Capítulo 8- o jogador

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Humberto saiu de casa às 19 horas e foi ao botequim. Era uma noite de sábado. Ele se sentou em uma cadeira e acenou para a garçonete que o atendeu em seguida.

Humberto costumava frequentar o bar "ponto da cachaça". Alguns amigos que Humberto conhecia no bar o chamavam de "senhor azar". Humberto ria quando o chamavam assim para não explodir de raiva. Esse apelido o machucava por dentro. Senhor Azar era seu apelido naquele gueto, pois Humberto comprava bilhetes lotéricos todos os dias e nunca ganhava em suas apostas. Quem lhe deu esse apelido foi Aurélio, o dono do botequim, que vendia bilhetes da megassena para Humberto.

O irmão de Yasmim quis ter uma profissão melhor do que a de ajudante de carga, mas ele não era qualificado para ser operário de fabrica ou vendedor de loja. Humberto não podia pagar um curso técnico e nem uma faculdade. Como ele poderia ter ascensão social ganhando dois salários mínimos por mês?

Alguns vizinhos mais abastados o esnobavam na rua quando o viam.

Ele estava bebendo vodca naquele bar enquanto alguns homens jogavam bilhar e outros dançavam. O aparelho de som tocava a música "How Soon Is Now?" de The Smiths. Era uma boa maneira de aproveitar a noite em um bairro como aquele. Uma garçonete se aproximou dele e perguntou, sorrindo:

— Senhor Azar, você deseja mais bebida?

— Sim — Humberto disse.

Ela o serviu depois de alguns minutos. Em seguida, Humberto começou a pensar em Laura.

Às 10 horas da noite, Humberto regressou à casa de sua família. Não havia ninguém na sala. Ele subiu a escada e chegou ao segundo andar. Humberto percebeu que os seus familiares estavam dormindo. Quando Humberto entrou em seu quarto, ele retirou de dentro do guarda-roupa sua boneca de plástico que possuía 1, 70 m de altura. Humberto a deitou na cama e começou a acariciá-la como ele teria feito com uma mulher de carne e osso. Em um momento de êxtase, ele a chamou de minha Laura. Humberto olhava para a boneca enquanto pensava na mulher que ele desejava. Humberto tinha uma vida boa apesar de tudo. Todos os dias, ele saia de casa para cumprir seu trabalho que era retirar caixas dos caminhões de carga que chegavam ao supermercado Martins Comércio e Importação. Francamente, Humberto odiava essa profissão, pois usava um macacão amarelo que era muito feio. 

Mundos distantesWhere stories live. Discover now