29 | Nelumbo

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Tento não ficar nervoso, enquanto penso que já passou da hora usual de Jungkook chegar em casa. Esforço-me para evitar pensar na mensagem que vi em seu celular quando estávamos voltando de viagem, muito menos em como ele ficou mais quieto e visivelmente preocupado depois disso, até me falar que não tinha planos para sair ontem à noite. Eu pensei que ele tivesse desistido de qualquer que fosse seu compromisso, então minha curiosidade e preocupação esvaíram na mesma medida em que me tranquilizei por estarmos juntos e, aparentemente, bem.

Até agora.

Estou sentado na beirada da cama, pensando no quanto estou exagerando por me preocupar com um assunto que nem sei qual é. Não faz sentido criar tantas possibilidades na minha cabeça, porque sempre vou acabar pensando em alternativas negativas, quando, no final das contas, pode ser algo benéfico em algum sentido. Respiro fundo, checo o horário na tela do meu celular pela enésima vez e levanto. Preciso me acalmar.

Quando saio do quarto com o objetivo de ir até a cozinha para buscar um copo d'água, posso ouvir meus pais conversando dentro do quarto, porém com as vozes abafadas demais para ser possível identificar qualquer sentença lógica, e, em seguida, o som da porta do banheiro deles se fechar. Talvez estivessem discutindo sobre algo importante, porque não é comum que eles se tranquem dentro do quarto tão cedo da noite, de forma que o primeiro andar sequer está com as luzes acesas.

Estou pensando nisso enquanto desço as escadas a cada dois degraus, do jeito que minha mãe me pede para não fazer — mas ainda de um modo inevitável, já que estou ansioso —, quando ouço o que deveria ser o fim da minha ansiedade. A porta da frente está sendo aberta.

Meu coração acelera e inspiro o ar com força, prendendo o oxigênio dentro dos pulmões quando forço meus pés a avançarem com mais velocidade. Estou quase sorrindo quando dou o último salto para longe da escada, virando-me em direção à porta, que já está se fechando atrás do que deveria ser o meu namorado. Porém, mesmo com a escuridão espalhando-se pelo ambiente amplo, o que posso ver é assustador.

O rosto de Jungkook se assemelha aos dias passados, quando ele havia acabado de se mudar para a minha casa e voltava, diariamente, com machucados acumulados no rosto e restante do corpo. A diferença é que, antes, os ferimentos vinham em conjunto do cheiro forte de álcool; hoje, eles vêm em conjunto das lágrimas.

Meu Deus — deixo escapar, com a voz falhando. — O que aconteceu com você? Onde você estava?

O sangue vermelho-escarlate sai dos próprios lábios e cobre seu queixo, além dos pontos inchados e sangrentos na bochecha esquerda. O líquido espesso mancha o restante da face, em tonalidades mais claras e com a substância espalhada por se dissolver nas lágrimas transparentes que ainda deixam os olhos úmidos. O brilho de suas íris escuras não é mais de amor, quando vão de encontro a mim; agora, vejo apenas dor.

— Jimin — ele fala em um tom arrastado, como se não tivesse forças para pronunciar meu nome com confiança. — Jimin...

— Jungkook, quem fez isso com você?

Suas pálpebras piscam com lentidão e ele analisa o ambiente com o rosto perdido, desolado. Corro em sua direção, incapaz de pensar em qualquer coisa mais importante para fazer agora. Entretanto, quando seguro seus ombros e os olhos redondos alcançam meu rosto, suas sobrancelhas se contraem e ele desvencilha o corpo de meu toque, indo para trás.

— Não encosta em mim.

Meu coração dói no peito e meu estômago despenca. Fico assustado.

— O quê? O que aconteceu?

Jungkook me encara, as sobrancelhas contraídas ganhando suavidade, mas a respiração pesando. Ele balança a cabeça e segura meu rosto entre as mãos quentes, sujas e úmidas. Não sinto nojo; sinto apenas medo.

ASTER • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora