eight

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Dores. Cansaço. Fome. Frio e desespero.

Era o que eu mais sentia nesses últimos dias da qual eu estava nesse lugar. Eu queria conta-los mas Chris disse que a cada dia que passa o nosso desespero aumenta e contar os dias não vai adiantar. E mesmo assim eu não consigo, eu tento adivinhar os minutos, as horas e os segundos. Mesmo não tendo consciência de quantos dias fiquei em alto mar.

Para falar a verdade a minha memória não está sendo muito precisa, apenas tenho flashes de memória. Me lembro de dizer o meu nome para todos.

- Eu sou a Dra. Stark e vou ensiná-los como reagir a momentos em que não há alguém a não ser a vocês mesmos para salvar uma vida...

Um pressentimento. Um tremor. E água. Consigo lembrar da força quando colidiu com o navio e logo após o corpo de Scarlett afundando em meio ao oceano.

Todos sempre dizem que quando estamos perto de morrer um filme da nossa vida passa por nossa cabeça. Não aconteceu comigo quando tudo aconteceu, mas passa agora. Como se eu fosse morrer a qualquer segundo.

Eu sobrevivi a tudo aquilo e parece que eu vou morrer agora, isso não tem o menor sentido. Se Cora estivesse aqui com certeza diria que entre ser atingida por um Tsunami e ficar ilhada com um estranho, ficar ilhada seria a morte. E talvez ela esteja certa.

Mesmo que Chris esteja sempre ao meu lado me ajudando eu não sei muito sobre ele, é como se ele fosse mesmo um estranho. Ele tem me ajudado muito, e eu a ele. Quando eu preciso da ajuda dele, ele está lá para mim e vice-versa. Acho que é isso que chamamos de sobrevivência.

Esse lugar me lembrava o hospital nos mínimos detalhes quando estava tudo bem, era preenchido com um silêncio enervante com mínimos ruídos no fundo. Aqui os ruídos são o vento e alguns animais que passam pelas árvores, o que é bom segundo Chris que diz que nossa fonte de água está por perto, mas no hospital o ruído era das máquinas que para muitas pessoas eram irritantes.

- Marie.- O silêncio foi cortado. Olhei para cima e vi Chris com uma expressão não muito boa e logo após olhei para a cintura dele onde sua mão estava ensanguentada e segurando o "cinturão" que e o protegia.

- Chris!- Levantei um pouco sem força e cansada e fui até ele. Coloquei a mão por cima da mão dele e ele emitiu um ruído de dor.

- Estourou.- Disse com dificuldade. Olhei para os olhos dele e estavam fundos. Fiz com que ele se apoiasse em mim da mesma maneira em que eu me apoiei nele quando precisei e fui caminhando com ele até onde nós dormimos.

- O que você aprontou dessa vez?- Perguntei para ele e tirei a proteção que ele usava quando se deitou com dores.

- Suas mãos são frias.- Mudou de assunto quando eu toquei a pele dele, a maleta já estava ao meu lado e olhei para ele.

- Eu estou com frio, e não mude de assunto.- Já preparava os utensílios que seriam preciso, e por um instante eu o vi revirar os olhos.

- Eu esqueci completamente e acabei de abaixando rápido demais.

- Já te disse para ter cuidado Chris, assim vai acabar se matando.- Ele sentia sentia cada vez mais dor quando eu tocava no ferimento e tinha que fechar os pontos que estourou.

- Foi mais fácil da primeira vez, quando eu estava morto. - Se referiu quando eu tive que o cortar e depois suturar assim que cheguei aqui.

- Eu te cortei quando você já estava vivo, por que eu cortaria alguém morto?

- Uma autópsia talvez, para relaxar.- O bom humor dele podia ser contagiante as vezes.

- Ah claro, fui atingida por um Tsunami, parei em uma ilha e vou fazer um autópsia em um homem da qual eu posso salvar.- Continuava estancando o sangue com o que podia e o distraía com conversas.

tsunamiOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz