Trinta e Três: Decisões

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Escutei um galho se partir atrás de mim com as pegadas de alguém. Me virei quase que instantaneamente e peguei um pedaço do tronco de uma árvore caída, que me ajudaria como uma arma.

— Quem está aí? — sussurro, olhando em todas as direções.

Vejo alguém sair de trás de uma árvore e eu não demoro para arremessar o pedaço de tronco. A pessoa se esquiva com rapidez e depois se levanta novamente.

— Cuidado! — ele sussurrou de volta e só então o reconheci.

— Henry — concluo e suspiro — eu pensei que você...— ele me interrompe.

— Quem é você? — ele pergunta ríspido, parando em minha frente.

— Como assim quem sou eu? — recuo um passo — Eu sou a Bela.

— Quer mesmo que eu acredite nisso depois de toda essa confusão? — ele estreita os olhos.

— Sim, porque foi justamente isto que aconteceu: uma confusão. Eles pensaram que eu era outra pessoa e...— ele me interrompe.

— Eu vou perguntar mais uma vez e se você não me responder, eu juro que dou um jeito de fazer aqueles homens descobrirem onde nós estamos — ele ameaça — Quem, diabos, é você? — suspiro pesadamente.

Henry me acolheu quando eu estava ao relento e esconder tudo isso dele é tão injusto.

— Sou a sucessora do trono inglês, uma princesa fugitiva e, o que me parece agora, procurada — confesso e o ouço gargalhar.

— Vai mesmo continuar mentindo? — ele pergunta ainda rindo e eu fico com a expressão mais séria que consigo — Você...você não está mentindo, não é? — balanço a cabeça negando e o vejo arregalar os olhos — Por que não me contou isso antes? — pergunta irritado.

— Eu não podia arriscar ser reconhecida e levada de volta ao palácio — conto.

— Mas pôde arriscar a vida da minha família? — perguntou sarcasticamente.

— Henry, você tem que acreditar em mim, eu nunca quis trazer nenhum problema para vocês — eu lhe garanto. Ele recua alguns passos e bagunça o cabelo com as mãos.

— Você tinha noção de que se te achassem na minha casa e achassem que estávamos escondendo você, seríamos todos enforcados e não contou absolutamente nada! — ele diz enfurecido.

Eu o entendo e não tiro sua razão.

— Eu sinto muito — murmuro.

— Não, não sente! — ele grita — Eu deveria chamar os guardas e pegar aquela maldita recompensa que ajudaria minha família pelas próximas gerações — ele diz com gestos.

— Vai me mandar em direção à morte? — pergunto com medo de sua resposta.

— É o que eu deveria fazer por você ter traído a minha confiança e a de minha família — ele aponta-me o dedo e eu sinto meu corpo tremer.

— Henry, eu...— ele me interrompe novamente. Ele costuma fazer isso.

— Eu não quero escutar mais nada vindo de você — ele esclarece — eu quero que pegue suas coisas e vá embora da minha casa! — ele diz baixo, mas eu consigo ouvir perfeitamente. Sinto meu peito arder.

Ele me livrou de ser morta três vezes desde que nos conhecemos e é por isso que irei respeitar sua decisão.

— Tudo bem — é tudo o que digo.

Passo por ele e caminho em direção à fazenda.

(...)

HENRY

Eu me senti traído e perdido. Eu não queria deixá-la sozinha sabendo que o país inteiro está em busca de sua cabeça, mas eu não posso arriscar a vida da minha família.

— Para onde ela foi? — minha mãe pergunta, procurando Bela pelos cômodos da casa.

Eu estava sentando na cadeira da cozinha, talhando um pedaço de madeira.

— Embora — murmuro.

— Por que? — perguntou assustada.

— Porque eu mandei quando descobri suas mentiras — explico, passando a faca com mais força.

— Garoto estupido! — minha mãe xinga e dá um tapa no topo de minha cabeça. Me levanto confuso.

— Ela é a maldita de uma princesa e está sendo perseguida, ela sabia disso e não hesitou em botar nossa família em risco — esbravejo.

— Abaixe o tom de voz, mocinho — ela puxa minha orelha e eu me calo — você acha mesmo que eu não sabia?

— A senhora sabia? Por que não fez nada? — pergunto em um tom mais baixo e arregalo os olhos.

Ela enlouqueceu.

— Porque ela é só uma garota! — ela diz como se fosse a coisa mais lógica do mundo — Eu sabia, no momento em que a vi, que ela não era uma de nós. E tive a certeza quando vi suas mãos tão macias e delicadas como o bumbum de um bebê.

— Ela está sendo procurada por ser maldosa e por ter traído o próprio pai, era esse tipo de pessoa que a senhora queria dentro da nossa casa? — pergunto assustado.

— Menino tolo! — ela esbraveja — Desde quando ela botou os pés dentro desta casa, ela foi simples e nos tratou com igualdade. Você acha mesmo que uma garota, que dormia com um cavalo no meio de um bosque e que distribuiu comida na vila mais pobre do reino para as pessoas famintas, é uma pessoa ruim? — abaixo a cabeça. Ela tem razão. — Henry, meu filho, quando foi que você ficou tão cego ao ponto de não enxergar o que estava bem a sua frente? — ela perguntou, segurando meu rosto com as suas mãos.

— Meu pai deixou uma única tarefa para mim, cuidar da senhora e da minha irmã. Eu não vou decepciona-lo. — garanto.

— Bobagem! Eu nunca precisei que seu pai ou você cuidassem de mim — ela diz irritada — meu filho, você fez um ótimo trabalho mantendo a nossa casa em pé e enchendo nossas barrigas — ela sorri tristemente e bate em meu ombro — mas estará me desapontando se deixar aquela garota partir. Ela errou, como todos nós já erramos alguma vez em nossas vidas. Somos humanos, e humanos tendem a errar sempre! — então ela se retira, deixando uma grande decisão para eu tomar.

Ajudo a Bela ou protejo minha família?

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Sorry por ter ficado 10 dias sem postar. Eu tive um grande bloqueio criativo e estou atolada de coisas para estudar, não que isso seja um grande problema. Prometo tentar me organizar e postar com mais frequência.

Enfim, e esse bafo?

AgainstWhere stories live. Discover now