26. Batman & Robin (pt. I)

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WILL 

Quando Will se atreveu a olhar para o relógio de pulso, os ponteiros indicavam que era 18h30. Cravado. Ao seu lado no banco de trás, Amy apertava o celular entre as mãos, grunhindo a cada semáforo vermelho e checando as mensagens que não paravam de pipocar na tela. Os cabelos negros presos num coque firme, que Lara fora rápida em fazer, combinavam perfeitamente com a collant escura que Giorgia e Alessia escolheram entre poucas opções socadas na mochila de Amy.

Olhando para ela, Will percebeu que a garota era a mistura balanceada entre Damian e Diane. O nariz arrebitado e o queixo pontudo da mãe contrastavam com os olhos azuis e as sobrancelhas espessas do pai. Will sorriu, mesmo sabendo que seu rosto ainda estaria esquisito pela surra de Rob Filho, quando a garota virou os olhos azuis habilidosamente maquiados por Maria em sua direção, procurando por um pouquinho de conforto.

— Não se preocupe — murmurou ele, dando duas palmadinhas afetuosas nos ombros ossudos de Amy. — Vamos chegar lá e tudo dará...

Mas Will não terminou a frase. Damian pisou no freio, subindo na calçada e quase atropelando uma senhora na frente do Olympia Theater. A entrada com luminosos estava acesa e, por estar quase na hora do espetáculo, ninguém se acotovelava em frente ao teatro.

Apertando o celular entre os dedos, Amy permanecia imóvel, como se estivesse colada ao estofamento da minivan.

— Ei, vão comprando as entradas — pediu Damian, dando alguns dólares à Lara. — Vou só ali estacionar. Me esperem no saguão.

— Beleza, cara! Agora corram, bambine! — Maria saltou da minivan, batendo palmas para as sobrinhas saírem. — Vamos, vamos! Está quase na hora.

Mal Will tocou a calçada, Damian afundou o pé no acelerador, fazendo uma curva acentuada e sumindo na hora do rush. Compraram as entradas na bilheteria do teatro e empurraram as portas do saguão. Exceto por um homenzinho de bigode num pequeno púlpito branco, checando as entradas e os papéis, não havia muito para ser visto. Alguns familiares dos competidores chegavam atrasados, portando câmeras e crianças barulhentas para a checagem do homenzinho. Na fila, Will ergueu o punho da camisa. 18h40. Porra, Damian.

— Esse trânsito está uma porcaria! — reclamou Damian, surgindo atrás deles. — E aí, já compraram tudo?

— Já — respondeu Maria, segurando Giorgia e Alessia pela mão enquanto Lara contava as moedas da niqueleira puída que trazia consigo. — Só falta falar com o cara.

— Isso aí está no papo. Relaxem.

O estômago de Will deu duas voltas quando Damian piscou. Aquela piscadela sempre era prenúncio de desgraça.

Uma família carregada com filmadoras baratas entrou no teatro. Assim que as portas se fecharam, foi a vez deles de apresentar as entradas. Damian se apoiou no púlpito, espalmando a autorização e as entradas na frente do homenzinho, que apertou os olhos.

— Aqui está, camarada. — Sorrindo, Damian deu uma olhadinha no relógio. — A garota vai se apresentar, então se você puder se apressar...

O bigode do homenzinho tremelicou, mas ele não ergueu a cabeça. Com mãos de dedos finos, destacou as entradas e empurrou-as por cima do púlpito. Em seguida, com uma expressão compenetrada, avaliou a autorização amassada que Damian havia assinado na loja de conveniência do posto de gasolina em que Amy se trocara.

Então, o homenzinho fez o que ninguém gostaria que fizesse: esticou as mãos de dedos finos e unhas bem polidas para Damian.

— Preciso do documento que comprove a filiação ou a responsabilidade do senhor pela menor.

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