Naquela manhã abraçada com meu marido tudo que queria é que hoje ele ficasse comigo e nossa filha, mas a maldita obrigação dele o chamava quando vi ele levantando para ir se arrumar com impulso que nunca tive abracei ele fortemente, segurando sua cintura com tanta força como se pudesse puxar seu corpo para voltar pra nossa cama.
– Fica, marido! Peça uma folga, sei que tem moral para isso mas por favor não vá. Preciso que fique comigo hoje.
– Cecília, hoje chega uma carga muito importante da Colômbia por mais que queira ficar não posso pois sou o principal responsável por este negócio até mesmo o senhor Bernardino estará nos acompanhando junto com alguns parceiros colombianos, preciso ir, meu amor!
Não entendia porque estava me sentindo tão mal com sua partida, talvez porque sabia que algo ruim ia acontecer com meu amor por isso não queria que saísse mas era inevitável para Tomás fugir de sua obrigação. Como já era rotina tomamos café da manhã juntos enquanto Melina se alimentava em meu seio, não tirava os olhos do meu marido pensando em tudo que ele representava para mim.
Minha sogra servia café à ele enquanto Tomás beijava a mão da irmã com carinho sorrindo para mim e minha filha, não havia nesse mundo um homem tão bom como ele, um filho dedicado, um irmão atencioso, um pai carinhoso e um marido amoroso e gentil. Homens como Tomás são tão raros que deveriam ser protegidos de todo mal desse mundo.
– Bom dia!
O senhor Bernardino apareceu na janela da nossa casa com uma cara de ressaca terrível, meu marido com um bom anfitrião pediu para ele entrar, minha cunhada levantou na hora incomodada com a presença do nosso patrão, Luana não sabe disfarçar quando algo à incomoda.
– O que é isso, Luana? Não é educado sair assim, o que o capo vai pensar?
– Desculpe, mama, não foi a minha intenção ser sem educação!
Bernardino pode até estar de ressaca mas sabe que falou demais ontem, Luana é uma mulher muito transparente em relação ao que sente com certeza ele notou o incômodo que a presença dele causa à ela.
– Não repreenda a menina, mama Emília, infelizmente o dever nos chama e não vou poder ficar muito tempo apenas vim buscar Tomás para irmos juntos para o galpão.
Luana nem sequer olhou na direção dele, o que com certeza deixou Bernardino bem chateado. Mas o que ele esperava? Minha amiga não é como as namoradas mundanas e putas ordinárias que ele está acostumado pelo contrário, Luana é íntegra e muito correta, se não gosta de algo ela não finge apenas para agradar.
– Papa, papa!
Melina começou a chamar pelo pai indo para o colo dele beijando todo rosto de Tomás com devoção, Bernardino ficou olhando aquela cena admirado com tudo que via, deve ser triste para ele não ter uma família mas é escolha dele não ter, prefere perder seu tempo com mulheres que não querem nada sério com ele.
– Amor do pai, vai cuidar da sua mãe até eu voltar?
Ela começou à rir enquanto Tomás fazia cócegas nela, olhar meu marido com nossa filha fazia tudo que passei até chegar aqui valer à pena.
– Peço desculpas por atrapalhar o momento mas precisamos ir, Tomás.
– Sim, senhor!
Quando ele me abraçou senti como se o mundo fosse só meu e dele, ninguém estava ali na sala para nos atrapalhar apenas estávamos eu, Tomás e nossa pequena em nossa bolha de amor e família. Sei que nada poderia destruir o amor que nos unia só estando ali com ele.
– Cecília, amo você, quando começar a sentir saudades de mim estarei de volta, meu amor!
Aquela despedida era à primeira que causava um grande aperto no meu coração diferente das outras vezes, sentia que algo muito ruim iria acontecer mas não sabia o que era, não sabia se era uma espécie de aviso, pressentimento ou premonição apenas sentia que Tomás não deveria ir. Se pudesse teria evitado a partida dele mas não poderia fazer nada, quando Tomás passou pela porta de nossa casa o pressentimento horrível que não deveria ir ficava mais forte.
Durante o dia todo tentei disfarçar minha agonia mas foi impossível, Melina ficou com a vó e a tia durante o dia enquanto eu trabalhava na mansão Bernardino, mesmo tentando ocupar minha mente foi muito difícil não sentir aquela sensação ruim pois algo de muito errado estava acontecendo dentro de mim com se fosse uma premonição.
