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Fiquei lá no quarto sentada no chão enquanto minha filha adormecia em meus braços, tentava manter a sanidade em meio a toda aquela tragédia mas a cada vez que fechava os olhos lembrava do corpo do meu marido coberto de sangue perdendo a vida em meus braços.

Minha sogra e Luana choravam sem parar, elas não tinham condição nenhuma de resolver nada ou agir diante de tudo aquilo, de algo sabia meu marido merecia um velório decente e um enterro digno, tive que tirar uma força de onde não imaginava que tinha para cuidar do meu amor como ele merecia.

– Luana e mama, sei que estão sofrendo mas preciso que fiquem com Melina, preciso cuidar do meu Tomás, ele merece nosso amor e cuidado até no último momento. Está doendo muito mas diante do estado do senhor Bernardino creio que ele não poderá fazer muito por nós.

Tudo que não queria estava acontecendo, todas as noites orava, suplicava e rezava à Deus para ele não levar meu amor de mim mas é como ouvi uma vez nosso Senhor quer os bons ao seu lado por isso Tomás se foi. A sala da mansão Bernardino parecia um campo de guerra cheia de homens feridos e pessoas correndo de um lado para o outro tentando ajudar os homens. Fui em direção do escritório de Bernardino aonde ele era atendido pelo médico da família, quando ele me viu pediu para o médico e todos no escritório saírem, antes que ele falasse qualquer coisa me antecipei.

– Não quero saber como foi e por qual razão, meu marido sabia de todos os riscos que corria, apenas tenho dois pedidos para senhor: entregue o corpo do meu esposo, preciso dar à ele um velório e enterro dignos como ele merece, e quero saber quem fez isso com vocês!

– Cecília, seu marido foi um dos meus melhores soldados! Um homem íntegro que morreu para defender nossa causa, sinto muito por tudo que houve. Estávamos felizes por finalmente termos concretizado o contrato com os colombianos mas alguns afiliados aos Tolentino entraram em confronto direto conosco antes de sairmos do galpão, Tomás nos defendeu até o fim mas infelizmente ele foi atingido perdendo a vida para me proteger, você terá o corpo do seu marido para poder prestar a última homenagem à ele bem como o nome do homem que armou a emboscada contra nós, os colombianos também querem à cabeça do desgraçado. Ele é primo dos Tolentino, Gian Tolentino é seu nome!

Bernardino não era o capo da família Albertini atoa, ele sabia muito bem quem tinha feito aquela emboscada com certeza também deve saber onde encontrá-lo.

– Nem você, nem os colombianos vão matar esse homem, quem vai matá-lo sou eu!

– Cecília, não se preocupe com isso, seu marido será vingado, não quero que suje suas mãos com aquele verme maldito, já estamos à procura do filho da puta quando encontrarmos ele vai se arrepender de ter entrado no nosso caminho.

Apesar da dificuldade em se levantar Bernardino veio até mim segurando minhas mãos com firmeza, tentando passar conforto para mim naquele momento tão difícil.

– Senhor Bernardino, o respeito e tenho pelo senhor um grande apreço mas não me impeça de tirar a vida do maldito que destruiu a minha família. Deixando uma mãe sem seu filho, minha cunhada sem o irmão, uma menina órfã e uma mulher viúva, o senhor vai passar todos os dados dessa desgraça que matou meu marido ou deu à ordem, vai dar meios para que possa ficar próxima dele e o resto pode deixar comigo! Não negue isso à mim, Tomás era o amor da minha vida e o pai da minha filha, ele merece ser vingado mas quem vai fazer isso sou eu!

A vingança é minha, não vou deixar que ninguém tire isso de mim. Gian Tolentino vai se arrepender do dia que nasceu, vou ter a minha vingança custe o que custar.

– Tudo bem, Cecília! Darei o que quer mas enterre seu marido, tenha seus sete dias de luto como é esperado de uma viúva da família depois lhe darei os meios para matar o maldito que fez a emboscada contra nós, terá sua vingança com o sangue daquela escória!

Naquele momento só conseguia pensar no meu amor, Tomás morreu pela família e por ele vou matar o desgraçado que o tiro de mim, nunca pensei que no meio de tanta dor e sofrimento pudesse imaginar que seria capaz de agir assim mas não suportou pensar que por causa desse maldito minha Melina não vai ter um pai, e meu marido não estará comigo mas jurou que Gian Tolentino irá pagar muito caro por ter atravessado o meu caminho.

Olhar o corpo sem vida do meu marido daquele jeito foi horrível mas o pior era saber que ele não iria ficar comigo nunca mais. Ele estava em um dos quartos ainda com aquela roupa suja de sangue mas fiz questão de limpá-lo e trocar sua roupa pela que ele mais gostava, todas as despesas com velório e enterro foram pagas por senhor Bernardino, mesmo assim quis estar ao lado de Tomás até o fim.

Lembro da primeira vez que confessou seu amor por mim, foi tão lindo a declaração que fez e a aliança nova que comprou para mim mas agora tudo ficará em meu coração e mente como uma memória boa de algo lindo que vivi. Peguei a aliança em seu dedo colocando em meu dedo, ela era um pouco grande para mim mas sempre usaria ela como lembrança do meu amor e do nosso casamento. Mama Emília foi a primeira à ver o filho no caixão, juro que queria poupá-la daquela dor mas nem eu conseguia tirar o sofrimento de dentro de mim.

– Foi assim também com meu Olimpo, eles tiraram meu amor de mim agora levaram meu menino também!

Ela chorava muito enquanto acariciava o rosto do filho, meus olhos já não tinham lágrimas para chorar mesmo assim foi impossível não sofrer com aquela cena, Luana olhava o nada com as lágrimas escorrendo em seu rosto.

Minha filha em meus braços olhava o caixão sem entender nada mas o pior foi quando ela percebeu quem estava lá, Melina começou a chamar o pai com a mão como se ele pudesse acordar com aquele ato mas ele nunca mais iria pegá-la no colo novamente, resolvi sair para fora da mansão não suportava mais ver Tomás morto dentro daquele maldito caixão.

– Cecília, meus mais sinceros sentimentos, sinto muito pelo que houve! Seu marido foi um dos meus melhores amigos, ele fará muita falta.

– Sérgio, agradeço pelos préstimos mas preciso de um favor seu, sei que atira muito bem inclusive treinava com meu marido portanto quero que me ensine a atirar.

Precisava aprender para poder vingar meu marido, nunca havia pegado em uma arma mas para poder matar o infeliz maldito precisava aprender.

– Cecília, não concordo com essa ideia até comentei isso com senhor Bernardino. Tomás não ia querer isso!

– Tomás se foi por causa desse desgraçado, não é justo negarem a mim a chance de ficar frente à frente com o mandante do atentado contra meu marido. Pode até pensar que sou frágil mas não tem noção do que já passei na vida portanto tenha consideração comigo e me deixei matar o homem que tirou o pai da minha filha.

Sérgio olhou para mim receoso mas ele sabia que se não ensinasse outro faria isso, não importava como ou de que maneira mas o culpado pela morte do meu Tomás vai pagar muito caro. 

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Cecília - Entre o amor e a dor (Concluído)Where stories live. Discover now