21 | Malus

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Quando eu era pequeno, gostava de imaginar o que significavam os desenhos entalhados nas portas das casas onde morávamos. Eu ficava curioso, porque apesar de já termos morado em mais de cinco lugares diferentes em Seul e de termos alguns imóveis espalhados ao redor do mundo, as portas eram sempre as mesmas: caminhos fundos contornando a madeira, com uma grande ilustração no centro. Meu pai sempre mandava instalar novas portas nas casas para garantir que nada seria diferente. Sempre os mesmos desenhos, em todos os lugares.

Algumas vezes, imaginava que esse era o padrão da porta de onde papai e mamãe casaram, então papai gostava de criar réplicas para sempre se lembrar do dia tão especial. Outras vezes imaginava casas antigas em campos vastos, e famílias felizes fechando portas exatamente como as nossas ao sairem para passear juntas entre as vegetações. Em momentos menos frequentes, eu pensava em meus bisavós — pensava em um homem velho, entalhando um pedaço de madeira antiga para entregar à esposa antes de ir para a guerra. Tentava imaginar as palavras que ele diria antes de entregar o trabalho manual.

Eu costumava fazer isso durante as noites em que não conseguia dormir por estar triste demais por nenhum menino escolher brincar comigo no colégio. Em um dos dias de plantão do meu pai, ele chegou em casa durante a madrugada e me pegou sentado no meio do corredor, encarando a porta do quarto deles. Naquele dia, eu estava me perguntando se minha futura esposa gostaria de ter portas assim em casa. Eu gostava delas.

— O que está fazendo aí, Jimin? — meu pai perguntou com um sorriso fino, agachando-se ao meu lado. — Está sem sono?

Eu balancei a cabeça, sem desviar os olhos dos desenhos fundos na madeira.

— Gosta deles? — perguntou ele. Eu confirmei. — Quer saber o que significam essas portas?

Foi quando olhei em sua direção pela primeira vez, com meus olhos arregalados.

— Eu posso saber? — questionei, esperançoso.

Lembro do meu coração acelerado, do sentimento brilhante em meu cérebro por finalmente estar diante da verdade. Meu pai sorriu novamente.

— É claro. Por que não poderia?

— Pensei que fosse um segredo — um segredo só seu e da mamãe.

Mas ele apenas riu, negando com a cabeça.

— Que bobeira — disse. — Escute bem. Um dia, eu fui convidado para ir até a casa do diretor da faculdade quando era um pouco mais velho que você, filho. Seu pai foi o único a ir até lá, sabia? Eu era um aluno querido.

Balanço a cabeça afirmativamente, ansioso pelo resto. Me conte da porta. Quero saber da porta!

Antes de entrar na casa, eu só conseguia ficar parado, olhando para uma porta igual a essa. Eu não acreditava que estava ali quando mais ninguém havia estado! E sabe o que aconteceu depois?

Não podia ver, mas sabia que meus olhos estavam brilhando.

— O quê? O que aconteceu, papai?

— O diretor abriu a porta — sussurrou. — Ele me viu ali, apenas um moleque de vinte anos hipnotizado ao encarar aquela madeira entalhada. E ele me disse: "Olhe bem para essa porta, Dongyul, porque ela vai te levar a uma vida maravilhosa."

— E levou?

— É claro — respondeu ele, bagunçando meu cabelo. — Olhe bem para essa porta e você também terá um emprego incrível.

Então, ele entrou no quarto, deixando-me sozinho no corredor. Lembro da decepção. Lembro de abraçar minhas pernas, os joelhos grudados no peito, e de falar baixinho:

ASTER • jjk + pjmWhere stories live. Discover now