Vinte e oito: Casamenteira

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Henry chega da caça poucos minutos antes do sol se pôr. Ele me contou que caça veados para sua mãe, pois mesmo o seu senhor dando um teto para sua família morar, ele não se preocupa em dar o que comer. E para o Sr. Richard, ele caça animais grandes para tirar o pelo, o couro ou chifre e vender na vila ao norte, que fica ao lado do castelo.

— Desculpe, hoje não foi tão produtivo — ele mostra os dois esquilos que matou e entrega a mãe para preparar a carne.

— Tudo bem, querido, está ótimo — ela pega os animais.

Acho que vou vomitar.

— Henry! — Amélia vai cumprimentá-lo com um abraço caloroso. Mesmo vendo seu irmão todos os dias, ela ainda fica animada quando ele chega no fim do dia. Me pergunto se isso está ligado ao pai deles, porque o tempo em que estive aqui, ninguém comentou nada sobre o sujeito e nem eu o vi.

— Olá, pequena, Bela se comportou hoje? — pergunta, puxando uma cadeira para se sentar.

— Ela derrubou uma cesta hoje, mas eu a ajudei à catar cada maçã — conta animada.

— Alguém veio visita-lo hoje, mãe? — Joana trabalha na parte da limpeza da mansão, por isso, tem acesso a essas informações.

— Alguns comerciantes da vila do sul. Lá, a miséria está pior do que a vila daqui. E eles estão perto da fronteira, vulneráveis a qualquer ataque dos reinos inimigos. — comenta enquanto põe a carne dos esquilos dentro de um caldeirão aquecido pela lenha.

— Provavelmente, me fará vender leite por lá amanhã — supõe.

— Eu posso ir com você? — pergunto como quem não quer nada.

— Não acho que seja...— o interrompo.

— Por favor, Henry — junto às mãos para implora-lo.

— Por que quer tanto ir para a cidade? — arqueia uma sobrancelha.

— Certamente, acordarei dolorida amanhã pelas cestas que carreguei e não serei produtiva. Talvez na feira, eu seja mais do que aqui na fazenda. — tento convence-lo.

— Leve a garota para um passeio, Henry — a mãe dele manda com um sorriso gentil.

— Obrigada, Joana — murmuro para ela.

— Tudo bem, mas se me atrapalhar...— o interrompo.

— Prometo que não irei — asseguro com um sorriso e beijo sua bochecha.

(...)

Tomo um banho e ponho a roupa que usei ontem à noite para dormir. Havíamos jantado, eu preferi frutas ao invés da carne de esquilo. Não tive coragem de comê-los.

— Você é namorada do Henry? — Amélia pergunta enquanto me observa ajeitar a cama para dormir.

— O quê? Não! — rio.

— Você o acha bonito? — penso por um instante.

— Sim — confesso tentando entender onde ela queria chegar com aquele assunto.

— Então você gosta dele? — pergunta esperançosa.

— O Henry foi muito gentil comigo, então sim, eu gosto dele. Como amigo.

— E como namorado? — tenta novamente.

— Não — nego rapidamente — eu conheço seu irmão há dois dias, é impossível você gostar de alguém tão rápido — lembro de minha irmã e do meu pretendente.

Talvez não seja tão impossível assim.

— Mas existe amor à primeira vista — rebate.

— Digamos que eu e seu irmão tenhamos nos conhecido em uma situação constrangedora — digo vaga.

— Sério? Como foi? — pergunta interessada. Cruzando as pernas sobre a cadeira em que está sentada.

— Hora de dormir, sua casamenteira — Henry entra no quarto. Sinto minhas bochechas corarem por ele ter dito, indiretamente, que escutou nossa conversa.

— Fica para outro dia, Amélia — digo sentando na cama. A garota cruza os braços emburrada e mostra a língua para o seu irmão, indo para o quarto da mãe logo após.

— Então, você me achou bonito? — pergunta com um sorriso malicioso nos lábios. Ele estava se divertindo com o meu constrangimento.

— Boa noite, Henry — me deito e assopro a vela ao meu lado, escurecendo o quarto.

Escuto sua risada abafada e logo seus passos me dizem que ele foi para o seu quarto. Idiota.

*****
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