22 | Iris

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[!ATENÇÃO! O capítulo a seguir contém: violência doméstica e sofrimento psicológico/físico infantil intenso (no itálico). Por favor, evite ler o capítulo ou pule as cenas específicas caso tenha sensibilidade diante das categorias supracitadas.]

— Eu odeio o Chamin! — eu jogo minha mochila desgastada no chão e a chuto em seguida, desabando sobre o revestimento antigo do solo.

Sinto uma mão em meu ombro. Uma mão gelada, porém estranhamente reconfortante ao mesmo tempo.

— O que houve, meu amor? — é uma voz doce. Tão doce. — O Chamin não era o seu amigo?

— Ele é um mariquinhas!

— Mariquinhas?

— Isso! — falo alto demais, cruzando meus braços pequenos. — Significa que ele é pequeno e fraco!

— Onde aprendeu essa palavra, Jungkook?

— Foi o que o boboca do Chamin falou para o Soobin. Chamou ele de mariquinhas de novo! Ele é que é um mariquinhas! O maior de todos!

— Jungkook, nunca mais chame alguém assim. — silêncio. — Olhe para mim, filho.

Eu ergo meus olhos redondos e vejo seu rosto. Ela tem a pele bonita, com poucas rugas e surpreendentemente brilhante nos pontos certos, especialmente nos olhos iguais aos meus. Gosto que ela tenha os olhos iguais aos meus, porque eu gosto muito de quando ela me olha.

Quando segura minhas mãos entre as suas, sempre tão geladas, eu estremeço um pouco.

— É ruim ser menor e mais fraco do que alguém? — ela me pergunta.

Eu balanço a cabeça.

— Não.

— Então, nunca mais use isso como ofensa.

— Tá bom...

— Me promete?

— Prometo — resmungo, com um bico.

Ela sorri. Eu também amo quando ela está sorrindo. Amo mais do que quando me olha em silêncio e muito, muito mais do que quando está chorando. Ela chora muito. Papai diz que é por isso que eu sou um bebê chorão, porque puxei a ela.

Só que eu não sou nenhum bebê.

Mamãe disse que eu me tornaria um homem grande quando fizesse cinco anos, e isso foi no meu aniversário do ano passado, o que significa que agora eu sou ainda maior do que um homem grande qualquer. O papai só continua me chamando assim porque ele nunca lembra do meu aniversário, então não sabe que eu já sou grande. Mamãe diz que ele tem a memória de um peixe e que eu não posso ficar chateado, por isso sempre me esforço para não ficar triste. Só que papai continua dizendo que eu sou um bebê chorão, porque eu sempre choro quando ele me bate.

Mas está tudo bem, porque ele só faz isso quando está triste. Mesmo que ele esteja triste na maior parte do tempo.

Não gosto quando papai está assim, mas um dia minha professora falou que nós devemos ajudar quem está triste e eu acho que bater em mim deixa ele menos chateado. Então, está tudo bem mesmo. Eu só não gosto quando ele bate na mamãe, então eu choro mais. E ele me chama de bebê chorão de novo.

Eu não sou nenhum bebê. Eu já tenho seis anos.

Mas está tudo bem. Mesmo.

— Agora me conte o que aconteceu, meu amor.

ASTER • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora