Vinte e cinco: Cama e Comida

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Durante o caminho de volta, o garoto tentou manter uma conversa civilizada.

— De onde vens? — pergunta arrancando um galho de uma árvore por qual passamos. Fico em silêncio, eu não poderia lhe dizer que era a princesa fugitiva. E se ele perguntou, certamente a notícia ainda não chegou por aqui. — Para onde vai? — tenta outra pergunta.

— Eu ainda não sei — confesso em meio a um suspiro.

— Aonde tens ficado? Sei que foi perto da fazenda, porque ninguém viria de tão longe para roubar comida tendo uma vila aqui perto — ele pensa.

— Em uma árvore — ele me encara com um sorriso, talvez pensando que eu vou estivesse brincando. Porém, quando viu que eu falava a verdade e continuava séria, balançou a cabeça.

— Por que, simplesmente, não pediu, ao invés de roubar?

— Por medo, as pessoas que encontrei no meio do caminho não foram tão amigáveis — ele me observa confuso — eu tinha dinheiro, Okay? Eu me hospedei na vila por um dia e ia seguir caminho, mas fui assaltada e levaram tudo que eu tinha. Eu não tinha como viajar e não podia morrer de fome. Eu pensei que se eu pedisse comida, vocês achariam que eu era só mais uma pedinte e me mandariam embora, eu não podia arriscar.

— Há quanto tempo estava furtando nossa comida?

— Três dias — ele arregala os olhos.

— Você ficou sozinha na floresta e dormiu em uma árvore por três dias? — assinto — céus, além de ladra, você é louca.

— Eu já disse que ia pagar — reviro os olhos.

— Ah, é? E como pretendia fazer isso? — pergunta em um tom debochado.

— Eu não posso dormir em uma árvore pelo resto da vida, não é? Eu iria tentar arranjar algum serviço na minha próxima parada e depois voltaria para pagar — explico.

— E diria o quê? "Oi, era eu quem roubava vocês, estou pagando tudo agora"? É claro que não ligariam para você e chamariam os guardas. Você seria enforcada por roubo. — ele avisa.

— É isso que vai fazer? Chamar os guardas? — pergunto e sinto meu estômago revirar.

— Eu ainda não sei — ele chuta uma pedrinha e eu paro de andar assim que avistamos a fazenda.

— Olha, você pode ficar com o meu cavalo como forma de pagamento e eu vou embora. Eu posso até devolver a metade do pão que roubei hoje cedo. Você não precisa envolver os guardas nisso. — digo desesperada.

— Está disposta a dar seu único meio de transporte e companhia para não ter que encontrar os guardas? — assinto — ou você tem algum assunto pendente com a realeza ou você tem muito medo de morrer.

— Digamos que uma coisa leve a outra — sorrio sem graça.

— Venha, temos que lhe arranjar uma roupa nova e uma cama quente — ele diz enquanto anda.

— Vo-você vai me ajudar? — gaguejo surpresa.

— Eu não sou um monstro para te deixar dormir em uma árvore num dia frio como esse, e você parece estar disposta a fazer qualquer coisa para se redimir. Então, eu vou te dar o que comer e onde dormir, mas terá um preço — minha animação some.

— Você sabe que eu não tenho dinheiro — digo como se aquilo fosse uma brincadeira sem graça. Ele não pode dar esperanças a alguém deste jeito para depois tirá-las.

— Quem falou em dinheiro? Você vai trabalhar para pagar sua dívida — ele sorri.

O quê?

*****
Me desculpem a demora para postar, minhas aulas voltaram. Então, fica difícil conciliar os horários das aulas com um tempo vago para escrever e postar.

AgainstWhere stories live. Discover now