Trinta e seis: lutar

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HENRY

Fazia dias desde o ocorrido, mas vivíamos com ele constantemente em nossas cabeças. Principalmente Anabela, que não saí do quarto e não troca mais que três palavras conosco. E eu não a culpo por isso. Não consigo imaginar o tamanho do trauma que aquilo lhe causou.

— Ela não quer comer — minha irmã disse, voltando do quarto com um prato de comida em mãos.

— Henry, ela não está se alimentando direito e temo que fique doente — minha mãe me alertou — Você tem que falar com ela — pediu.

— A senhora sabe que eu não consigo, não depois de ter feito ela passar por tudo aquilo — me refiro à violência que sofreu.

— Não foi sua culpa, meu filho — minha mãe pôs a mão em meu ombro direito.

— Como não? Ela não teria passado por nada daquilo, se eu não tivesse mandado-a embora — sinto a culpa pesar dentro de mim. Esse sentimento está me corroendo por dentro.

— Você fez o que achou ser certo no momento. Nós nunca iremos saber o que teria acontecido, se você tivesse tomado outra decisão. Por isso, não pense no que poderia ter feito, mas no que pode fazer — ela aconselhou, me entregando o prato de comida.

Respirei fundo, tomando coragem o suficiente para ir até o seu quarto. Bati duas vezes em sua porta, embora a mesma estando entreaberta.

— Não estou com fome — sua voz soou fraca e baixa, me fazendo entrar por completo no cômodo.

Tomei um susto com a sua aparência. Bela não parecia a pequena ladra que eu encurralei no rio, ela parecia indefesa e assustada.

— Bela, você precisa comer — falo cuidadosamente.

— Eu não quero — ela rebateu, ainda deitada, enquanto mantinha seu olhar em um ponto fixo na parede de madeira.

Suspirei e coloquei o prato sobre o criado-mudo. Baguncei meu cabelo, tentando formular uma frase para iniciar uma conversa com ela.

— Como você está? — eu perguntei.

— Como você acha? — ela rebateu, afiada.

Ok, pergunta idiota.

Puxei a cadeira para sentar em sua frente, me intrometendo em seu campo de visão. Cruzei os braços e esperei um pouco.

— Anabela, eu não sei o que fazer para me redimir — confesso baixo — Eu falhei com você e isso te custou muito, então, por favor, me diga o que quer que eu faça para te ajudar — peço.

Ela, finalmente, me encara enquanto ajeita sua postura para se sentar na cama.

— Me ensine a lutar — é tudo o que diz.

Rio, imaginando ser sua forma de nos descontrair da tensão, mas ela continua séria.

— Não! — digo como se fosse óbvio.

— Você disse que queria se redimir, Henry, essa é a sua chance — ela diz entredentes.

— Você quer se vingar, e eu entendo, mas eu não vou te ensinar algo que vai te machucar — explico minha visão e ela bufa, irritada, se levantando.

— EU ME MACHUQUEI PORQUE EU NÃO SABIA, E NEM CONSEGUIA, ME DEFENDER DAS MÃOS IMUNDAS DAQUELES HOMENS! — ela gritou e uma lágrima escorreu por sua bochecha.

— Eu sei disso e eu sinto muito — murmuro.

— É, Henry, você já me disse isso mais vezes do que posso contar — ela diz enquanto anda de um lado à outro, enxugando a região molhada embaixo dos olhos.

— Tudo bem — é tudo o que digo depois de pensar um pouco, ela para de andar para olhar em meus olhos — Eu não pude te ajudar antes, mas eu posso te ajudar agora, e se é isso o que você realmente quer e que vai te ajudar a enfrentar todos os seus monstros, então tudo bem — concordo e me levanto.

— Obrigada, Henry, isso é muito importante para mim — ela sorri de lado, ainda mantendo uma distância razoável entre a gente.

— Eu sei — suspiro, pego o prato de comida que trouxe comigo e dou à ela, que estende o braço para pegar — precisará comer, se quiser ter forças para segurar uma espada — aconselho, antes de sair do seu quarto.

Minha mãe e minha irmã me olham apreensivas.

— E então? — minha mãe perguntou.

— Ela quer lutar — resumo.

— Se isso vai tirar-la daquele quarto escuro e frio, então ótimo! Além do mais, vocês tiveram um diálogo, o que já é um avanço. Bom trabalho, filho. — minha mãe me parabenizou.

— Ela vai acabar se matando — penso em voz alta.

— Isso não acontecerá, se você estiver ao lado dela para a ensinar — minha mãe rebate, passando ao meu lado para acender a lareira e preparar o nosso jantar.

— Legal! Você pode me ensinar a lutar também? — Amélia pergunta, esperançosa.

— Não — respondo de imediato.

— Chato! — ela cruza os braços.

— Estou sendo o irmão mais velho — retruco, pegando uma maçã e a mordendo.

Amélia me mostra a língua, antes de virar as costas e sair de casa, batendo à porta.

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DEMOROU, MAS SAIU!

***********************************DEMOROU, MAS SAIU!

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Eu sinto muitíssimo pela demora, gente. Eu tive um grande bloqueio criativo e estou tendo muitas provas por estar no fim do ano, então peço um pouco de paciência.

Não saiam sem comentar ou favoritar, é importante para mim!

AgainstWhere stories live. Discover now