Assalto

026

Muito cedo aprendi a apreciar as coisas boas da vida, sendo elas poucas, mas tudo que eu tinha. A comida é uma delas, mesmo em poucas proporções devido às regras de alimentação. As pessoas não param para pensar no que tem em cima da mesa e o quanto deveriam agradecer por isso.

—Você é meio sem graça... -Já havia reparado que Pathrick me analisava, porém não esperava uma verdade tão dolorosa dessa.

Eu não me encaixo em um esterótipo de garotas magras, altas e graciosas, me esforço, mas não sou. Não sou muito alta, meu corpo é um magro comum e com algumas gordurinhas que no colégio eu lutava para perder. Acho que o problema está em eu ser comum demais, desde as vestes ao último fio de cabelo.

—Você não tem uma coisa que dá um tchan, nada que eu veja graça em uma mulher...

—Eu não vim ao mundo em prol de agradar a você, eu ser sem graça não altera em nada em sua vida. -Não me exalto com afinco de deixar bem claro que não faz diferença se estou agradando.

Passei anos da minha vida sendo limitada a viver o que pessoas achavam melhor para mim e no fim acabei desse jeito. Estou decidida a tomar as rédeas da minha vida e não deixarei me imporem regras.

—Não é isso princesa, pense em como alterar o seu estilo lhe trará uma liberdade de tudo que lhe atormenta. -E ele tinha razão, em silêncio passei a analisar a sugestão, não uma ordem imposta.

—Está pronta para sair sem pagar? -Neguei de imediato e havia certeza de que ele já sabia disso. —Pois hoje vou te poupar de passar essa vergonha, me espera lá fora em quanto eu pago a conta. -Meu sorriso entregava o quão aliviada estava e caminhei para fora do estabelecimento.

É um lugar pouco movimentado, bem diferente do lugar onde meu pai mora, bem visível a diferença e o descaso.

—Corre! -Pathrick prolongou as últimas palavras sem parar de correr em direção ao estacionamento do outro lado da rua.

Demorei a entender a situação, mas ao ver alguns homens com objetos pesados em mãos e uma carranca nada amigável, foi um belo convite para correr também para longe dali. Pathrick já me esperava com o carro ligado e a porta aberta, um grande alívio por sinal. Pude respirar em paz quando ele arrancou com o carro dali.

—Foi divertido, não foi? -Havia euforia em sua voz, nada entregava medo ou arrependimento para meu desespero.

—Nosso conceito de diversão é bem diferente. -O ar ainda me faltava impossibilitando-me de dizer muitas coisas, precisamente palavras não bonitas.

—Se quer ser minha amiga, têm que aprender a viver a vida do jeito certo! -Tentei dizer que não e ele fez o desfavor de ligar o som tão alto que confundia a batida do meu coração com a que fazia o carro e o meu corpo tremer.

E eu gostei disso!

A música não era nada favorável, já a batida empolgante ao suficiente para me fazer relaxar e rir da minha situação, logo sendo acompanhada por Pathrick.

—Você é o grande amor da minha vida, Harley! -Nós dois rimos com a declaração inesperada, que soou um tanto falsa demais e ele não fazia questão de esconder isso. —Você fuma? Claro que não, mas tudo tem a sua primeira vez.