Capítulo 14

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Humberto estava bebendo vodca no bar quando começou a se lembrar de uma época do passado. Nessa memória, Humberto estava em um caminhão de lixo junto com outros garis. Eles recolhiam sacolas cheias de resíduos. O irmão de Yasmim usava um macacão vermelho. Humberto trabalhou como gari antes de conseguir emprego no supermercado Martins Comércio e Importação.

Em outra lembrança, o homem estava andando na rua. Choveu minutos antes e o céu se encontrava nublado. Formaram-se várias poças de lama naquela rua esburacada depois da chuva. Nesse instante, um automóvel passou por ele e jogou lama em seu corpo.

O motorista do automóvel era um bad boy que era estudante de direito. Humberto viu de relance as pessoas que estavam no automóvel. Havia duas moças no veículo junto com o motorista. Uma delas era a namorada do estudante de direito. Os três jovens riram de Humberto. O motorista desacelerou o automóvel, pôs o rosto para fora da janela e disse em alta voz:

— Ei, catador de lixo, eu tenho um carro e você não. Vá se foder, seu babaca.

A namorada do motorista disse para Humberto:

— Você é um mequetrefe, seu catador de lixo.

O carro entrou em um beco logo após. Naquele momento, Humberto teve vontade de matá-los.

Quando o homem chegou em frente a kitchenette alugada onde ele morava, encontrou o um senhor de 60 anos chamado Batista que era o dono da espelunca. O idoso morava em um cafofo ao lado da kitchenette. O Sr. Batista estava regando as plantas do jardim em frente à residência. O velho parecia enfurecido naquele momento. O Sr. Batista disse assim que viu Humberto chegar:

— Ei, Humberto. Você não me pagou o aluguel nesse mês. Quero saber quando eu receberei o dinheiro do aluguel, seu estúpido.

— Preciso de mais tempo para te pagar, Sr. Batista.

— Você será despejado se não pagar o aluguel em dois dias, seu catador de lixo. Odeio caloteiros.

Humberto ficou enfurecido naquele momento e teve vontade de dizer essas palavras: "Vai para o inferno, seu velho idiota". Mas, Humberto se controlou e falou, suavemente:

— Você receberá o valor. Não se preocupe. Preciso de mais tempo.

— Eu te vejo depois, seu catador de porcaria.

— Eu vou lhe pagar. O senhor não precisa me despejar.

Humberto entrou na kitchenette logo após. De repente, ele voltou para o presente.

Naquele tempo em que Humberto morava sozinho em uma kitchenette alugada, ele já tinha ambição de ser rico e comprava bilhetes de loteria todos os dias. O coração dele disparava quando divulgavam os números da megassena. Humberto nunca perdeu a esperança de ganhar milhões da loteria. Ele sonhava em jantar nos melhores restaurantes da cidade, viajar pela Europa, frequentar os teatros, participar de festas da alta sociedade, beber o melhor champanhe do mundo, usar roupas de grife, morar em uma mansão suntuosa, ter empregados à disposição dele, possuir carros na garagem e outros prazeres terrenos que seu salário miserável nunca poderia comprar. Ele odiava sua vida de pobre. Humberto desejava ser rico.

Mundos distantesWhere stories live. Discover now