AMY
— Como diabos ele consegue sumir numa cidade com menos de mil habitantes? — Damian colocou as mãos na cintura e trincou os dentes, andando de um lado para outro no quarto. Amy, sentada na cama de Will, observava ele ir da porta do banheiro à cômoda, passando pela cama e refazendo o trajeto. — Quando eu penso que o William não consegue inventar outra coisa, ele some nessa cidadezinha medíocre assim que amanhece.
Amy sorriu, abaixando a cabeça.
Tão logo havia acordado, jogara uma água no rosto, refizera a maquiagem e fora chamar Will e Damian para engolir um café e seguirem viagem. Hoje é o dia, e nada pode dar errado. Entretanto, quando Damian abrira a porta com o semblante fechado e a notícia do sumiço de Will, o coração de Amy se apertou. Se não chegassem à Flórida hoje, todo o esforço teria sido em vão. E isso não pode acontecer.
— Você acha que aconteceu alguma coisa? — perguntou ela. Damian negou com a cabeça, encarando o carpete. — Tipo, que ele poderia ter saído antes de você acordar e...
— É impossível. Tenho certeza absoluta que ele não voltou. — Damian coçou o queixo, pensando. — Você sabe se aconteceu alguma coisa na festa? Tipo, depois que eu saí...
Amy coçou a cabeça. A festa estava boa, a música country depois de uma cerveja ficava menos irritante, os docinhos eram incríveis, alguns casais caíram de bêbados, mas fora o normal, nada acontecera. Exceto por aquela senhora subindo na mesa e levantando as saias, a festa havia sido relativamente normal.
— Se aconteceu, não vi — respondeu ela, dando de ombros. — Eu estava com Giorgia e Alessia, mas as garotas ficaram com sono, eu também fiquei com sono e de saco cheio de ouvir música country e fui embora com elas. Will ficou Maria.
Damian parou de caminhar pelo quarto. Os olhos dele se grudaram aos dela como se Amy tivesse dito os números da loteria.
— Will ficou com Maria? — perguntou ele. — Você tem.. tem certeza disso?
— Sim. Quando saí eles estavam dançando e rindo. E bebendo — respondeu Amy. — Maria estava bem... alta. Will teve que juntá-la do chão algumas vezes.
— E Lara? — perguntou Damian, como se tivesse medo que as palavras escapassem. Amy ficou em silêncio, franzindo o cenho. Sem graça, ele massageou a nuca. — Ela, tipo, voltou para a festa?
Damian, antes fazendo perguntas como se fosse um detetive policial de filme B, agora parecia um adolescente tímido que usava as palavras com cautela. Amy o encarou.
Quando voltou ao quarto com as garotas, havia encontrado Lara sentada na cama com as pernas encolhidas, mordendo a unha do polegar e olhando para a janela como quem precisa resolver um problema sem solução. As garotas, apesar do sono, correram para o abraço da mãe, arrancando-a da contemplação solitária. Naquele breve segundo, Amy percebera um brilho esquisito no olhar de Lara, que ouvia as filhas falarem sobre as danças e doces como se não ouvisse. Como se estivesse se sentindo culpada.
Damian a encarou, pressionando pela resposta. Amy sorriu com o canto dos lábios.
— Lara não voltou para a festa. Quando cheguei com as meninas ela já estava no quarto, e aí apaguei. — Ele assentiu. Amy deu de ombros. — Mas Will estava na festa com Maria. Disso tenho certeza.
— Você acha que eles...
Damian começou, mas se calou logo em seguida, sentando-se na cama em frente a ela. O ventilador de teto grunhiu, o cheiro de camomila dos lençóis bem lavados encheu o quarto e Damian, parecendo um garotinho de bochechas coradas e olhos brilhantes, inclinou-se como se fosse contar um segredo a ela. Amy, involuntariamente, fez o mesmo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sete Lugares | ✓
General FictionDamian Harris nunca teve a vida perfeita, mas cruzar o país numa minivan sem potência de motor com crianças bizarras, duas imigrantes ilegais, seu amigo esquisitão e uma filha adolescente recém-descoberta era rir na cara do destino. Mas não era como...