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O meu nome é Alysson D'Lavin, muitos conhecem um pouco da minha história, mas poucos param para pensar onde e quando tudo isso começou. A forma que eu fui criada realmente me tornou isso que eu sou hoje e matar não é mais nenhum sacrifício.

Londres

Dois anos antes...

O som do despertador deixa de ser desagradável depois de dez anos com o mesmo. Minha rotina de vida dá início a partir dele, e também é ele quem me traz a esperança de um dia acordar e não ser mais está a minha realidade.

As coisas aqui, pelo menos à primeira vista, não são muito diferentes de outros colégios internos. Certo, tudo que eu conheço fora daqui é o que eu vi em filmes ou em livros, mas pelo menos para adquirir conhecimento temos liberdade.

—Maria, pode me emprestar sua tiara? -Camila, minha colega de quarto que, como sempre, me pede algo emprestado.

—Sim, está na segunda gaveta. -Respondo ainda assim de bom grado, acho que realmente tenho vocação para ser freira.

O uniforme daqui é composto por uma saia cinza ou calça na mesma cor, blusa azul, um casaco cinza e um sapato preto. Por aqui não havia muita opção, sequer exceções. Todos que comandam o colégio Caminho do Céu, parecem ter um comportamento militar, não adianta nem tentar persuadi-los.

Faltando pouco tempo para começar as aulas, eu já me encontrava no refeitório. Minha estabilidade emocional não me permite ter mais que um amigo, que por sinal é um menino e só o posso ver durante as atividades em grupo.

As aulas são bem ministradas, não tenho como negar, mas passar praticamente o dia todo estudando se torna cansativo e estressante. São muitas matérias, as únicas que realmente me agradam são: matemática, educação física, dança, teatro e francês. Tenho a esperança de um dia conhecer Paris.

Sou órfã, pelo menos é o que eu acredito. Meu pai não vem aqui a anos, nem ao menos sei se está vivo. Não sei muito sobre mim, me chamam de Estrela Maria, parece até nome de personagens de novelas mexicanas.
Tenho treze anos, daqui uns dias farei catorze, e então faltará menos um ano para conhecer o mundo.

Camila uma vez me disse que lá fora não há nada de especial e que quando eu sair vou querer voltar. Acho que ela diz isso só para me assustar, tudo bem que no começo dos filmes a mocinha sofre muito, mas no final é tudo tão perfeito...

—Maria! -Olho assustada para a professora.

Tudo indica que só tenha me chamado para que eu dê atenção a aula, acredito que não funcionou muito. Não gosto de literatura, assim como odeio história.

Quando o sinal toca indicando a próxima aula, lhe dou um breve sorriso. Se repararem, eu faço tudo no automático. Sou a número um, não dessa turma, mas do colégio. Esse lugar não tem mais nada a me ensinar, quero me ver longe daqui!

—Lucas! -Não contenho minha emoção ao revê-lo, são poucas as vezes em que isso acontece. —Você está bem? -Me abaixo o puxando para um abraço.

—As mesmas condições de sempre. Minhas pernas doem tanto, não sei o que está acontecendo, Maria. -Sua voz sai baixa e eu seguro algumas lágrimas. —Não chora, vai ficar tudo bem! Eu te prometo...

—Eu sei que vai, um dia eu vou te tirar daqui, aí você vai se consultar com o melhor médico do mundo! -Acabou por encher meu peito de esperanças mais uma vez. —Não vejo a hora de voltar a dançar com você, o Daniel é horrível.

—Logo eu estarei de pé e iremos fugir daqui para Paris, lá viveremos da música, da dança e da arte! -Esse é nosso maior sonho.

—Não vejo a hora! -Olho em volta e os corredores estão vazios e ele já sabe o que isso significa. Estamos encrencados.

—Maria, você já sabe, vá! -Mandou a supervisora e acabei deixando que uma lágrima caísse.

Subi em direção à sala, pois como disse, não há opção. É como um quarto, só que sujo e com um colchão velho numa cama branca. As paredes estão desgastadas e já não resta nenhuma pintura. Um baú em frente à janela, lugar onde por anos guardei minhas roupas.

Sim, este é o meu quarto. Ainda é pois, sempre que possível, me mandam para ele novamente. Ontem, depois de dois meses, foi a décima vez em que dormi em um lugar decente.
Eu moro aqui desde que nasci, então foram bem poucas as vezes.

O lado bom é que aqui ninguém pode me incomodar.

A porta é aberta abruptamente e o barulho de grãos se chocando com o chão se faz presente. A mulher ignora a minha súplica, há cinco anos é ela quem cuida dessa parte.

—De joelhos! -Mandou e eu acabei olhando para os meus joelhos que ainda doem e tem marcas. —Você conhece as regras, sua família nos pediu garantia em relação a isso.

Minha família... que família? Até hoje só vi aquele homem, que suponho ser meu pai! Afinal, o que faria ele vir me ver se não fosse isso? Ainda assim, ele me disse que era preferível eu estar morta.

Me ajoelho sem opções, isso não é nada em relação ao que já passei aqui. A mulher se senta em um canto do quarto, e meus pensamentos me levam até Lucas.

—O Lucas...?

—Não, ele está bem! Ele não está em condições de receber um castigo. -Respiro aliviada, mas logo deixo a raiva me tomar.

Se ele está assim hoje é por culpa deles! Sim, totalmente deles... não há nada que eu possa fazer, mas um dia isso tudo vai acabar e eles vão pagar tão caro!

Duas semanas depois...

—Feliz aniversário. -Camila usa de toda sua empolgação matinal que se iguala à zero.

Antes de poder responder-lhe a altura, a diretora entra no quarto com um sorriso forçado.

—Parabéns, irá pra casa hoje. -Não sei o que aconteceu, mas tudo escureceu e não entendi mais nada.

Assalto Where stories live. Discover now