31 | Lobularia

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[!AVISOS! O capítulo a seguir contém: sofrimento psicológico e falta de sentido sobre a própria existência (todos em falas do Jungkook, quando eles estão no parque). Por favor, evite ler o capítulo ou pule as cenas específicas caso tenha sensibilidade diante das categorias supracitadas.]


Não consigo dormir, mesmo com os sons calmos e melodiosos dos alto-falantes dispostos nos cantos superiores das paredes do quarto. Quando a manhã chega, trazendo consigo os primeiros raios solares do dia, que atravessam a fresta da janela deixada aberta na noite passada, começo a me perguntar se vou voltar a dormir bem em algum momento. Se algum dia, e, caso ele exista, se vai demorar muito, vou voltar a fechar os olhos sem ter medo de pesadelos e, pior ainda, da realidade.

Tento me convencer de que estou sendo dramático quando levanto, emocional e fisicamente exausto, e vou até o banheiro com os passos arrastados, como se minha força estivesse sendo drenada para fora do corpo, aos poucos, a ponto de mal conseguir erguer os pés antes de cada passo que sou obrigado a dar. Minha imagem refletida no espelho é como uma maldição própria. Não apenas os machucados, mas cada mínimo sinal de que estou passando por um momento difícil vem como um lembrete de que vou ouvir coisas horríveis de meu pai — minhas olheiras; minha boca pálida; os cantos externos das narinas irritados, resultado de esfregar meu nariz constantemente durante cada choro; os olhos mais inchados que o normal.

Tento lavar minha face várias vezes, em tentativas sempre inúteis de me livrar do excesso de cansaço na expressão, antes de realizar minha rotina já costumeira de remédios que passo no rosto e ajeitar, mesmo que minimamente, o quarto e o banheiro. Preciso limpar as coisas o máximo que consigo; essa é quase a única forma que pude arranjar, nos últimos dias, de conseguir focar meus pensamentos em outra coisa.

Mesmo assim, com mais frequência do que gostaria, venho pensando em tudo o que atormenta meu coração. Agora, mais do que nunca, também penso em Jungkook. E, infelizmente, também penso no número recente que salvei na minha lista de contatos. No número que eu não deveria ter, se fosse alguém mais respeitoso a ponto de não vasculhar o celular alheio. Tento não me condenar internamente pelos meus atos, mas é quase impossível, ainda mais quando, apesar do peso do arrependimento apertar meu peito, não consigo tomar a atitude de apagar o contato de Wonho e fingir que nada aconteceu.

Não consigo fazer isso. Não quando Jungkook escondeu a verdade de mim. Não quando ele, claramente, demonstrou estar desconfortável em voltar para a minha casa. Não quando as coisas parecem tão estranhas.

Quando termino de organizar tudo no meu quarto, vou novamente ao banheiro, parando de frente ao espelho e tentando enxergar naqueles olhos, os meus. Tentando enxergar naquele rosto, o meu. Em algum momento, até levo meus dedos ao rosto, tocando, apenas de leve, os traços ao redor do maxilar e nos machucados já querendo fechar. Não me sinto bem. Não pareço bem. Solto um suspiro.

Calço minhas pantufas e com passos arrastados, sempre arrastados, vou até o andar de baixo. Os olhos que caem sobre mim são como tortura; um cobertor de espinhos. Ainda assim, sento-me no lugar de sempre e, em silêncio, estico meu braço para pegar a vasilha de arroz.

— Bom dia, Jimin — meu pai cumprimenta.

Aceno com a cabeça, esquecendo-me, por alguns segundos, dos modos.

— Bom dia.

— Seu rosto não melhora nunca.

Tento não suspirar, então, para evitar qualquer reação indevida, comprimo os lábios durante o processo de trazer a vasilha para perto de mim e começar a me servir. Apenas quando os segundos se arrastam o suficiente, é que eu consigo me confiar para erguer os olhos ao meu pai.

ASTER • jjk + pjmDove le storie prendono vita. Scoprilo ora