Capítulo 35

1K 90 242
                                    

O Ballet voltou com tudo! Tudo mesmo! Estávamos recebendo tratamento de anos finais. Cada dia a coisa ficava mais intensa, os exercícios agora eram como espetáculos, dançávamos sequências que mais pareciam variações, e as aulas de alongamento serviam para destruir a nossa alma, era bem comum ter Tia Lena erguendo minha perna além do que eu aguentava.

- Elevê na perna de base, perna de fora à cento e trinta e cinco graus, isso aí, quero ver essas pernas bem no alto! – Ela parecia satisfeita – Muito bem último ano! Quero ver técnica, beleza, suavidade, resistência, não tem mais quinto pré aqui, é profissional! – Todos no centro!

- Minha nossa essa mulher vai acabar com a gente! – Vitório me disse baixinho.

- Também acho – Sorri.

Voltei pra casa de ônibus, aproveitei pra pensar e por os pensamentos em ordem. Tinha acontecido tanta coisa nos últimos dias que parecia que de repente eu havia pulado nas costas do Usain Bolt e agora estava fazendo 10 segundos em cem metros. Acho que mesmo que eu quisesse não conseguiria explicar tudo sozinho.

**

Por Tomás:

- Meu filho, como foi lá? O que é que está acontecendo? – Minha mãe perguntou assim que me viu estirado no sofá da sala com o antebraço sobre o rosto.

- Ta tudo bem mãe, fique tranquila Dona Val, não é nada demais – Falei forçando um sorriso.

- Tomás meu amor, te conheço antes mesmo de sair do meu útero, sabia quando você estava agitado dentro da barriga, não saberei o que se passa agora? – Disse com aquele jeito que só ela tinha. Minha mãe era minha musa inspiradora!

- Muitas coisas mãe – Sentei e lhe dei mais espaço.

- Como ele está? – Perguntou.

- Ah mãe, não muito bem, e não sei o que fazer para ajudá-lo! – Me preocupei.

- Dê o tempo dele meu bem, mas não muito – Disse e rimos, sim, era pra eu dar algum tempo pra ele, mas não muito.

- Eu te amo Dona Val! – Falei alisando o rosto dela.

- Eu também mocinho – Disse e colocou minha cabeça em seu ombro, como fazia desde que eu tinha uns quatro anos de idade.

Eu tinha ido na casa do Filipe, porém ele não quis falar comigo, mais que merda! Não sabia o que estava acontecendo e odiava me sentir impotente e era muito comum que eu me sentisse assim no nosso namoro, nas outras relações eu sempre tinha sido o super-homem, conseguia salvar o mundo inteiro, fazia o que meus namorados pediam e despediam. Mas com Filipe não dava!

Ele nunca tinha me pedido nada, isso me surpreendeu desde o começo, mas quando ele ficava mal era ainda pior, porque parecia que eu não conseguia suprir suas necessidades mais básicas.

- É amigão, estamos sozinhos – Falei apertando meu cacete por cima do short. Virei pro lado e dormi.

No dia seguinte iríamos trabalhar, quer dizer, eu iria né, ele não, falei que tudo bem, mas estava puto! Não por ele não ir, mas por estar mal, só queria que aquele diabinho gostoso ficasse logo bem, pra ficarmos juntos e eu poder tê-lo em meus braços, de todo os namorados que já tive, Filipe, sem dúvida era o mais complicado deles, era tão delicado que era quase cruel brigar com ele.

Não sei quanto tempo eu fiquei parado, esperando, na cala dele, no corredor, na porta do quarto. Mas meu coração estava na boca! Que agonia, não conseguia pensar em nada, odiava a ideia de ficar parado na porta do quarto dele, à sua espera, mas eu sabia que algo não estava certo, pois meu coração me dizia isso.

DE AMIGO PARA NAMORADO - SurpresasDonde viven las historias. Descúbrelo ahora