Trinta e Um: Ajudar

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Escutei alguém resmungar o meu nome, mas eu estava com muito sono para responder.

— Bela? — escutei novamente e demorei um pouco para me lembrar onde estava.

— O que foi, Henry? — resmungo sonolenta enquanto abraço o travesseiro macio, ainda de olhos fechados.

— Você pode, por gentileza, sair de cima de mim para que eu me levante? Temos coisas a fazer — minha mente demora para processar a informação e, quando isso acontece, eu abro os olhos assustada.

Henry estava sob mim, apoiando a cabeça nos próprios braços enquanto me observava com um sorriso de lado. O suposto travesseiro que eu abraçava, na verdade, era o seu tronco.

Eu retiro os meus braços ao redor da sua cintura e pulo, literalmente, da cama. O escuto gargalhar.

— Qual é a graça? — digo, tentando ajeitar o meu cabelo que está um emaranhado de nós.

— Você — o encaro com uma sobrancelha arqueada, ele continua — Ficastes da cor de teu cabelo quando notastes o que fazias — ele sorri.

— Você disse que tinha que levantar, o que ainda está fazendo deitado? — mudo de assunto e me sento no sofá para calçar minhas botas.

Ele balança a cabeça e se levanta para lavar o rosto. Quando o mesmo volta, trata de por o seu casaco e calçar seus sapatos.

— Você prefere comer na taberna ou na feira? — ele pergunta indo em direção à porta.

— Não estou com fome — digo, apanhando minha capa e o seguindo para fora.

Encontramos Jack, o velho dono do lugar, na saída.

— E então, meus jovens, a noite foi boa? — ele pergunta com um palito no canto da boca. Ele tinha uma flanela jogada no ombro direito.

— Eu já lhe disse que viemos a trabalho, seu velho rabugento — Henry o responde em um tom de brincadeira, batendo levemente em suas costas.

— Sei — ele ironiza e pisca para mim.

— Obrigada por nos hospedar, Jack — o agradeço.

— O prazer foi todo meu, querida — o escuto responder antes de passar pela porta principal.

Acompanho Henry até a carroça, ele me ajuda a subir antes de retirar à rédea do cavalo da pequena cerca que o mantinha preso. Henry o conduz até a saída e sobe na carroça, se sentando ao meu lado. Ele bate levemente com a rédea para fazer o animal andar.

— Sr. Richard não tem tantos clientes por aqui, então será vendas rápidas — ele explica e eu assinto, observando as casas por onde passamos.

— Por que a maioria das construções estão queimadas e destruídas? — pergunto interessada.

— Bom, a vila fica perto da divisa, sendo vulnerável a qualquer ataque. Saqueadores quando tentam invadir a Inglaterra, entram por aqui e se estabelecem. — ele explica com gestos.

— E os guardas? Não deveriam reforçar a segurança do lugar? — pergunto com a testa franzida.

— Quando a vila prosperava e era atrativa para os viajantes, sim. Depois da praga, o rei não deu mais a mínima para ela. Para que gastar com um lugar que não dá lucros?

— Na verdade, o Rei não tem dinheiro suficiente para ajudar todos os lugares do país. O que ele poderia fazer? — defendo o meu pai.

— Como sabes disso? — ele arqueia uma sobrancelha.

— Alguém me contou — minto e ele dá de ombros.

— Essa pessoa está errada. Só um leigo pensaria desse jeito. O Rei tem dinheiro para fazer festas e banquetes, mas não tem dinheiro suficiente para acabar com a fome de seu povo? — ele critica em um tom de deboche.

— Ele tem que manter as aparências para os seus aliados, caso contrário, ele estaria botando um alvo em suas costas. Você acha mesmo que viveríamos em paz se os países inimigos soubessem da nossa situação econômica de fato? — digo como se fosse lógico.

— Chegamos! — ele anuncia, parando a carroça. Ele assobia e, o que suponho ser os clientes, se aproximam.

— Você consegue se virar sem mim? — pergunto, descendo da carroça e indo para sua traseira.

— Seja rápida — ele diz quando chega ao meu lado e puxa a sacola de comida.

Ele me entrega e eu sorrio como agradecimento. A ponho suspendida em minhas costas e me afasto um pouco enquanto caminho. Vejo uma mulher suja sentada no chão tentando acalmar o choro de seu bebê.

— O que ele tem? — pergunto me agachando ao seu lado.

— Fome — ela responde pondo o dedo entre os lábios da criança — não tenho mais leite para amamenta-lo — ela explica, o balançando. Puxo a sacola e tiro de dentro dela bananas, maçãs e aveia. A mulher arregala os olhos quando lhe estendo os alimentos. — Senhorita, não posso aceitar — ela diz assustada.

— É claro que pode — sorrio — eu não vou precisar deles, então se alimente e alimente seu filho — ela assente com os olhos marejados.

— Que Deus lhe pague — assinto. Aliso a cabeça do pequeno e me levanto, voltando a caminhar.

Encontro homens e mulheres, idosos, crianças e recém-nascidos pelo caminho. Ajudo o máximo de pessoas que consigo e quando a comida acaba, me sinto triste por não poder ajudar mais, mas feliz por ter feito o meu melhor.

*****
Sejam solidários sempre! Alguns gestos podem ser simples e pequenos, mas fazem uma diferença enorme na vida de uma pessoa necessitada.

AgainstWhere stories live. Discover now