Capítulo 83

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O Sr. Aurélio se encontrava dentro de seu estabelecimento comercial. Eram 7 horas da manhã de sexta-feira. O local estava fechado ainda. Uma garçonete organizava as mesas enquanto Aurélio olhava um caderninho onde havia uma lista de seus devedores. Muitos compraram fiado em seu bar. O nome Nero estava naquela lista.

O dono do bar disse:

— Eu vou procurar os caloteiros. Eles tem que me pagar ainda hoje. Aliás, o Sr. Nero me deve 50 reais em bebidas e ele não aparece aqui há mais de 5 meses. A dívida dele é maior do que a dos outros. Acho que vou a residência dele primeiro para cobrar as velhas dívidas.

— Eu nunca mais vi o Sr. Nero nas ruas do condomínio. Acho que ele se mudou.

— O que? Ele não pode ter feito isso comigo. Eu vou à casa daquele patife agora.

Nesse momento, Aurélio saiu do bar através de uma porta lateral. Ele subiu em uma moto que estava estacionada perto da saída e partiu em seguida.

Aurélio chegou à residência de Nero após percorrer vários quarteirões. Chegando lá, o dono do bar desceu da moto, aproximou-se da casa e bateu na porta com estrondo. Em seguida, Aurélio disse em alta voz:

— Nero, você está aí?

Não houve resposta. As janelas e portas estavam trancadas. Aurélio exclamou:

— Apareça seu caloteiro!

O dono do bar subiu na moto e deu a partida no veículo que avançou em direção à porta que caiu com estrondo em seguida.

Em seguida, Aurélio parou a moto na sala e sentiu um cheiro desagradável. O dono do bar tapou seu nariz e disse:

— Minha nossa. Será que há algum animal em decomposição por aqui. Que odor.

Aurélio desceu da motocicleta e subiu por uma escada até chegar ao segundo andar. O homem andou por um corredor e avistou a porta do quarto do dono da casa que estava entreaberta. Aurélio se aproximou do aposento e viu o esqueleto de Nero. Aurélio se assustou e correu para a rua. Ele montou na motocicleta e partiu do local. Em seguida, ele chegou perto de um telefone publico e fez uma chamada para a delegacia.

***

Yasmim estava chegando do trabalho quando encontrou um grupo de vizinhas que estava no meio da rua. Elas falavam sobre a morte de Nero. Yasmim se aproximou das mulheres e perguntou:

— Vocês parecem muito tensas. O que aconteceu?

— Você não está sabendo da última? Nero morreu — disse a primeira vizinha.

— O que? Mas ele faleceu quando? — perguntou Yasmim.

— Os policiais peritos falaram que Nero morreu há pelo menos 5 meses. Quem encontrou o esqueleto dele primeiro foi o Sr. Aurélio. Ele foi até a casa do falecido para cobrar algumas dívidas — respondeu a segunda vizinha.

— Como o Sr. Aurélio entrou na casa? — indagou Yasmim.

— O dono do boteco arrombou a porta com a moto quando ninguém o atendeu. Nisso, ele descobriu o cadáver em um dos quartos da casa. O cheiro do defunto ficou preso dento da residência durante esses meses — respondeu a terceira vizinha.

Yasmim ficou estarrecida nesse momento e falou:

— Que tipo de vizinhos nós somos? O homem morreu há meses naquela casa e ninguém o procurou nesse meio tempo. Nem eu notei a falta dele.

Em poucos dias, todos que moravam naquele condomínio souberam que encontraram o esqueleto de Nero. Os jornais da cidade divulgaram essa noticia triste. O que mais intrigou as pessoas que moravam na cidade é que os vizinhos só descobriam o cadáver de Nero quando ele já estava morto há 6 meses. As pessoas perceberam que a vida em comunidade, os relacionamentos sólidos, a amizade e a solidariedade foram substituídos pela solidão, egoísmo e individualismo no mundo moderno.

Mundos distantesWhere stories live. Discover now