Capítulo Quarenta e Seis

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Jennie Kim

Lisa dormiu na sala, forrou um lençol no chão e dormiu por lá mesmo. Minha cama já havia sido montada. Eu não consegui dormir. Não consegui sequer fechar os olhos por momento nenhum. Estava pensando em muitas coisas. Inúmeras.

Levei minha mão até meu pescoço, onde as marcas estavam. Fiz uma cara de choro quando encostei o dedo próximo ao lado esquerdo do meu pescoço. Essa parte doía mais do que as outras, era um ponto que me fazia querer gritar quando eu encostava.

Respirei fundo tentando controlar meus batimentos cardíacos e afastei minha mão rapidamente.

Eu não conseguia lembrar do rosto. Não conseguia lembrar de nenhum detalhe ou de nada que me fizesse reconhecer a pessoa que fez isso comigo.

Eu só me lembro que sua mão era pesada. Era alto. Era muito alto.

Apertei os olhos me remexendo na cama. Estava com frio. Estava com medo. Acima de tudo, medo. Medo de alguém que eu não conheço. Medo de uma  pessoa que eu não sei se é meu melhor amigo, ou um estranho na rua. Medo de pensar, que eu podia mesmo estar morta, que eu podia estar bem pior do que estou. Foram apenas alguns hematomas. Mas, de certa forma, o que mais dói é querer que Lisa me proteja. Eu só preciso do colo dela agora. Só preciso do seu abraço e que ela me faça acreditar que tudo ficará bem.

As janelas estão fechadas, a porta trancada. Mas eu não consigo olhar para o banheiro. Não consigo chegar se tem algo embaixo da cama, ou se o closet está aberto porque eu esqueci de fechar, ou alguém entrou nele e achou mais fácil deixar assim para quando for sair e me atacar.

São paranoias. Delírios.

Contudo,e se de certa forma, for tudo verdade? E se alguém entrar aqui, agora? Lisa está longe demais. A porta. Por que eu tranquei a porta?

Respirei fundo, o ar de meus pulmões pareciam se esvaziar. Merda. Eu nunca deixei que alguém me machucasse. Nem mesmo minha mãe me batia, ela nunca me encostou a mão com agressividade. E agora, alguém que não tem nenhum direito de fazer algo assim, fez.

Me sentei abruptamente tentando controlar minha respiração. Meu peito subia e descia com uma velocidade anormal.

Eu precisava de água. Precisava beber água.

Me levantei devagar e corri até a porta para abri-la o mais rápido possível, assim que abriu tratei de bater ela e descer as escadas com pressa.

Lisa acabou acordando com o barulho, e quando terminei de descer, ela me encarou com os olhos meio abertos e os fios de cabelos bagunçados.

— Aconteceu alguma coisa? — Lali me olhava preocupado.

Ignorei sua pergunta e tentei fechar a cara o máximo que podia. Não vou bancar uma de donzela indefesa.

— Onde você vai, Kim? — Ela levantou suspirando irritada e começou a me seguir.

— Nossa que inferno! Nasceu grudado comigo porra? Eu só vou beber água merda!

Abri a torneira e fiz uma pequena concha com as mãos. Bebi a água rapidamente. Eu não tenho energia para ligar a geladeira,ah,e eu não tenho uma geladeira. Eu preciso comparar muita coisa ainda, eu nem sei porque me mudei!

É mais fácil um hotel. Amanhã cedo, vou mandar Jisoo procurar um ótimo hotel para eu ficar até que tudo esteja perfeitamente organizado na minha nova casa.

— Eu gostava da antiga casa, essa é tão... clara. E não tem os quadros, porque não tem os quadros?

— Não gosto mais deles. — Joguei um pouco da água no rosto. Me perdi encarando-a descer pelo ralo. Eu não estava mais com tanto medo, a presença de Lisa, próxima a mim, me acalmava. — Joguei todos fora.

Yes, Mommy | JenlisaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora