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Sempre ouvi dizer que confiança é uma coisa que se conquista, hoje posso contar em uma mão quem a conseguiu de mim. Às pessoas tem o dom de magoar e quebrar promessas muito fácil, se torna um tanto quanto impossível confiar em alguém que indica perigo a quilômetros de distância.

♥♥♥

—O que fez para merece-la? -Minha resposta veio em prol de sanar minhas dúvidas.

—Eu te dei a minha confiança a partir do momento em que te vi pela primeira vez, te coloquei no meu mundo. Isso parece pouco para você? -Sem desviar o olhar do seu, a resposta estampada estava em minhas feições. —Você está quebrada por dentro, não confia na própria sombra! -Não o queria exaltado, dispensando qualquer outra aproximação perigosa.

—Não é sobre estar quebrada e sim do porquê devo te dar minha confiança. Posso garantir que, me colocando contra parede, não conseguirá nada.

O assunto foi dado por encerrado. Ele não precisou de convite para se retirar, por horas afinco acreditei estar sozinha. Era o que eu esperava dele. O abandono. Qual não foi a minha surpresa ao me deparar com a silhueta masculina na porta do meu quarto. Poderia ser qualquer um, mas dei por encerrado os consequentes azares que me acompanharam nos últimos dias, meses, anos...

—Parece um psicopata. -Não que eu já não achasse que fosse.

—Todos nós somos, o que diferencia é mostrar isso a sociedade ou não. -Por este lado nunca havia pensado antes, ele captou a minha surpresa com a informação dada, tendo isso como motivo para adentrar o pequeno espaço do quarto. —Como está às coisas para você?

Uma vez eu ouvi dizer que quando alguém te pergunta como foi seu dia, demonstra real interesse, é porque ele se importa. Não que isso se remeta a Jason, só é algo bom para se perguntar.

—Agitadas, cada dia subo um degrau e a vida me derruba uns três abaixo. -A piada se encaixava bem no que quase me ocorreu, isso me arrancou risadas involuntárias. O que era para ser uma conversa "saudável", tornou-se um até de risos da minha parte. E isso é algo que não tenho controle, só acontece.

—Você pode para?! -Vi a necessidade de o explicar que não era dele que eu ria, mas a feição irritada dele só deu mais corda para que eu continuasse. —Alysson, já chega!

—Calma... Eu estou parando.

(...)

—Isso, o negócio do ataque de risos, é um problema? -Neguei mesmo sem ter conhecimento se de fato não era. —Ótimo. Eu preciso conversar um assunto sério com você.

Eu não poderia encerrar o meu dia com algumas risadas, boas notícias ou qualquer outra coisa que não me tirasse uma boa noite de sono. Recorrer aos remédios tem sido cada vez mais uma boa saída.

—Quando estiver cem por cento, teremos muito o que resolver. Isso, desde a sua posição na equipe, a um roubo em um dos maiores banqueiros de Nova Iorque. -As informações se misturaram em minha cabeça, procurando algum sentido para estar fazendo isso e uma chuva de motivos me vieram a cabeça.

Dívidas, não passar fome, um lugar para morar, saúde... E tantas outras coisas desnecessárias listar. Não existe um motivo para se fazer o errado mas as circunstâncias nos fazem vê-lo como melhor solução. Antes já tivesse entendido que o tempo é o remédio para tudo.

—Tem um lado bom em tudo isso. -Nem sequer me animei, o lado bom para eles nunca é totalmente algo bom. —Vou te ensinar a dirigir.

—Você quer nos matar?! -Fiz de forma direta a pergunta certa. Talvez ele ainda não tenha percebido mas eu não tenho coordenação motora, noção nenhuma de direção, essas coisas de direta e esquerda. É auto-suicídio!

—Não é tão difícil assim, será primordial para a nossa equipe.

—E se eu não quiser, se eu quiser desistir de tudo? -Se houvesse ao menos uma chance, deixaria tudo de lado, daria um outro jeito, sempre há de ter outro.

Sempre que uma porta é fechada uma janela lhe é aberta, Deus há de lhe assegurar isso, Maria.

As palavras da irmã Lauren vieram como uma luz na escuridão dos meus pensamentos. Esta era um ser de luz em meio a tantas pessoas que se julgam no caminho de Deus, mas usam do nome dele para acometer atrocidades.

—Você sabe que não, você me deve e até me pagar estará presa a isso tudo. -Então descobri, era isso que Jason fazia, ele prendia as pessoas da pior forma. Te dá a sensação de liberdade, mas com uma corda amarrada ao pescoço. —Não faz essa carinha, eu vou cuidar de você e no fim ainda irá me agradecer.

Eu duvidava muito disso. Agradecer por ter me colocado num caminho sem volta, no fim não foi só ele a me empurrar para tudo isso, cada um teve sua parcela de culpa, mas nenhuma maior que a minha, não fui capaz de ir contra a corrente.

Em um filme, que agora não me lembro o nome, vi algo parecido. Você quer ser diferente, luta contra, mas é difícil quando tudo te empurra para aquilo. Não te dão opções e, quando dão, são ainda mais baixas e assustadoras. Por grande maioria somos só aquilo esperam da gente, aquilo que nos impõe.

Pathrick deve ser o único idiota a ser rico e se enfiar em algo tão horrível.

Ledo engano, não precisei de muito tempo para perceber que são pessoas como ele, que já tem tudo, que comandam. São elas a darem as cartas do jogo e nós somos aqueles que fazemos das vidas deles divertidas. Quando a casa caí, não são eles a terem a cara estampada num jornal.

—Isso não me impede de ter medo, talvez fugir. -O silêncio do quarto já permanecia por bom tempo, tão distraída não vi o momento em que ele se sentou ao meu lado e me puxou para seus braços.

—Eu sei, comigo também não foi tão diferente assim. -A minha curiosidade aguçou no mesmo instante, espantando o medo ou qualquer outra coisa que ocupasse minha cabeça ou meu coração. —Não, que cara é essa... Eu não vou te contar sobre minha vida.

—Então você está prestes a descobrir como eu sou persuasiva.

Eu não era, não quando o assunto não me interessava. Para Lucas, isso era um dom que eu desenvolvi para me livrar de muitos castigos e lidar com as pessoas dentro do colégio. Hoje eu também considero um dom, é uma questão tão simples de saber mentir e fingir que não sabe, trabalhar com meias verdades para não se perder no meio da história. A questão de tudo era não se deixar ser pega.

—Estou pagando para ver isso. -Então eu ouvi o som da sua risada, não foi algo forçado ao deboche, foi só natural, sem planejamento. Em trinta por cento me ganhou, um simples sorriso me fez ler mais do que horas cansativas de conversas.

—A A1k, digo, Katherine é sua namorada? -Novamente riu, essa não seria uma conversa fácil, ainda mais quando deixei o meu emocional guiar minhas perguntas.

♥♥♥

Alguns caminhos não tem voltas e não culpo a Aly por ignorar todos indícios de perigo e seguir em frente, todos nós estamos sujeitos ao erro.

Aliás, como vai? Espero que tenha gostado do capítulo, agora é que as coisas legais acontecem rumo ao fim do livro e a sequência de 'Sequestro'.

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