02 | Lilium

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Notas Iniciais

• Edit (30/06/2019): correção geral de erros encontrados com o tempo;

• Edit (26/07/2019) e (27/07/2019): atualização da mídia do capítulo para o novo padrão de design e correção geral de erros encontrados com o tempo;

• Edit (30/07/2019): correção geral e acréscimo de fotos extras no final do capítulo.


A tensão é desconfortável. Através do reflexo no espelho, consigo ver minha mãe sentada atrás de mim, afundada na poltrona grande de coloração acizentada e com os braços cruzados. É evidente a forma como ela evita olhar em minha direção, não por causa de mim, mas, sim, por causa de meu pai, que está de pé ao meu lado, observando-me de maneira tão séria quanto o clima permite. Eu estou estático, aguardando. Se eu falar alguma coisa, sinto que uma discussão de proporção gigantesca pode começar, então fico em silêncio.

Meu pai concorda com a cabeça, satisfeito, e respira fundo.

— Assim está bom — ele diz, por fim. Em seguida, com os olhos em meus pulsos vazios: — Coloque o seu Orion.

Eu concordo com a cabeça. Posso ouvir minha mãe suspirar melancólica atrás de mim e, alguns segundos depois, levantar e sair do closet. Meu pai faz uma pausa breve depois de ficarmos sozinhos, sua mão alcança meu ombro, os dedos me apertam com firmeza e seus olhos encaram os meus com compaixão.

— Escuta só, meu filho — ele começa a falar com cautela. — Você também está incomodado com isso? Porque se estiver...

— Estou bem — respondo com sinceridade. Eu sei o que ele vai sugerir, então não permito que termine a frase. — Eu só não sabia que você tinha um amigo tão próximo assim.

— Faz alguns anos que perdemos o contato — ele explica. — Nós éramos muito amigos quando estávamos na faculdade. Como é que eu poderia virar as costas para alguém que já me ajudou tanto?

Balanço a cabeça.

— Eu não quero que você deixe seu amigo sozinho, pai. Só estava curioso.

Ele dá um sorriso, os olhos quase sumindo por trás das pálpebras únicas, criando duas linhas estreitas. Tão perto de mim, consigo perceber o motivo de todos falarem que possuímos o mesmo sorriso.

— Você tem um bom coração — o elogio soa honesto, atencioso. — Ele tem um filho com uma idade próxima a sua, então vocês podem acabar se aproximando e criando uma boa amizade.

A surpresa é inevitável. Durante o jantar de ontem, quando ele disse para mim e mamãe que pretendia trazer um amigo para ficar conosco durante tempo indeterminado por conta de problemas financeiros, o rebuliço foi grande. Minha mãe é uma mulher reservada, ao mesmo tempo em que se preocupa bastante com a imagem — dela e da família. Por conta de meu pai ter um nome bastante conhecido no ramo da medicina, ela não poupou demonstrar toda a infelicidade que sentiu pela ideia impulsiva de abrigar pessoas desconhecidas aqui em casa, ainda mais quando descobriu que o motivo envolvia falta de dinheiro.

— Nossa casa virou centro de caridade, agora? — ela perguntou, descontente.

Para ela, ter pessoas "desse nível" dentro de casa, faria com que os outros comentassem a respeito.

A discussão prosseguiu por todo o jantar e além, até que, finalmente, meu pai botou um ponto final no assunto. E isso tudo resultou no afastamento de minha mãe, que só falou conosco hoje para avisar o horário que a florista chegaria aqui em casa para ajeitar os arranjos de flores para o jantar.

ASTER • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora