08. previsão do tempo

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AMY

A bateria do videogame portátil morrera após um engarrafamento de três horas na saída de Nova Jersey, logo depois que Will a ajudara na maldita penúltima fase. Amy queria tanto terminar o jogo que havia soltado um gemido de frustração assim que a tela ficara negra. Will ajeitara os óculos e dera de ombros.

— Acontece com os melhores eletroeletrônicos. — Duro feito um robô, ele dera dois tapinhas em seus ombros ossudos. — Recarregamos no próximo posto.

Sem sua principal fonte de diversão, só restara à Amy observar a paisagem pobre da estrada, onde vez ou outra lanchonetes de fast food pipocavam na beira da rodovia. O mapa do celular de Will indicava que estavam em Delaware, que se promovia na placa de boas-vindas como O Primeiro Estado Americano.

Ela suspirou. Além da longa estrada que se abria, o verde das árvores passava por eles feito um borrão e uma música country repetitiva soava no rádio. As meninas conversavam em italiano, rindo baixinho. Lara e Maria apontavam para placas e lanchonetes na beira da estrada, fazendo comentários sobre esta ou aquela rede de fast food em que trabalharam. Will, como sempre, observava Maria de canto, como se ela fosse uma bomba prestes a explodir.

Rompendo a quietude agradável das vozes baixas, um ronco digno do Monstro do Lago Ness tomou o carro. Todos ficaram em silêncio, esperando, mas a barriga de Damian não demorou a roncar outra vez. Do fundão, Amy viu Lara franzir as sobrancelhas.

— Você está bem? — perguntou ela.

— Estou com fome — resmungou ele. — Deveríamos ter parado para almoçar.

— Eu ainda tenho san...

— Não, obrigado — ele declinou rapidamente.

Amy agradeceu por aquela decisão. O cheiro de presunto recém-comido que ainda circulava na minivan, potencializado pelo ar-condicionado ligado e as janelas fechadas, revirava seu estômago.

Seguiram em silêncio até a barriga do imbecil roncar mais uma vez. O locutor do rádio anunciou a última oferta do Burger King, e Amy sorriu com o canto dos lábios. Ela quase podia ver as gotinhas de suor brotando na testa de Damian, que apertou o volante e fechou a cara.

— Certo. Vamos parar numa lanchonete. — Ele desligou o rádio. Seus olhos procuraram qualquer abertura na estrada que pudesse levá-los às ruas. — Pegamos alguma coisa para a viagem e... e seguimos. Para não perder tempo.

Lara não conseguiu responder porque no primeiro desvio que encontraram, Damian embocou feito um furacão. Amy se segurou no banco da frente enquanto faziam uma curva fechada. As mochilas de Hello Kitty rolaram para cima das pernas de Maria, e Lara se segurou no puxador de teto do lado do carona. No porta-malas, Amy ouviu os bottons de sua mochila se chocarem contra alguma coisa metálica. Will tateava o chão atrás dos óculos.

— Sinto muito! — Damian gritou para os motoristas que buzinaram com fúria. Ele afundou o pé no acelerador e, assim que se viram nas ruas, olhou para ambos os lados. — Agora só precisamos encontrar um bom lugar para parar.

Cortando mais alguns carros, que enfiaram as mãos nas buzinas e levantaram o famigerado dedo do meio, pararam num pequeno estacionamento de esquina, na lanchonete mexicana mais barra-pesada que encontraram. Num letreiro de néon, o nome do lugar, Taco Alegre, brilhava entre feijões dançantes usando sombreros mexicanos. Se do estacionamento o cheiro de feijão e gordura já era insuportável, Amy não tinha a mínima vontade de descobrir como era o interior do lugar.

Todos desceram do carro, exceto Will, que se abaixou entre os bancos — o máximo que sua estatura avantajada permitia — para procurar pelos óculos perdidos. Na curva acentuada que Damian fizera ao entrar no estacionamento do Taco Alegre, os óculos de aro grosso de Will voaram de seu rosto, caindo no chão da minivan. Cego feito uma toupeira e com o rosto vermelho pelo esforço, ele tateava cada centímetro do carro em busca dos óculos.

Sete Lugares | ✓Where stories live. Discover now