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Para alguém que sofreu um acidente, aparentemente estou ótima. Os dias no hospital me fizeram listar algumas coisas que gosto muito e, a comida do hospital, não está entre elas. Procurei nos grãos, em caldos, qualquer sabor ou algo que lembrasse ao sal. Procurei com a mesma ambição de quem precisa de um tesouro. Por isso que como tudo que tenho a minha disposição agora, em minha casa.

-Ela pode comer tanto assim? -Sorri por saber que não estou tão sozinha como imaginava.

Desde que cheguei em casa, Kathielem e Pathrick têm me ocupado o tempo. Segundo eles, estamos fazendo coisas normais, coisas de jovens. Não julgo saudável e sim sedentário mas, quem sou eu para julgar, tenho alguém!

-Não é, tanto faz. -Pathrick não chegou a desviar o olhar da tela para alguma de nós, tendo toda atenção voltada ao jogo. -Você é cego?! -De pé grita e espalma as mãos na mesa de centro, tão rápido o barulho de vidro se espalhando tomou conta do lugar.

-Você quebrou a minha mesa? -Apesar de presenciar, ainda custava a cair a ficha. -Você quebrou a minha mesa, Pathrick! -Desta vez afirmando, passei a encarar o que sobrou da pequena mesa que era toda de vidro.

-NÃO! -Com um grito um tanto agudo, respondeu e, assim como eu, passou a observar o estrago. -Quebrei...

-Você vai limpar isso, vai ter que substituir isso! -Desconheço o meu tom de voz, antes nunca pude falar assim, me mostrar indignada sem sofrer consequências.

-Quem é você e o que fizeram com minha princesa...?

Fiquei aliviada com a risada de Kathi, acabando assim com o momento de tensão. Pathrick não se opôs a me ajudar, Kathi também o fez voluntariamente. Foi fácil para eles entenderem que aquela mesa foi cara e, não tão cedo, conseguiria dinheiro para comprar outra.

Os trabalhos a mim repassados renderam um bom dinheiro, parte suficiente do dinheiro que Adam devia, sendo que a outra parte peguei emprestado de Jason. A cada trabalho concluído, ele pega setenta e cinco por cento do que seria meu, restando assim o suficiente para comer e pagar as contas.

-E porquê você não faz algum serviço por fora?

-Só se for como prostituta. -Mesmo rindo da minha resposta para Kathi, esta é ainda uma dura realidade, a falta de opções.

-Não, algo limpo! -Até Pathrick que, novamente tinha a atenção voltada ao jogo, parou para ouvir o que a menina tinha a dizer. -Você pode pegar uns serviços com outras equipes!

-O que você entende por "algo limpo"? -Me atento a somente esta pergunta, não que algo pudesse ser pior do que eu já sou submetida a fazer.

Com a dívida nova que consegui constituir com Jason, até terminar de paga-lo, não terei a minha liberdade para fazer qualquer outra coisa.

-Jason não deixaria e ninguém gosta dela.

Talvez eu não tenha falado, Pathrick é um poço de sinceridade e não se importa nem um pouquinho em destruir um pouco da esperança de alguém. Julgar seria errado, segundo Kathi, esta é a forma dele de cuidar de mim.

Coisa que eu nem sabia que ele estava fazendo.

-Então não tem nada que possamos fazer! -Derrotada. Exatamente assim nós duas estávamos, já Pathrick sorriu como quem teve a melhor ideia dos últimos tempos.

-Ela podia ficar na produção. -Vi Kathielem arregalar os olhos e balançar a cabeça em negação. -Qual é, ela já fuma e tudo mais!

-Não mesmo, eu não vou permitir e nem Jason, você sabe muito bem disso. -Mesmo o assunto sendo sobre mim, claramente estava excluída da breve discussão.

-Desisto. -Pathrick voltou a assistir o jogo que já deveria estar no final.

Sem mais o que discutir, voltei a comer e Kathielem a fazer as unhas. Se por algum segundo eu tivesse a chance de fazer diferente, eu o teria feito. Infelizmente ainda não inventaram uma máquina do tempo.

♥♥♥

-O dinheiro não compra tudo! -Precisei gritar para que Pathrick entendesse, assim como Montanha que me fez uma horrível proposta.

-Não vai precisar fazer nada, Alysson, é só dançar. -Mais uma vez, Montanha tenta me convencer, esboçando um sorriso de quem está amando a situação e só espera que piore. -Você precisa de dinheiro, precisa comprar coisas e sem dinheiro...

-Ele compra pessoas como você... Mas para mim não serve, o pouco que tenho é minha dignidade e isso dinheiro nenhum compra. -Encerrando o assunto, corri para o banheiro, mesmo mancando com uma das pernas machucada.

Estava tudo certo, o assunto sobre um possível novo trabalho havia se encerrado mas, qual não foi a minha surpresa ao abrir a porta e encontrar Montanha com um sorriso carregado de puro deboche. A oferta foi rápida, dando a entender logo que dançar numa boate e prestar alguns serviços extras me renderia um bom dinheiro. Custo a acreditar que Pathrick imaginou mesmo que eu aceitaria algo do tipo, é descer demais o nível. Se é que ainda existe algum nível em que eu me encaixo.

-Não precisa chorar, eu só queria ajudar. -Como um cachorro que caiu da mudança, Pathrick se aproximou com cuidado e puxou meu corpo em um abraço. -Eu vou pensar em alguma outra coisa, só não fica assim. -Me vi em um clichê onde o badboy faz algo e demora a reconhecer o erro e, quando o faz, vai até a mocinha e a abraça como se precisasse dela para respirar. -Me desculpa? -Acompanhei com o olhar o movimento dos seus lábios, pouco depois desviando para os brilhantes olhos verdes, como quem quer gravar cada detalhe de um rosto.

Não senti nada. Não senti meu corpo arder e muito menos desejei o beijar e tê-lo para sempre. Minhas mãos não suaram, meu coração não acelerou, muito menos errou uma batida. Não consegui contar os segundos, ver as coisas como se o tempo tivesse parado.

Pathrick é perfeito, no quesito beleza, perfeito demais, mas não pra mim.

-Não sei porque fez isso mas, se me olhar assim de novo, não me responsabilize pelo o que vai acontecer dentro desse banheiro. -Pathrick me tirou do transe dos meus pensamentos, sem perceber, mais uma vez encarava seus lábios.

-Credo, Path, que nojo! -Me vi numa cena infantil de mostrar a língua e, tentar, sair correndo.

Acredito ser normal em minha idade ter tantas confusões de sentimentos assim, o que tenho por Pathrick já descobri. É um amor, carinho, gratidão, querer estar perto, algo parecido com o que sinto por Adam ou Lucas. É pra sempre, este não seria capaz de destruir o que resta do meu coração.

-Você precisa arrumar logo essa perna. Fica ridículo a ver assim...

-O tentar correr foi ridículo, eu sei mas não preciso saber disso, Path. -Desnecessária informação. Cheguei a sala sendo recebida com a bela visão de Jason e Leonard travados em uma batalha de olhares, deixando claro o descontentamento com os punhos cerrados.

♥♥♥

E aí, gostaram? Eu espero que sim!

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Até o próximo capítulo!😘

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