ten

1.3K 124 42
                                    

Estávamos andando enquanto eu criava pequenos fios de esperança de que nossa situação iria melhorar. Nós já tínhamos andado demais e conforme fazíamos isso Chris me ensinava o que sabia sobre tudo a nossa volta.

A mata em si já não era a mesma, quando chegamos eu me lembro de ser algo frio, escuro e totalmente inabitável, -O que era péssimo para a nossa sobrevivência-. Mas agora tudo parecia mais vivo, desde as árvores com folhas mais claras e frutos diferentes, a maré trazendo peixes durante a tarde, o tempo mais quente durante o dia, mais facilidade e menos arbustos facilitando nossa locomoção, e muitos galhos e pedaços de árvores que vão ser perfeitos para a fogueira a noite.

Meu estado emocional está um pouco mais "sedado" que antes já que as coisas parecem estar melhorando e a sensação de que eu posso morrer a qualquer segundo está menor, é difícil pensar que o mundo está girando lá "fora" e para nós o tempo aqui passa tão devagar que nos desespera as vezes.

- ...E então nós podemos fazer uma fogueira ali enquanto nós preparamos um peixe daquele outro lado para a caba- Ele parou de falar e olhou para mim.- Você não está prestando atenção no que eu estou dizendo né?

- Me desculpe, eu estava pensando em umas coisas e acabei me distraindo.- Falei meio aérea.

- Eu percebi, que tal tentarmos pegar alguma coisa para gente comer naquela árvore do outro lado?- Disse olhando para a árvore com atenção, provavelmente procurando algo de errado.

Eu acabei notando que Chris é uma pessoa protetora e preocupada, se ele se importa com qualquer coisa ele vai proteger e fazer de tudo por isso e sempre se preocupar com o medo de algo dar errado ou ele falhar em algum momento. O homem de olhos azuis acabou me tomando como responsabilidade e me protegendo de tudo e sempre quase enlouquecendo de preocupação comigo. Era óbvio que ele não queria que nada de ruim acontecesse comigo, e eu o mesmo com ele. Afinal, somos um a sobrevivência do outro.

- Está bem então, você pegue daquela e eu pego da outra.- Apontei para o lado oposto onde havia uma outra árvore.

- Ok.- Disse calmo mas sempre com o olhar preocupado.- Mas Marie, tome cuidado.

- Você também tome cuidado com isso aí.- Disse apontando para o ferimento escondido embaixo de um cinturão feito de várias folhas.

Fomos e pegamos nas árvores os frutos e voltamos para o nosso novo lugar, e para falar a verdade eu odiava ser nômade, odiava não ter algo fixo da qual eu possa confiar que vai estar ali.

- Então quando você irá me dizer qual foi sua primeira impressão sobre mim?- Disse quando me sentei em frente à ele o fazendo rir.

- Você não me parece o tipo de pessoa que se importa com que os outros acham de você.- Quando terminou de falar olhou com cuidado para mim. Ele tinha falado com um pequeno tom de sarcasmo que eu costumava a responder com um certo tom de ignorância.

- Não, não me importo. Mas estamos perdidos no meio do nada então vamos ter que ouvir a voz um do outro até cansar.

- Eu não concordo com isso, provavelmente ficar em silêncio seria ótimo eu até dormiria um pouc- Ele estava usando sarcasmo mais uma vez para escapar me fazendo interromper.

- Ah qual é?! A primeira impressão foi tão ruim assim?- Perguntei indignada e depois ri.

Ele me analisou cada centímetro do rosto e respondeu.

- Não tão boa mas também não foi tão ruim. A primeira vez que eu te ouvi porque não me lembro de ter visto no Paradise foi no primeiro dia em que chegamos e você estava querendo matar alguém do outro lado do celular.- Chris falou de um jeito humorado.- Provavelmente gritando alguma maneira de tratar um paciente.

tsunamiWhere stories live. Discover now