Capítulo 38

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Fui caminhando na direção dele, aquela noite fria de outono, um vento fino e gelado, segurei no portão pra abrir, ele pôs a mão em cima da minha e grudou a testa nas grades, fiz o mesmo, ficamos assim um tempo e tive certeza do que pensei, ele tinha chorado, abri o portão e fiquei parado, o loiro deu alguns passos pra trás, tava colado no carro, pus a mão na boca enquanto algumas lágrimas caíam, segurei meu corpo com minhas mãos, a fim de segurar eu mesmo, lentamente fui andando na direção dele, que abriu os braços e circulou meu corpo, me deixando sem movimento, enfiei a cara no peito dele, respirei fundo ali nem sei quantas vezes.

- Nós precisamos conversar – Me disse, o olhei concordando num sinal com a cabeça.

*

- Você quer subir? – Perguntei com a voz fraca.

- Quero – Ele disse afastando um pouco nossos corpos, pra que pudéssemos nos olhar.

Segurei na mão dele, o portão tava encostado, enquanto eu o abraçava um morador do prédio saiu, mas não bateu, logo fomos pra dentro. Caminhávamos lentamente, quando abrimos a porta do elevador vimos Tio Carlos, tava saindo.

- O-oi Felipe – Ele disse meio atrapalhado, parecia ter sido pego de surpresa.

- Oi tio – Devolvi.

- Boa noite – Tomás falou e o homem respondeu o mesmo.

- Filipe, eu precisava falar com você rapidinho – Disse esfregando as mãos.

- Tudo bem – Disse fitando Tomás que me lançou um olhar que a traduzido seria: eu não vou sair daqui.

- É, então – Tio Carlos percebeu que meu namorado não ia sair e isso pareceu deixou o homem um pouco mais nervoso – Ah, eu não vou fazer cerimônias, olha, esse negócio de não falar com você, não falar com o Edu, eu não acho nada disso legal, inclusive quero participar desse momento, se eu vou ser avô, ok! Não acho o melhor momento pro Eduardo ou a melhor situação, mas vou fazer o que? – Abriu a carteira – Eu queria ajudar – Dizia enquanto separava algumas notas de cinquenta reais.

- Tio, não, por enquanto não precisa – Falei.

- Então eu vou guardar e essa semana nós vamos fazer umas compras pros bebês – Ele disse com um sorriso, fiz o mesmo – Eles já tem nome?

- Ainda não tio – Falei um pouco cansado.

- Tudo bem, só escolhemos o do Edu no fim da gravidez, vou te deixar ir, mas o que precisar me chama! – Me abraçou – Tchau Tomás – Se despediram e ele foi.

Eu e meu namorado nos olhamos, nós dois tínhamos um risinho meio sem jeito, entramos no elevador, o abracei até a hora de sair da cabine, entramos no apartamento. Eu queria conversar no quarto, ele no sofá, acabamos ficando no estofado, ele sentou e fiz o mesmo, estávamos bem perto, nossos pés se tocavam em cima do tecido do móvel, fazia frio, o inverno logo chegaria com tudo.

- Eu tomei uma decisão, na verdade várias, mas a principal é

- Espera – Interrompi ele, silêncio – Eu preciso me preparar, não sei o que você vai dizer, e – Me segurava pra não chorar, a ideia de ouvir o não do Tomás era horrível, mas eu sabia que ela existia, e talvez maior do que dizer sim, mas eu não queria acreditar naquilo.

- Filipe – Ele disse sério – Calma – Tava tranquilo, respirou e soltou o ar – Eu decidi que não vou ficar me medindo mais, me podando, comecei a fazer isso no meu relacionamento anterior, me trouxe algumas coisas boas, mas eu sinto falta da pessoa que eu era, então eu vou fazer o que me agrada, e não o que agrada as pessoas – Concordei com a cabeça – Dito isso, quero dizer que sim, vou ser o pai do bebê.

DE AMIGO PARA NAMORADO - SurpresasWhere stories live. Discover now