twenty three

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Marie Stark.

Eu estava 10 dias em casa. Foram os dias mais tortuosos que eu já tive, e olhe que eu estive um bom tempo em uma floresta e quase fui torturada por nativos. Mas em nenhum desses dias eu colidi tanto com a minha mente em pedaços, muito menos sofrendo de stress pós-traumático. Foi algo que como médica eu deveria ter lembrado que eu teria, mas esqueci completamente.

Agora que tenho vejo o quão tortuoso é não confiar em si mesmo ou em sua própria mente. Mesmo dentro de casa tive alucinações, até mesmo ouvia vozes de que tinha ouvido quando estava a mercê dos nativos, eles dizendo algo que eu não entendia. E nada era real, mas parecia muito. Principalmente os sonhos da qual eu tinha, todos eles me assombravam de tão reais que eram. Mas com a ajuda da única pessoa que estava ao meu lado, Cora, consegui me recuperar aos poucos.

Chris não me ligou, não me mandou mensagem ou até mesmo veio me ver. Não esperava que ele viesse para falar que amava ou que ficaria comigo, mas esperava um pedido de desculpas ou um pouco de consideração com quem esteve do lado dele quando ele não tinha mais ninguém. Tive que cuidar de mim mesma e me convencer de que ele não se importava comigo, mas no final não precisei me convencer. Ele me provou isso, quando não procurou saber sobre mim.

Hoje eu decidi que faria algo diferente, que não ficaria em casa chorando, tendo paranóias. Mas como passei esses dez dias em casa apenas morrendo aos poucos não tinha nada que me deixasse próxima a realidade atual. Sem celular, cartão de crédito, carro ou qualquer outra regalia que se possa ter no século XXI a não ser uma quantia em dinheiro que me levaria ao salão mais próximo e ao escritório do meu advogado.

Tentei me arrumar maneira casual e guardei a quantia na bolsa, paguei a corrida até o salão e fui tentando não focar em coisas ao meu redor para não ter uma crise ou lembrar de algo que viesse desencadear alguma lembrança traumática, isso seria complicado. Já fazia algumas semanas que eu não me considerava bonita, acho que nunca me considerei na verdade mas desde o momento em que eu vi Latifa Wayne saindo de um helicóptero com os cabelos ao vento e sorrindo algo em mim talvez tenha entendido o porquê de Chris ter escolhido ela. Ela era linda. Nunca cheguei a este patamar, mas não queria ficar tão mal assim.

Ao chegar lá não sabia o que dizer. O que pedir a cabeleireira quando você só quer se sentir bem consigo mesma?

- Você quer cortar?- De forma atenciosa ela se direcionou a mim enquanto eu tentava dizer algo ou até sair da porta do salão.

- Eu não sei.- Fui sincera e as palavras saíram em um tom tão triste que eu não me reconheci. Naquele momento tenho quase certeza que ela achou que eu era louca.

- Está tudo bem. Sente-se aqui e beba uma água, eu vou te dar opções de corte ou hidratação. O que você preferir.

Em frente o espelho olhei meu reflexo. Não precisava de muito pra saber que eu fiquei presa em uma floresta durante meses. Estava estampado em mim a falta de cuidados e o cansaço. O reflexo me deixava triste.

- Eu quero me sentir bonita.

Ao dizer aquilo a cabeleireira olhou para as suas ajudantes com um olhar que eu não consegui decifrar. Todas estavam ocupadas mas pararam por um segundo.

- Nós podemos te deixar mais bonita, minha querida. Conheço um corte perfeito para o formato do seu rosto, podemos fazer sua sobrancelha, hidratar seu cabelo e até fazer suas unhas.

- Faça tudo isso, por favor. Não quero continuar assim.

Começaram com o meu cabelo, cuidando dele, passando produtos e depois aderindo a um novo corte, depois fizeram minha sobrancelha que deu uma mudança significante no meu rosto. Eu estava bem diferente de quando cheguei, esses cuidados realmente fizeram a diferença e quando chegou nas unhas disse que tinha que lixar e não fazer algo chamativo pois eu era cirurgiã, disse com um sorriso no rosto.

tsunamiWhere stories live. Discover now