Vinte e nove: Passado

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E como Henry previu, Sr. Richard o mandou para a vila do Sul.

Joana foi com Amélia retirar o leite das vacas para engarrafar. Henry estava ajeitando a carroça, quando o pedi para que aguardasse um momento. Corri até os fundos da mansão e entrei na cozinha, atrás de Lourdes.

— Lourdes, você guardou aquelas sacolas? — pergunto ofegante.

— É claro, menina, estão no celeiro — responde com um sorriso.

— Obrigada — dou-lhe um beijo estalado na bochecha e vou para onde ela instruiu.

Chegando lá, vejo Tempestade.

— Olha para você, com comida e cama de graça enquanto eu estou trabalhando por nós duas — aliso sua cabeça por trás da cerca. A égua relincha e eu sorrio. — Também estou com saudades, mas eu tenho que ir — digo quando lembro o real motivo de ter vindo aqui. Procuro pelas sacolas e as acho perto dos portões, as carrego com esforço e as coloco na carroça.

— O que você botou aí? — Henry vem verificar e ao abrir uma das sacolas, me lança um olhar repreendedor — O que eu disse sobre roubar? — pergunta bravo, pondo as mãos na cintura.

— Eu não vou roubar, seu estúpido — xingo por estar ofendida — seu patrão ia jogar toda essa comida no lixo e sua mãe contou que as pessoas estão passando fome na vila do Sul, não me custa nada ajudá-las — dito isso, subo na carroça antes que ele consiga falar algo. Joana, com ajuda de Amélia, põe as garrafas de leite atrás da carroça, elas conversam com Henry por alguns minutos até que ele se junta a mim em cima do nosso transporte.

— Tomem cuidado, crianças — Joana acena enquanto Henry bate levemente com as rédeas no cavalo para que ele ande.

Pegamos a estrada do rio, vamos em silêncio durante boa parte do caminho. O único som é dos pássaros que estão se acomodando em pequenos ninhos nos altos das árvores.

— Desculpe-me por ter lhe ofendido quando disse aquilo sobre você. Eu sei que não é uma ladra e que só roubou para ter o que comer — sussurra ao meu lado enquanto finjo prestar atenção na paisagem ao nosso redor — É um gesto bonito — diz sobre eu querer entregar a comida aos pedintes.

— Você fez a mesma coisa por mim — respiro fundo, mandando a raiva embora — desculpe-me por ter lhe xingado — cruzo os braços, incomodada por estar naquela situação vulnerável.

— Eu trouxe cobertas, será uma viagem fria — ele aponta para os cobertores atrás da gente, sorrio como agradecimento. Vendo sua tentativa de criar uma conversa amigável, dou continuidade.

— Você sempre viaja? — observo o rio que nos acompanha.

— Sempre que o Sr. Richard precisa — responde.

— Vocês sempre moraram na fazenda? — pergunto interessada.

— Não, vivíamos na vila do sul. Tínhamos nossa própria casa e meus pais eram comerciantes. — conta, relembrando.

— O que aconteceu? — pergunto, tomando cuidado para não invadir sua privacidade.

— Uma peste — conta e suspira — ela destruiu tudo. As pessoas morriam cada vez mais rápido. Meu pai em desespero, escreveu para o Sr. Richard que ofereceu uma de suas casas em troca de nossos serviços. Amélia era muito pequena ainda, então ele aceitou sem pensar duas vezes. No caminho, meu pai teve febre e apareceu feridas no corpo dele. Nos separamos porque podíamos ser contaminados, mamãe cuidou dele na vila perto da floresta e eu continuei a viagem com Amélia. Alguns dias depois, minha mãe chegou na fazenda sozinha.

— Ele não resistiu — concluo e ele assente.

— Amélia não lembra dele direito, mas eu lembro dele a cada dia. Ele que me ensinou a caçar e negociar com feirantes. Eu tive que me tornar o homem da família para sustentá-las após sua partida. — conta e enxuga uma lágrima solitária que escorre por sua bochecha.

— Eu sinto muito, Henry — escoro a cabeça em seu ombro — Ele estaria orgulhoso de você — lhe asseguro e ele sorri.

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Primeira briga do casal e eu to "aaaaaa" porque o Henry é um fofo e reconheceu o erro. Falando sobre Henry, essa é basicamente a história dele.

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