Capítulo 6

957 134 310
                                    

Se antes os dias se arrastavam agora a situação era bem diferente, o relógio parecia correr e eu tentava segurar o tempo, mas era impossível, tudo isso por causa do Rodrigo, na verdade não sei se posso por a culpa nele, a situação era complicada, só sei que tudo desandou.

- Você também nem fica em casa – Falei pondo a mão na cintura.

- Claro, eu vou pra Ritinha, não tem nada pra fazer aqui – Retrucou.

- Quando você ta aqui come quase tudo e me deixa com nada, o pai manda pouco dinheiro – Lembrei a ele.

- Eu sei, mas eu to acostumado a ter minhas coisas, ta complicado viver essa vida, lá na academia a coisa ta pesada, mal to conseguindo tirar alguma grana, tem pouca competição rolando – Rodrigo disse se apoiando na janela.

- Eu fui fazer comida e só tem arroz Rodrigo, tinha três bifes pra fritar, nós estamos no dia dezessete, ainda tem mais duas semanas, como vamos fazer? – Indaguei.

- Não sei, quem ta acostumado com essa vida é você e o nosso pai, eu não, desculpa, mas não vou gastar meu dinheiro em casa, tenho que comprar vitamina, suplemento, roupa de treino – Declarou.

- Ta falando sério? Eu não tenho dinheiro! Não trabalho – Falei.

- Não tem mais porque fica saindo todo fim de semana, não to reclamando que você sai, mas pra encontrar seus amiguinhos você tem grana e não vai ser difícil passar a semana, no sábado você vai parar em algum lugar legal com o Tomás – Falou num tom meio de inveja.

- Rodrigo, eu não to acreditando no que eu to ouvindo – Falei segurando ele pelos ombros que continuou com a mesma cara.

- Você sempre viveu com a mãe, com o pai, sempre foi mimadinho, nunca soube nada da vida, sofreu umas coisas com o Edu e acha que é alguém, na boa Filipe, to cansando disso aqui – Falou seco, já estava me dando ódio.

- Rodrigo, não muda de assunto, o que o pai manda da pra pagar as contas e comer, quando você ta aqui em casa gasta mais do que eu, tudo bem que eu demoro no banho, mas você madruga jogando videogame, come sem parar – Disparei.

- Na boa, você pode ficar com essa casa toda pra você, em São Paulo eu vivia bem melhor do que aqui e não tinha que ficar cuidando de você, que é igualzinho a mãe e o pai, e eu nunca consegui morar com nenhum dos dois – Retrucou.

- Você não cuida de mim Rodrigo, eu mal te vejo em casa – Falei.

- Ótimo, já tinham me chamado pra uma competição lá pra depois da serra, vou dar aula um tempo lá, você se vira tão bem sozinho né? Então se vira aí – Cuspiu as palavras e foi pro quarto.

Que vontade de chorar de raiva, mas eu já tinha aprendido o valor que uma lágrima tinha e não iria derramar nenhuma por Rodrigo, eu não sabia o que fazer, não ia preocupar meus pais com aquilo, meus amigos não podia me ajudar, jamais falaria aquilo com Tomás, não queria envolver Tia Kate ou Tio Carlos nisso, eu precisava dar um jeito.

As coisas pra eu levar pra escola de Arte tinham acabado, ou seja, eu saia do colégio, passava em casa, almoçava correndo, ia pro ballet tinha várias aulas, saia morrendo de fome e chegava em casa comendo o que eu visse pela frente. Não me pergunte como, mas fiz um pote de margarina onde tinha feijão congelado durar a semana inteira.

Sem falar o milagre com o arroz que estava rendendo, carne tinha acabado, e meu estoque de ovos estava no fim, salada também, ainda bem que lá em casa sempre teve muita batata, estava hidratado como nunca, porque como não tinha suco eu bebia água, ás vezes me dava vontade de chorar, mas não tinha direito de fazer isso, tinha gente que não devia ter nada pra comer ou só comia uma vez por dia e agradecia.

DE AMIGO PARA NAMORADO - SurpresasWhere stories live. Discover now