12. hora do show

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MARIA 

— Vocês querem que a mamma conte uma história para vocês?

Maria se espreguiçou e enfiou o pijama enquanto Lara permanecia sentada na beira da cama de casal que dividiria com as meninas. Giorgia, sorrindo com seu sorriso banguela, negou com um gesto de cabeça. Com o quarto envolto na claridade amarelada da luz do abajur aceso, a pequena disse:

— Já somos crescidas para ouvir histórias, mamma.

— Crescidas! — exclamou Lara, rindo e fazendo cócegas nas garotas. — Não acredito que estou realmente ouvindo isso! Vão dormir, suas pestinhas.

Elas riram, esquivando-se das cócegas da mãe. Lara beijou a testa de Giorgia e Alessia, e cobrindo-as com a colcha de florzinhas, ergueu-se da cama. De costas para a pequena cômoda do quarto, Maria percebeu os ombros da irmã se curvarem enquanto seu rosto, colorido pela luz, observava as filhas com um sorriso cansado. Os sons dos carros chegavam até elas como um ruído de fundo tranquilizador que não demorou a pesar as pálpebras de Giorgia e Alessia.

No silêncio aconchegante do quarto, Maria venceu os poucos passos até a irmã mais velha e a abraçou por trás, descansando a cabeça em suas costas. Lara riu, acariciando os braços de Maria com batidinhas afetuosas. Dando um beijo na bochecha da irmã, Maria perguntou:

— No que você está pensando, sorella?

Perguntar o que a outra estava pensando era um ritual antigo entre elas. Maria, sempre mais extrovertida do que a irmã, geralmente era a responsável pela pergunta. Sendo apenas dois anos mais nova do que Lara, Maria via nela um constante exemplo do que fazer e, raramente, do que não fazer. A irmã mais velha sorriu cansada.

— Nada importante, Mimi. Só estou... exausta por causa da viagem.

Maria apertou os braços ao redor de Lara, sentindo seu cheiro de giz de cera, biscoitos e sabonete de flores. Lara ficou em silêncio, refletindo. Maria podia imaginar as engrenagens da cabela dela trabalhando enlouquecidas atrás de uma forma eficaz para desviar o assunto.

De alguma maneira, a irmã mais velha estava diferente, com o olhar distante e preocupada com algo. O quê? Sentimento, ela pensou, o mesmo sentimento estranho que tive no navio e na estrada está de volta.

— Estou pensando em Amy — disse Lara, olhando em volta. — Ela saiu?

Maria suspirou e se afastou, atirando as roupas sujas numa sacola plástica. Mais uma vez Lara desviara o assunto.

Depois de ouvirem aquelas barbaridades na mesa, Amy saíra para o estacionamento da Pensão Rob Alegre, sumindo atrás do prédio com seus coturnos desamarrados e a mochila esfarrapada.

— É, ela foi tomar um ar. — Maria amassou as meias coloridas que tanto adorava, enfiando outras roupas na sacola. — Não a culpo. Depois de toda aquela merda que fomos obrigadas a ouvir, a garota não poderia fazer coisa melhor.

— Aliás, falando nisso...

Maria fez uma careta antes de se virar. Como esperado, encontrou Lara de braços cruzados e apenas uma sobrancelha erguida. Como diabos ela sempre conseguia levantar apenas uma sobrancelha? Aquilo só podia ser pura feitiçaria. Ela sabia exatamente o que a irmã insinuava.

A mentirinha sobre ela ser casada com Damian e todo o resto não fora planejada. Maria precisava de alguma lorota para se livrar daqueles caipiras imbecis, e a história da família feliz caíra como uma luva.

— O idiota do Papa Rob engoliu a mentira, não foi? — Maria deu de ombros, enfiando a calcinha usada dentro da sacola. Lara permaneceu com a mesma pose que a mãe delas mantinha quando as duas roubavam docinhos da vizinha. — Relaxa, sorella. Foi uma mentirinha inocente, ok? O cara estava morrendo de medo que o Damian estuprasse as filhas dele, então eu menti que ele era casado com você.

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