13. café de hospital

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AMY 

Assim que Will fechou os olhos de novo, Amy cutucou sua perna. Ele encarou o teto da minivan com olhos mortos, piscando devagar. O rosto de fuinha de Will estava desfigurado pelos socos de Rob Filho, e o filete assustador de sangue seco em seu nariz torto o deixava parecido com Rocky Balboa depois de apanhar daquele russo imenso no quarto filme da franquia. A camisa de Will estava empoeirada e ensanguentada, e além de sua respiração fraca e do ruído macio dos pneus na estrada, nenhum som era ouvido.

Maria, Giorgia e Alessia estavam ajoelhadas no banco da frente, olhando fixamente para Will, como se ele fosse a mulher barbada do circo ou uma bomba prestes a explodir. Por cima de suas cabeças, Lara dividia a atenção entre a estrada e o estado de Will, esfregando a medalhinha entre os dedos. Damian, por outro lado, conferia pelo retrovisor se o amigo ainda respirava.

— Estou com sono — reclamou Will, fechando os olhos mais uma vez.

— Cara, você não é louco de dormir — retrucou Maria. Amy percebeu uma mistura de preocupação e ansiedade no olhar dela e assentiu, cutucando Will para não perder o hábito. — Quanto tempo para o hospital ainda?

— Não sei — respondeu Damian, nervoso. — Mas já vamos chegar. Já vamos chegar.

Ele repetiu aquilo mais duas vezes antes de tudo ficar em silêncio novamente.

— Cara! — Maria empurrou os joelhos de Will quando ele encostou a cabeça e tentou dormir sem que ninguém percebesse. — Você não pode dormir. Que droga!

— Ele precisa ficar bom para me contar histórias da Condeferação — disse Alessia, abraçando o ursinho de pelúcia com uma voz chorosa.

— O Sr. Greene vai morrer, mamma? — perguntou Giorgia, os olhos marejados.

— Claro que não, pupa — disse Lara, mas sua voz não soou tão segura quanto Amy gostaria. — O Sr. Greene vai ficar bem. Todos nós vamos ficar bem.

— O que você está sentindo? — perguntou Amy quando Will fez uma careta.

— Sono. — Ele sorriu. Seu rosto inchado se contorceu, e Alessia se abaixou no banco da frente, com medo de Will. — E tristeza. Muita tristeza.

— Tristeza? — Maria franziu o cenho.

— Perdi meus óculos — respondeu ele devagar, engolindo a saliva com dificuldade. — E queria ter comido mais um bolinho. Mama Rob não parecia feliz. Eles governam uma pensão cheia de mentiras e... tristeza.

— Hospital! — gritou Damian, saindo da rua principal e entrando no estacionamento em alta velocidade. — Estamos quase lá, amigão. Aguente firme.

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O pior de tudo, pelo menos para ela, era a maldita espera. O ambiente de hospital já era assustador o bastante, mas a espera... a espera era de matar.

Estavam num daqueles corredores com azulejos brancos até a metade da parede, pessoas de jaleco passando apressadas de um lado para outro, cadeiras de plástico azul que rangiam como uma porta de cemitério e uma máquina de refrigerantes que fazia um clank bizarro quando alguém enfiava moedas em troca de uma lata de Coca-Cola.

Lara tentava distrair as garotas, que perguntavam a todo momento se Will morreria. Maria olhava fixamente para a porta que separava a recepção das salas de atendimento, como se pudesse abri-las com a força do pensamento. Damian permanecia sentado numa das cadeiras azuis, um pouco distante do resto, e atacava cada médica e enfermeiro que passava pelo corredor apesar de ouvir sempre a mesma resposta:

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