21. nova tentativa

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LARA

Até que a pequena cidade de West Creek não era de todo ruim. As casinhas pintadas em tons sóbrios, em sua maioria com a bandeira dos Estados Unidos hasteada orgulhosamente do lado de fora, os gramados bem aparados, os canteiros de flores perfeitos e as cerquinhas brancas eram uma visão relaxante para Lara. Acostumada ao cheiro de fumaça de Nova York, aos gritos de prostitutas e ao metrô lotado, onde sempre tinha alguém fantasiado de Darth Vader ou Indiana Jones, perceber a existência de West Creek era como estar num mundo paralelo.

Lara caminhou pela calçada imaculada com a sacolinha de papel pardo da farmácia nas mãos, indo com um sorriso no rosto até a praça que, segundo Hershel, era o orgulho da pequena West Creek. Quando se aproximou, ela entendeu o porquê.

Canteiros de flores dividiam o espaço com árvores de tronco grosso e copa acolhedora, além de bancos de madeira colorida, balanços e um gira-gira para as crianças. Passarinhos se banhavam em fontes de pedra e havia até um coreto no centro da praça, vazio àquela hora da tarde.

Se não fosse por eles, tudo estaria vazio.

Will estava sentado na grama com Maria, que falava e gesticulava como se contasse uma história a ele. Amy, jogada num dos balanços, tinha os fones enterrados nos ouvidos e marcava o ritmo da música com a cabeça. Mas cadê...?

O olhar de Lara varreu a praça atrás das filhas. Ela franziu o cenho ao ver Damian sentado entre Giorgia e Alessia num dos bancos da praça, os três virados de costas para onde ela estava.

Lara sempre fizera de tudo para que as garotas não incomodassem o vizinho. Quando saíam para um passeio ou para ir à escola, bastava um olhar seu para que as filhas não fizessem algazarra no corredor do prédio, para que não incomodassem ou brincassem alto demais.

Vê-los sentados lado a lado era curioso porque Damian não fazia o tipo de cara que gostava de crianças. O cara que sorria quando ela e as meninas saíam no corredor, que comentava coisas do tipo: "Meu Deus, elas estão crescidas, hein?"

Entretanto, quando se aproximou, Lara ouviu risadas.

— ...e eu falei que o de maçã verde era o melhor! — disse Damian, rindo e mastigando. As garotas não pareceram convencidas. — Qual é! Vocês precisam aceitar a verdade, meninas.

— O signore está tentando nos enrolar. — Giorgia cruzou os bracinhos magrelos. Lara viu uma canetinha hidrocor em sua mão direita. — O Skittles de uva é o melhor. E o de morango. Ninguém gosta do de maçã verde.

— Como não? Eu gosto.

— Gosta porque sei pazzo, signore! — disse Giorgia, dando um tapinha na perna dele.

Lara congelou. As filhas chamaram o vizinho de louco com um sorriso no rosto, rindo às gargalhadas da expressão atordoada de Damian. Ele, que graças a Deus não entendia porcaria nenhuma de italiano, franziu o cenho. Giorgia e Alessia soltaram mais algumas risadinhas.

— Não faço a menor ideia do que isso significa, mas obrigado — disse ele, rindo também. Damian mastigou mais alguns doces. — E aí, como está ficando o meu unicórnio, Alessia?

— O máximo! — respondeu a pequena, curvando-se no banco. — Agora o signore será rico de verdade. Mamma!

Lara sorriu sem graça quando os três viraram os rostos, quase como se tivesse sido pega fazendo algo que não devia. Ela deu a volta no banco, colocando as mãos na cintura. A luz do sol ofuscava os três quando Lara disse:

— Espero que não estejam incomodando o Sr. Harris...

No, mamma — respondeu Giorgia. Um sorriso banguela iluminou seu rosto travesso. — Estamos comendo doces.

Sete Lugares | ✓Where stories live. Discover now