Capítulo 4

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A semana seguinte começou bem tranquila, menos no ballet, acho que por conta das aulas intensas eu já mal me aguentava em pé no fim do dia, sempre dormia nos ônibus, morria de medo de dormir, nem por passar do ponto ou acontecer algo, mas por ficar de boca aberta, ou babar, que mico, mas o que sempre acontecia era eu acordar na frente de casa, não sei como.

- Ih a lá, todo bambi – Ouvi um menino sem camisa falar e só consegui andar reto.

- Vai princesa – Um outro que eu nem vi quem era falou.

Depois os outros ficaram rindo e comentando coisas que eu não conseguia ouvir, me odiei por ter dormido e passado do ponto, eles sempre ficavam no mesmo lugar e eu passava lá, que raiva, não tinha vergonha de ser gay e nem de não ser tão masculino quanto Edu, meu cabelo era cacheado, ia até os ombros, minha cintura era fina, eu me depilava, me vestia com bermudas curtas, coladas, e tinha trejeitos femininos, bem gay, não queria perder nada daquilo, mas eu estava começando a ficar incomodado com a situação dos meninos.

Naquela semana organizamos a Gincana do Bem na escola, foi muito legal, arrecadamos mais de trezentos quilos de alimentos não perecíveis, inúmeras mensagens que os alunos mandaram pra amigos, recebemos depoimentos de pais e amigos dos alunos que agradeciam pela gincana, tiveram grupos que visitaram asilos, outros foram em orfanatos, foi muito bom ver a escola tão animada.

Irani estava toda boba, era uma incentivadora de todos os projetos que reforçassem o espírito de equipe e que ajudassem as pessoas, principalmente os desfavorecidos. Foi uma semana super longa, trabalhamos como nunca, a sala de dança estava abarrotada de doações e alimentos, a do grêmio cheia de brinquedos e papéis, foi muito bom.

No fim de semana decidi sair, fazer algo pra mim. No primeiro sábado do mês tinha ido levar meu pai e saído com Tomás, no segundo meus amigos foram lá pra casa e agora eu queria ficar sozinho, decidi ir na praia, eu amava, era uma coisa que eu sempre fazia e morava mais ou menos perto.

Peguei tudo que eu precisava e saí do apartamento, quando cheguei no andar térreo e abri a porta do elevador e dei de cara com Tio Carlos e Tia Kate, pareciam estar voltando da casa dos amigos, riam e conversavam, quando me viram ficaram sem reação, não falaram nada, o homem ergueu as sobrancelhas e ela mostrou um sorriso.

- Oi – Falei e dei um abraço nela.

- Oi meu filho, tudo bem? – Perguntou me olhando.

- Tudo sim tia, e vocês como estão? – Respondi enquanto ia falar com ele.

- E aí campeão? Estamos bem, saudades de você lá em casa, ta melhor hein, voltou a comer? – Rimos.

- Sim, uma hora a gente sente fome né? – Brinquei – Essa semana vocês foram ver o Edu né? E aí como ele ta tio?

- Olha Lipe – Tio Carlos abraçou a esposa – Ele ta muito bem – Abri um imenso sorriso, e nem sei por que mas meus olhos ficaram úmidos – Ta comendo pra caramba, tem jogado futebol lá, já conhece várias pessoas e tem aceitado todas as fases do tratamentos, agora só vamos ver ele em outubro, dois meses longe – Olhou pra esposa – Mas vamos aguentar.

- Eu sei que eu digo isso o tempo todo, mas obrigada ta? Se ele agora tá lá foi porque você insistiu em ficar do lado dele, em ir buscar ele no morro, nós nunca esqueceremos nada disso – Tia Kate falou sorridente – Mas me conta, pra onde está indo assim todo bonito? – Secou os olhos.

- Eu? Pra praia, essa semana foi puxado lá na escola, preciso dar uma volta – Respondi e eles balançaram a cabeça concordando.

- Fica bem garoto, a gente te ama – Meu ex-sogrão falou me fazendo rir enquanto eu ia andando de costas até chegar na porta de vidro, estava olhando pra eles.

DE AMIGO PARA NAMORADO - SurpresasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora