28. fim da linha, caro cognato

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MARIA

Bocejando, ela fechou a porta do quarto e desceu as escadas do motel Super 7 com os olhos semicerrados contra o sol da manhã. Por que diabos tudo na Flórida precisava ser tão brilhante o tempo inteiro?

Enquanto se arrastava pelos degraus, Maria viu Damian e Lara discutindo no estacionamento. Ele negava com um gesto de cabeça firme e ela tinha as mãos na cintura, argumentando com um sorriso cansado o que quer que fosse. Não muito longe da minivan, Giorgia, Alessia e Will assistiam a vídeos no celular, alheios aos gestos dos dois.

Maria sorriu ao se lembrar da troca de olhares entre Damian e Lara no teatro e na hora do jantar. Depois da conversa com Will, Maria havia feito o que fazia de melhor: pressionar a irmã mais velha. As meninas roncavam na cama de casal quando Lara confessou, de rosto corado e entre sussurros, que os dois haviam se beijado na minivan na noite da festa.

"Mas não foi nada, Maria", dissera Lara, dando pouca importância a um assunto. "Fomos pegos num momento de fraqueza. E pensei em Gérard o tempo inteiro..."

Certo. Damian não era um Mister Universo, mas entraria sem dificuldades na categoria de un bello ragazzo. Apesar de irritável e reclamão, ele era divertido e estava sempre rindo e comendo doces com as meninas. Fora que o vizinho era possuidor de ombros notáveis e um perfume gostosinho, além de olhos azuis interessantes. Só Deus sabia o quanto Maria gostaria de ver a irmã com um cara cheiroso e bonitão que realmente gostasse dela.

Olhando para eles, ambos absortos na conversa, Maria pensou que poderia dar certo. Se Lara não ficasse com aquela bosta ambulante de marido, poderia dar certo.

— Ainda bem que você acordou — disse Amy, quando ela atingiu a ponta das escadarias.

A garota ainda conservava um resquício da maquiagem que Maria fizera no dia anterior para a apresentação, além de trazer os cabelos tingidos de preto presos num rabo de cavalo bem feito.

Sorrindo com malícia, Maria comentou:

— Ei, buongiorno! Não me lembro de ter visto você voltar ontem à noite...

Durou dois segundos. As maçãs do rosto de Amy coraram, mas ela foi rápida em desviar o assunto.

— Um dos quartos dos meus amigos tinha uma cama sobrando. Acabei ficando por lá. — Ela sorriu sem graça. — Mas o que preciso falar com você é mais importante. Lara quer pegar um ônibus para levar as meninas para verem o pai. — O sorriso encabulado nos lábios de Amy se transformou numa risadinha maliciosa. — Só que Damian não quer deixar.

Maria sorriu de volta. Agora aqueles pequenos cuidados, olhares sorrateiros, e o saco de biscoitos decorados com a bandeira da Itália que Damian comprara para Lara no posto, e que as garotas devoraram em segundos, faziam mais sentido.

As duas se aproximaram. A primeira coisa que Maria ouviu foi a voz de Damian. Ele balançava a cabeça e suas mãos fortes estavam erguidas num gesto defensivo. A expressão dele era séria, como a de um vendedor negando uma oferta insistente.

— Esqueça, Lara. Vocês não vão pegar um ônibus numa cidade estranha, correndo o risco de serem assaltadas por um maluco qualquer.

— Não temos dinheiro — insistiu Lara. Ela usava o mesmo vestido da noite do casamento e o cardigan verde. Além do vestido, Lara usava o velho All Star branco manchado de tinta. Maria riu. Ela parecia uma boneca. — É bem possível que o ladrão nos dê algo ao invés de nos roubar.

— Pior ainda! — retrucou ele, baixando a voz. — Você pode levar uma facada ou o cara pode machucar as meninas. Sem chance. Se alguma desgraça acontecer, não quero ser o responsável.

Sete Lugares | ✓Where stories live. Discover now