia formas de lidar com isso. Formas que eu não contaria para o meu psicólogo pois eu não faço a mínima ideia de como contar isso, provavelmente um retrocesso no meu tratamento.

Quando cheguei no último andar tive que segurar minha mini bolsa ao meu lado com força. Meu coração tinha começado a doer dentro do peito e no fundo a razão começava a surgir me perguntando o que eu estava fazendo ali. Mas não podia deixar preso no meu peito tudo o que eu tinha que falar e caminhei até onde tinha uma moça que aparentava ser a secretária. Na hora uma ideia maluca surgiu em minha cabeça.

tsunamiWhere stories live. Discover now