Assalto

015

Acreditei que, não tão cedo, me encontraria na mesma situação. É preciso reconsiderar. Coloquem a culpa na movimentação estranha logo atrás da escola, ainda por cima de madrugada!

Não esperava também que segundos depois, sem conseguir ouvir nada de importante, Pathrick se abaixasse ao meu lado. Ele riu, baixo, mas de uma forma que me deixou desesperada.

Eu só queria saber o que Adam veio fazer tão tarde da noite, atrás da escola.

—Você, aqui? -Tentei, nenhuma resposta parecia uma boa desculpa para a dita em que me encontrava. —Vem...

Não queria ir, meu corpo foi puxado com facilidade em direção à reunião. Minhas pernas travaram na metade do caminho, Pathrick se encarregou de continuar o processo.

Grande amigo.

Jason não me olha, tão fácil ignora a minha presença. Esse fato se deve a Katherine o beijando, acredito que seja este o nome dela. Todas são muito parecidas, a Katharine, a Katherine e a Kathielem. A diferença entre elas é mínima, o que mais as difere é que, Kathielem, é negra. Até um pouco mais clara que Pathrick, com um bronzeado invejável e o corpo digno de uma modelo.

—O que ela faz aqui? -Questionou Katharine, me trazendo a realidade. —Ela não é um membro! -Deixei que qualquer um ali se oferecesse para responder, não que houvesse uma resposta.

—Eu a quero aqui, sobre os meus cuidados. -Minha boca chegou a abrir com a declaração de Jason. Não que tenha soado romântico, ou algo do tipo. Ele falou como se fosse um dever dele, algo indiscutível.

—Está querendo comer ela! -O espanto de Katherine foi o mesmo que o meu com as palavras delas.

—Eu não sou adepta ao canibalismo! -As palavras saíram muito rápidas da minha boca, sem que eu sequer pudesse repensar sobre elas.

—Isso não pode ser real! -Precisei concordar com Montanha. —Quais são as chances dela sobreviver um dia ao nosso lado? -Jason deu de ombros, o irritando. —Ela estará cometendo auto-suicídio...

A palavra suicídio me fez tremer e lembrar de algo que hoje é como um borrão em minha memória. David não teve culpa da minha imaturidade, como eu saberia que de fato aquilo não o agradaria, quando ele mesmo me mandou fazer. As palavras ficaram gravadas em mim e refletem a cada ação minha, seja ela a mais boba possível. Meu pai me marcou das piores formas possíveis, tão pouco um tapa faria um estrago tão grande assim e, com auxílio da madre, conseguiu fazer dos meus dias um inferno particular.

A mão da madre pesava, mas não causavam tanta dor quanto as poucas vezes que vi David na minha vida. Hoje eu tenho como mostrar que não sou tão ruim quanto ele pensa, muito menos pretendo acabar com a família dele, só quero ter uma também.

—Ei, não chore, Aly. -Meus olhos fixaram nos de Adam, nem sequer o vi se aproximar. —Ele é um idiota. -As mãos dele tocaram cada lado do meu rosto, secando as poucas lágrimas que permaneciam ali. Um gesto grande de carinho, mesmo que involuntário.

—Ele está certo. -Kathielem concorda vindo até mim com um sorriso meigo. —Não sou a melhor pessoa daqui, mas pode contar comigo. -Tive que sorrir também ao ser abraçada por ela e, logo após, por Adam e Pathrick.

—Não somos as melhores pessoas do mundo, mas aqui somos uma família, espero que consiga entrar nela. -As palavras de incentivo vieram de Jason e não me pareceu tão ruim assim me esforçar para entrar no grupo. —Mesmo que não consiga, ainda estarei aqui.

—Eu não ouvi esse discurso emocional quando entrei... -O tom de indignação de Katherine o fez rir.

Chega a ser perfeito, ele deveria sorrir mais, desse jeito.

—Você não me pareceu nada frágil. -Acusou e saiu sem se despedir, os outros foram se dispersando aos poucos, restando apenas eu e Pathrick.

—Acho bom você ser rápida, estou morrendo de sono e seu quarto é muito longe do meu.

Não esperava que ele me levasse até o meu dormitório, tão fofo e cavalheiro. Ele só se foi quando me viu deitada e quase dormindo, mas não trocamos uma palavra. Acho que isso é o que chamamos de amizade.

♥♥♥

—Sem conversas dentro da sala de aula! -Pela décima vez, em menos de trinta minutos de aula, o professor pede e recebe risadas como resposta.

Adolescência, puberdade, imaturidade... Tantas coisas que envolve-os e zero capacidade para raciocinar que só estão perdendo tempo. Uma hora tudo isso passa, a madre sempre deixou isso claro, evitando assim qualquer discórdia em nossa escola.

—Você! -Olhei para os lados e percebo que a dita cuja sou eu. —Por favor, venha até aqui.

Sem pensar duas vezes, fui. Se tratava de uma matéria que, para ele, eu ainda não tinha conhecimento. Minutos mais tarde, tudo que ele queria era uma forma de se aproximar de mim e dizer coisas desnecessárias. Numa conversa aleatória, não percebi o momento em que a sala se esvaziou, restando somente nós dois, logo também saímos em direção aos armários.

—Não tem vontade de sair daqui? -Chega a ser cômico uma pergunta dessa, direcionada a mim.

—Muita...

—Não quer sair comigo? -A resposta estava na ponta da língua, mas me assustei com a imagem de Jason parado ao meu lado.

—Um encontro entre amigos? -Questionou Jason, nem um pouco amigável. —Ela dispensa.

Não tive tempo para protestar, Jason saiu me puxando para longe e levando junto minha única chance de ir ao parque. Não que eu já tenha ido em um, mas aparentemente é bem legal. Exceto se tiver alguma coisa fantasiada ou palhaços.

—Onde estava com a cabeça para pensar em aceitar algo dele?

Os minutos se passaram com ele explicando coisas que não fizeram o mínimo sentido. No fim guardei as informações mais importantes.

Não aceitar nada de estranho.

Não falar com eles.

Amor a vida.

Jason vai me levar ao parque!

Ainda estou surtando com essa última informação. Jason, aquele poço de amargura e maldade, irá me ajudar a sair da escola e ir ao parque. E tudo isso só irá me custar um servicinho, ainda não sei o que é, mas é algo relacionado a pegar e correr.

Eu não prestei muita atenção depois do: —Eu posso te levar ao parque, é só...

♥♥♥

Mais um capítulo para vocês! Desculpem a demora meus amores ❤️ vou atualizar mais capítulos na próxima semana!