Por volta das 18:00 fui para casa esperando por Tomás e sua chegada, as horas não passava e por mais que tentasse distrair minha cabeça com outra coisa não conseguia, foi quando minha bebê veio até mim pedindo colo logo depois segurando meu seio direito querendo mamar.
Apenas dei meu peito à ela olhando fixamente a porta esperando por Tomás mas a cada hora que se passava mas desesperada eu ficava, Luana e minha sogra perceberam meu desalento e tentaram tirar esse peso que ocupo o meu peito mas sem sucesso. Até que as 00:00 escutei uma movimentação no jardim, vários soldados descendo dos carros segurando alguns outros que pareciam estar feridos, naquela hora tanto mama Emília como Luana e minha nenê já estavam dormindo, em um momento de total desespero fui correndo em direção à aqueles soldados perguntando por meu marido mas a cada expressão desolada que via mas tinha certeza de que algo muito ruim tinha acontecido, vi Sérgio carregando o senhor Bernardino nos braços, nosso patrão parecia ter levado um tiro no braço e na perna mas naquele momento sabia que Sérgio não iria mentir para mim, ele é o melhor amigo de Tomás sempre o ajudando desde do começo que chegamos pra aqui.
– Sérgio, onde está meu marido?
– Cecília, preciso que fique calma, por favor, Tomás foi um bom soldado até o fim, mas ele não está nada bem.
Foi quando vi um dos soldados tirando Tomás de dentro do carro, ele sangrava muito, fui até meu marido passando por todos como uma louca. Precisava ficar perto dele, sei que ele precisa de mim ao seu lado.
– Marido, o que fizeram com você? Por favor, fica comigo, você prometeu que ia voltar para mim vivo!
– Eu... sinto.... muito, meu amor, prometi mas.... não consegui...
Minhas mãos estavam sujas do sangue do meu amor, do único homem que foi capaz de me amar na vida, porque ele estava indo embora da minha vida? Isso não é justo!
– Tomás, fica comigo eu te imploro, não morra, eu te amo tanto, meu amor, porque está me deixando?
– Escuta.... eu te amo mas não vou aguentar.... cuida da nossa filha, da minha mãe e de Luana! Te amo para sempre, Cecília!
Beijei os lábios do meu amor pela última vez, Tomás morreu em meus braços enquanto tentava entender o porque disso estar acontecendo com ele, Tomás não merecia morrer! Era um homem bom e honesto, disposto à tudo para servir a máfia, tanto que acabou morrendo por causa dela. Quando minha sogra e Luana viram Tomás morto entraram em desespero, só conseguia pensar na minha filhinha e no que havíamos perdido, enquanto ouvia os choros e gritos delas fui em direção da minha casa olhando cada canto daquele lugar que lembrava tanto meu amor, aqui é o nosso lar, o lugar que escolhemos para viver e ser feliz mas agora sem meu Tomás nada fazia sentido.
Vou até o quarto da minha pequena percebendo que ela estava acordada, não sei bem se ouviu a movimentação ou apenas acordou como todas as noites como todo bebê da sua idade mas agora isso não tem importância.
– Vem cá na mamãe, meu amor!
Peguei ela no colo olhando o porta retrato da nossa família sentindo um vazio imenso no peito por saber que agora somos só eu e minha menina. A vida não era justa para mim pois até o homem que amei foi tirado de mim sem que pudesse fazer nada para evitar, sabia que não podia mudar o que Tomás foi criado para ser mas queria tanto ele ao meu lado.
– Melina, minha pequena agora somos só você e eu!
– Papa?
Naquele momento comecei a chorar com minha pequena no colo talvez de algum jeito ela também sentia que havia acontecido algo com o pai pois seus pequenos olhos se encheram de lágrimas silenciosas como as minhas, Tomás morreu deixando um buraco no meu peito que jamais poderá ser preenchido. Meu amor morreu!
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Cecília - Entre o amor e a dor (Concluído)
RomanceDesde de criança, Cecília foi criada para um único propósito que era ser uma acompanhante de luxo mas sua vida muda drasticamente quando em um leilão é vendida para Dário Albertini que acaba se torna seu grande amor e maior algoz. Dário Albertini n...